“São gerações de famílias palestinas enterradas em valas comuns, crianças sem vida e em pedaços”, denunciam manifestantes ao iniciar o protesto em frente à Casa Branca para exigir que Biden pare de apoiar a continuidade do massacre
Artistas, parlamentares, ativistas de direitos humanos, muitos deles integrantes da comunidade judaica norte-americana, decidiram iniciar uma greve de fome de cinco dias nesta segunda-feira (27) para exigir o cessar-fogo com o fim do bombardeio de Israel contra a Faixa de Gaza.
O protesto também denuncia o apoio extra de US$ 14,3 bilhões recentemente liberado pelo governo Biden como reforço militar em meio à carnificina. A injeção é além dos US$ 3,8 bilhões em assistência militar anual que Israel recebe dos EUA.
Para “deter a matança”, pessoas que trabalham no governo dos EUA também decidiram se somar ao protesto contra a “guerra retaliatória” de Israel que já assassinou no enclave sitiado, tão somente desde 7 de outubro, mais de 14.850 palestinos, mais da metade mulheres e crianças e destruindo grande parte da infraestrutura local.
“Quantos mais palestinos devem ser mortos antes de pedir um cessar-fogo, presidente Biden? Não podemos esperar mais”, afirmou Iman Abid-Thompson, organizador da Campanha dos Estados Unidos pelos Direitos Palestinos (USCPR). Segundo Iman, “esta é a maior perda de vidas e devastação da história do povo palestino”. “Embora nos congratulemos com as 48 declarações de apoio de membros do Congresso que apelaram a um cessar-fogo total, não é suficiente. O tempo é essencial”, alertou.
Diante do quadro, especialistas das Nações Unidas alertaram que os palestinos se encontram “em grave risco de genocídio”. Mas o porta-voz militar israelense justifica o morticínio: “A área ao norte da Faixa de Gaza é uma zona de combate, e é proibido permanecer lá”.
MAIS DE 260 ARTISTAS ASSINARAM CARTA A BIDEN PELO FIM DO MORTICÍNIO
Uma das mais de 260 artistas que assinaram a carta ao presidente e ao Congresso pelo fim do morticínio, Cynthia Nixon. ex-candidata ao governo de Nova Iorque e estrela da série Sex and the City dirigiu-se à concentração de manifestantes: “Israel matou mais civis numa pequena faixa de terra do que foram mortos em 20 anos de guerra em todo o país do Afeganistão”.
Como mãe de crianças judias cujos avós são sobreviventes do Holocausto, lembrou Cynthia Nixon, “fui convidada por meu filho a usar minha plataforma para projetar o mais alto possível que ‘nunca mais’ significa nunca mais para todos”.
“Como americana, estou aqui para exigir que nosso presidente pare de financiar o assassinato em massa e a fome de milhares de palestinos inocentes, a maioria dos quais são crianças e mulheres”, enfatizou Cynthia.
“Fazemos greve de fome não porque queremos, mas porque fomos forçados por este presidente e pela política externa do nosso governo. Fazemos greve de fome porque os palestinos foram questionados na vida e na morte, e sua experiência foi apagada”, sublinhou Zohran Mamdani, deputado estadual de Nova Iorque, reiterando o significado da mobilização.
Ex-candidata ao Congresso de Nova Iorque, Rana Abdelhamid, apontou que “Israel deixou bem claro que não tem intenção de interromper seus bombardeios a Gaza, desde que conte com o total apoio do governo dos EUA”. Por isso, rechaçou, “não permitiremos que Biden continue financiando impunemente o assassinato e a fome de palestinos. Precisamos de um cessar-fogo permanente para salvar vidas, e precisamos disso agora”.
“ISRAEL NÃO POUPA O ASSASSINATO NEM DE BEBÊS EM INCUBADORAS”
“Nosso governo não deveria apoiar o assassinato em massa de dezenas de milhares de palestinos em Gaza. Ninguém é poupado pelas bombas de Israel: nem jornalistas, nem médicos, nem crianças e bebês em incubadoras”, acrescentou a diretora da Associação Adalah de Justiça (AJP), Sumaya Awad.
De acordo com a escritora e advogada palestino-americana Sumaya Awad, os Estados Unidos são “cúmplices” da violência contínua praticada contra os palestinos, cujo conflito também sofre ramificações domésticas. “Sou palestina e sou nova-iorquina. Sou americana e mãe de um filho de 16 meses, e estou em greve de fome para ilustrar ao nosso governo apenas uma lasca, um fragmento do que os palestinos estão suportando em Gaza todos os dias”, ressaltou.
Na avaliação de Rana Abdelhamid, uma das organizadoras do ato, a retórica desumana está normalizando o preconceito contra árabes e palestinos, e a morte de palestinos, citando como exemplo o tiroteio do último sábado (25) contra três estudantes palestinos. “Tenho plena consciência de que a violência e a retórica antipalestina que estamos vendo no exterior também estão nos impactando aqui nos Estados Unidos. Essas duas coisas estão intimamente ligadas”, apontou.
Entre outros apoiadores da greve se encontram as organizações Campanha dos EUA pelos Direitos Palestinos; Voz Judaica pela Paz; Comitê Antidiscriminação Árabe-Americano; Socialistas Democráticos da América; Instituto para a Compreensão do Oriente Médio; a organizadora e ativista palestina Linda Sarsou; e os deputados estaduais Sam Rasoul (Virgínia), Madinah Wilson-Anton (Delaware) e Mauree Turner (Oklahoma).