O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que “os ataques do presidente Bolsonaro aos governadores e a forma desrespeitosa com que ele se dirigiu a alguns deles, entre os quais o Rui Costa [PT-BA], o Camilo Santana [PT-CE] e Wilson Witzel e a mim mesmo, demonstram o desprezo dele pelo pacto federativo e a falta de compromisso democrático de governar com todos”.
“O resultado disso é que os governadores do Brasil nunca estiveram tão unidos. Deixaram de lado diferenças partidárias, ideológicas, e caminham unidos. Não vou dizer 100%, mas majoritariamente”, declarou em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
Para ele, “o Brasil não pode ser governado com ódio”.
Doria revelou que há “preocupação com o estímulo ao miliciamento das polícias” após postura do governo Bolsonaro com o motim de policiais no Ceará.
Para o tucano, a greve dos policiais militares no Ceará, durante a qual o senador Cid Gomes (PDT-CE) foi baleado no peito pelos amotinados, abriu um precedente perigoso.
“O governo conduziu muito mal o processo da GLO [Garantia da Lei e da Ordem]”, que é o envio de tropas para ajudar o estado. “Nessa insubordinação de parte da PM do Ceará, o tratamento foi de quase indiferença”, disse Doria
“Só houve uma reação quando o governo ameaçou não renovar a GLO, e aí os governadores disseram que iriam enviar tropas de seus estados para auxiliar o Ceará. É preciso governar o Brasil, não a Aliança [pelo Brasil, partido que Bolsonaro está tentando criar], ou para os que lhe são simpáticos e lhe adulam”.
Quando Jair Bolsonaro fez a ameaça, João Doria fez parte do grupo de governadores que ofereceu policiais militares de seus estados para ajudar o Ceará. Os governadores do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), e do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), da Bahia, Rui Costa (PT), também ofereceram.
DEMOCRACIA E ECONOMIA
Para João Doria, “o afastamento do Poder Executivo do Legislativo e do Judiciário, o estímulo a manifestações contra o Congresso não contribuem para a estabilidade do país e para o processo democrático”.
O governador avalia que a economia “foi totalmente prejudicada por uma índole política conturbada, agravada por ódios, ataques, distanciamento do Congresso, relações tumultuadas com o Judiciário, inadequadas com a imprensa, tudo isso gerou um clima de conflagração no país e, claro, prejuízo à economia”.
“O PIB não vai crescer com comediante ridicularizando a imprensa, comentando o PIB”, comentou.
CORONAVÍRUS
O governador de São Paulo afirmou que Jair Bolsonaro “está ausente” na ação contra o novo coronavírus e “cometeu o equívoco de minimizar o efeito do coronavírus. Creio que ele estava um pouco desinformado”.
Bolsonaro disse que é “muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propala ou propaga pelo mundo todo”.
Dória argumentou que “a pandemia exige uma avaliação diária, com decisões diárias. O que você não pode fazer é prognósticos antecipados. Em saúde, você tem que trabalhar com pesquisa e informação, não com especulação”.
“A decisão de hoje pode ser revista amanhã. Neste momento, a minha obrigação é decidir baseado na medicina, não na política”, disse.
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