
Os ataques israelenses às instalações nucleares iranianas “podem levar à repetição da tragédia de Chernobyl”, afirmou o ex-presidente russo, Dmitry Medvedev.
“Todos, até mesmo o ministro da Defesa israelense, com sua declaração em voz alta sobre o destino de Khamenei, devem entender que os ataques a instalações nucleares são extremamente perigosos e podem levar a uma repetição da tragédia de Chernobyl”, disse Medvedev, que atualmente é vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, em um post nas redes sociais.
A advertência se segue a relatos, na mídia, de que os EUA estão para decidir se bombardeiam a instalação nuclear subterrânea iraniana em Fordow, construída no interior de uma montanha, com a maior bomba anti-bunker não nuclear de que Washington dispõe, a GBU-57, de quase 14 toneladas, enquanto a Casa Branca dá como prazo para a definição “duas semanas”.
A observação de Medvedev sobre “todos, até mesmo o ministro da Defesa israelense” é uma referência, ainda, à promessa dele de eliminação do chefe de Estado iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, que, conforme insistiu o genocida, “não pode continuar existindo”. (Além, obviamente, da declaração do presidente Trump de que “sabe” onde Khamenei está e que “por enquanto” não pensa em matá-lo).
Desde o dia 13, Israel vem bombardeando as instalações nucleares iranianas – aliás, instalações sob a mais rígida fiscalização da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU – sob a alegação, repetida há 30 anos pelo primeiro-ministro Netanyahu, de que o Irã está “prestes” a obter “a bomba atômica”. Israel já bombardeou as instalações de Natanz, Isfinhan e Khondab, além de assassinar líderes militares e cientistas iranianos.
A porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, enfatizou que esses “ataques diários, várias vezes ao dia, contra as instalações civis pacíficas de infraestrutura nuclear, que estão sob controle de inspetores da AIEA” por Israel colocam o mundo a “milímetros do desastre”. A declaração foi feita durante a Conferência de São Petersburgo, que se encerrou na sexta-feira (20).
Ela tem salientado que, como Chernobyl e Fukujima mostraram, radiação “não precisa de visto nem passaporte, e não reconhece fronteira”.
Anteriormente, ela havia questionado as alegações de Israel de que “tem provas de que o Irã está a um passo de criar armas de destruição em massa”, pretexto usado para violar a lei internacional de um modo geral, e em particular, a proibição a ataques a instalações nucleares pacíficas, determinada expressamente no Tratado de Não Proliferação. “Por que [os israelenses] não podem simplesmente mostrar os documentos?”, acrescentou.
Na quinta-feira, o senador democrata que é vice-presidente da Comissão de Inteligência do Senado, Mark Warner, afirmou que a avaliação de março das agências de espionagem dos EUA de que o Irã não está desenvolvendo um programa nuclear militar e não está a dias de obter uma bomba nuclear, informada ao Senado em março pela diretora de Inteligência de Trump Tulsi Gabbard, teve a validade reafirmada esta semana. Apesar de Trump dizer que “não importa” o que ela diz.
Neste sábado, a Organização de Cooperação Islâmica, que congrega 57 países, está reunida visando apoiar o agredido Irã. Na sexta-feira, milhões de iranianos foram às ruas contra a agressão de Israel apoiada por Washington e em defesa do país e de sua soberania.
Ainda na sexta-feira, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, participou da sessão de emergência do Conselho de Segurança da ONU sobre a agressão ao seu país, em que destacou que “nossas instâncias nucleares pacíficas também foram alcançadas, apesar de serem monitoradas completamente pela Agência Internacional de Energia Atômica e apesar do fato de que os ataques a essas instâncias são absolutamente proibidos pela lei internacional”.
E por uma resolução do CS da ONU, a de número 487, aprovada por unanimidade em 1981, quando Israel bombardeou um reator iraquiano.
Araghchi também se reuniu com os chanceleres do chamado E-3 (França, Reino Unido e Alemanha). NO CS, a China manifestou seu apoio à declaração conjunta dos ministros das Relações Exteriores de 21 países árabes e islâmicos que pede um cessar-fogo, retomada das negociações sobre a questão nuclear iraniana e pela paz duradoura na região.
Durante a semana, os presidentes Xi Jinping e Vladimir Putin conversaram, por telefone, sobre a situação no Oriente Médio e os esforços para uma desescalada.
Mas balões de ensaio, na mídia imperial, sobre Trump “avaliando” o uso contra a instalação de Fordow de uma bomba nuclear “tática” B61-1, já que haveria dúvidas sobre a eficácia da GBU-57 não nuclear, levaram a Federação dos Cientistas Americanos, mais conhecida por seu “Relógio do Juízo Final”, a advertir, através de Hans Kristensen, diretor do Projeto de Informação Nuclear, que “a precipitação radioativa seria intensa”. Apesar de designada como “tática” porque não é termonuclear (bomba-H), a B61 é 10 vezes mais potente que as usadas contra Hiroxima e Nagasaki.
Eli Clifton, um conselheiro senior do Quincy Institute for Responsible Statecraft, se disse atônito: “Os EUA estão considerando usar uma arma nuclear pela primeira vez desde Hiroxima e Nagasaki, por que nosso Estado cliente assassinou o negociador iraniano e começou uma guerra?”. Sobre isso, respondendo a um repórter, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que seria “um desenvolvimento catastrófico, mas há tantas especulações que, de fato, é impossível comentar sobre elas”.
Após o ataque traiçoeiro, Israel vem experimentando um pouco de seu próprio veneno, com os mísseis hipersônicos iranianos atingindo alvos militares em Tel Aviv, Haifa, Jerusalém Ocidental e Beer Sheva, acabando com os mitos da “invencibilidade sionista” e do “Iron Dome inexpugnável”, paralisando a economia e fazendo a população ter de correr para abrigos – este, um mimo que o regime genocida de Netanyahu não concedeu aos palestinos de Gaza.