Partindo dos mais recentes dados da produção industrial, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) conclui que “depois de um primeiro semestre recessivo, a segunda metade de 2019 começou também no vermelho: -0,3% em julho frente a junho”.
“A indústria caminha para um ano sem crescimento”, afirma a entidade em carta divulgada na segunda-feira (9) detalhando que, para além das questões sazonais, o setor produtivo patina no limbo.
“Diante da sequência de meses frustrantes, com variações negativas em 5 dos 7 meses com dados do IBGE, na série com ajuste sazonal, a indústria caminha para um ano sem crescimento, mesmo que haja alguma melhora do quadro daqui até dezembro”, diz o IEDI.
De acordo com o documento, a análise é que o retrocesso industrial se aprofundou na indústria de transformação, ou seja, na de maior complexidade.
“Embora problemas localizados no ramo extrativo, decorrentes de paralisações em unidades produtivas e desdobramentos do desastre de Brumadinho, tenham contribuído muito para isso, há alguns meses já não têm mais os mesmos efeitos negativos do que antes. Nos últimos três meses, por exemplo, o retrocesso industrial se deve exclusivamente ao ramo manufatureiro, que registrou -0,8% em maio, -0,9% em junho e -0,5% em julho”, diz o IEDI. Esses dados também são sintoma de que a queda na indústria é generalizada.
“Em julho, 42% dos 26 ramos industriais acompanhados pelo IBGE ficaram no vermelho, incluindo atividades tanto exportadoras como mais associadas ao mercado doméstico, a exemplo de alimentos (-1,0% ante jun/19 com ajuste); têxteis (-1,3%) e madeira (-2,2%), outros produtos químicos (-2,6%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-2,6%) eletrônicos e informática (-3,3%) e bebidas (-4,0%). Sintoma da demanda interna fraca e da desaceleração do comércio internacional”.
Se a situação externa não anda fácil, especialmente com a crise argentina e os embates entre EUA e China, no contexto interno o consumo de bens industriais se arrefece pela crise que se aprofunda em 2019.
“No contexto interno, desemprego elevado, baixo crescimento da massa de rendimento das famílias, incertezas e ruídos de comunicação produzidos pelo governo, entre outros fatores, também funcionam como limitadores importantes do crescimento industrial”, opina o IEDI.
Segundo a pesquisa do IBGE, a retração no acumulado do ano chega a -1,7% frente a igual período do ano anterior (até julho). Diante disso, o Boletim Focus do Banco Central (BC) passou a projetar queda de -0,29% para a produção industrial em 2019.
PRISCILA CASALE