
“A ciência está em crise na Argentina. Os salários estão muito abaixo dos que recebem os cientistas nos países vizinhos”, denuncia Dr. Guillermo Durán, reitor da Faculdade de Ciências Exatas da Universidade de Buenos Aires
Milhares de cientistas, pesquisadores e bolsistas do Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Técnica (CONICET), junto com sindicalistas e professores, se manifestaram em protesto contra os cortes orçamentários e a crise que a comunidade científica vive atualmente na Argentina sob o governo Milei, com salários atrasados, falta de recursos para pesquisa e cortes de bolsas de estudo.
“Do estudo da pandemia à produção de alimentos, da história argentina à transição energética, das desigualdades sociais à nanotecnologia, da literatura à biomedicina: não há agenda de futuro sem ciência”, ouviu-se pelos alto-falantes nesta quarta-feira (28), nas escadarias do Centro Científico e Tecnológico de Buenos Aires, nas ruas do bairro de Palermo da capital argentina onde está localizado o Ministério da Ciência e Tecnologia,
Diante do ajuste e do esvaziamento promovido pelo governo Milei, o lema era “Ninguém se salva”.
“A ciência está em crise na Argentina. Os salários estão muito abaixo dos que se recebem nos países vizinhos. Não há financiamento para o CONICET, não há bolsas de pesquisa e há um desinteresse pelo sistema científico e tecnológico por parte das autoridades nacionais, que se recusam a dialogar”, explicou o Dr. Guillermo Durán, reitor da Faculdade de Ciências Exatas da Universidade de Buenos Aires (UBA), em declarações ao site Infobae.

QUEDA DE 40% NO PODER DE COMPRA DOS SALÁRIOS
No evento, diversas universidades — incluindo a Faculdade de Filosofia e Letras, a Faculdade de Ciências Sociais e a Faculdade de Ciências Exatas da Universidade de Buenos Aires (UBA) —, organizações sociais e pessoas físicas se pronunciaram na esplanada em frente ao Centro de Ciência e Tecnologia, destacando a falta de investimentos nesses setores, o que “compromete o desenvolvimento econômico, social e cultural do país, deixando a Argentina vulnerável aos desafios globais” e denunciando que “o financiamento está sendo negado a grupos de pesquisa, duas turmas de 800 pesquisadores selecionados por concurso estão sendo impedidas de entrar no CONICET”, bem como uma queda de 40% no poder de compra de salários e bolsas, com tendência a mínimas históricas.
“Não podemos comprar mais reagentes, não podemos comprar recipientes de vidro para amostras, não podemos socializar os aspectos mais cotidianos do nosso trabalho porque não há verbas suficientes, e os salários estão forçando muitos dos nossos colegas a migrar para o setor privado ou a outros países porque não conseguem continuar trabalhando. A situação é realmente terrível; sem um aumento salarial imediato, sem descongelar verbas, a ciência não pode mais se sustentar”, afirmou Francisco Gelman Constantín, membro do Conselho Interno do CONICET e da organização Jovens Cientistas Precários.
A mobilização de quarta-feira foi replicada em vários pontos do país onde o CONICET atua, como parte de uma estratégia nacional para destacar o esgotamento que o setor está enfrentando.
A maioria dos manifestantes apareceu usando trajes (feitos com materiais que iam de seus próprios macacões de trabalho a sacos de lixo) e máscaras: aquelas usadas contra gás lacrimogêneo, óculos de natação e máscaras faciais ressuscitadas.
INVESTIMENTO EM CIÊNCIA É DE APENAS 0,15% DO PIB
Segundo uma reportagem do jornal Página 12, desde o início do governo de Milei 4.148 trabalhadores do sistema científico perderam seus empregos. O ataque à ciência e às universidades públicas é uma das marcas programáticas do atual governo.
Um relatório do Centro Ibero-Americano de Pesquisa em Ciência, Tecnologia e Inovação (CIICTI) indica que o investimento em ciência na Argentina é de míseros 0,15% do PIB. Atualmente, o Brasil investe 1,2% do Produto Interno Bruto em pesquisa e desenvolvimento, percentual ainda abaixo dos 2,5% investidos pela China, por exemplo.
Durante o evento, representantes da Diretoria de Qualificação e Promoção do CONICET leram um documento que afirmava: “O que está em jogo é a continuidade de um modelo de produção de conhecimento reconhecido nacional e internacionalmente por sua qualidade, suas raízes territoriais e seu compromisso com a solução dos problemas do país em um contexto global. O atual governo está minando o país”.