
Com juros nas alturas, vendas e investimentos recuam
De acordo com o Sensor FIESP, pesquisa de conjuntura econômica da entidade paulista, a atividade industrial do estado de São Paulo encerrou o mês de fevereiro de 2025 com um resultado de 47,2 pontos, ficando abaixo da linha de referência de 50 pontos que marca as percepções de avanço (>50) ou recuo (<50).
Este dado é não apenas inferior ao de janeiro deste ano, 48 pontos, como também ao de fevereiro do ano passado, então 49,1 pontos. A queda mais expressiva foi no indicador de vendas, registrado com 42,8 pontos e 11,2 pontos menor do que o resultado de janeiro (54,0 pontos), já considerando os efeitos sazonais.
Os investimentos fecharam o mês em 49,9 pontos. Apesar de avançar com relação a janeiro de 2025 (46,7), este resultado é inferior ao de fevereiro de 2024 (51,3). Os responsáveis pelo recuo são os suspeitos usuais, os juros altos. A continuidade e a intensificação do aumento dos juros, tendo em fevereiro atingido a casa dos 13,25% a.a – o céu é o limite! – já refletem seus efeitos perversos sobre a indústria.
A pressão pela redução dos juros vem transbordando dos setores sociais e hoje até mesmo o empresariado pauta ativamente a questão. Durante um evento promovido pela FIESP, em janeiro deste ano, a empresária Luiza Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, questionou o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, sobre a condução da política monetária brasileira. Para ela, os juros altos estão dizimando as pequenas e médias empresas, principais geradoras de emprego do segmento varejista.
Na mesma linha, a FIESP argumenta que “a intensificação do aperto monetário, a piora das condições financeiras e o menor impulso fiscal devem dificultar a continuidade da recuperação do setor [industrial]”.
O buraco fica mais embaixo quando se nota que os ramos industriais que puxaram o crescimento da indústria em 2024 são altamente sensíveis às condições de financiamento, conforme mostra o IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), sendo eles eletrônicos e informática (+14,7%), veículos (+12,5%), máquinas e aparelhos elétricos (+12,2%), outros equipamentos de transporte
(+10,4%), móveis (+9,5%).
Se, por um lado, indicadores como o PIB (3,1%, 3º tri/2024) e desemprego (6,2%, 4ºtri/2024) satisfazem avaliações otimistas sobre os rumos da economia brasileira, por outro, a manutenção dos juros nas alturas (13,25% a.a – descontando a inflação, é a maior taxa real do mundo), o aumento da inflação (4,56% a.a), com destaque para os alimentos, a sanha desmedida de Haddad pelo ajuste fiscal e as quedas na atividade industrial dão contornos sombrios para 2025.
Os custos para consolidar resultados macroeconômicos “estáveis”, na direção do teto da meta de inflação e do resultado fiscal, implicam no desaquecimento da economia, ou seja, na carestia para o povo e no desestímulo do investimento para a indústria. Nem tudo são flores, mas ao menos a FIESP e o IEDI já apontaram o caminho das pedras para trilharmos uma trajetória alternativa.
LUCAS SANTOS MARÇAL