Moraes foi claro ao falar sobre o assunto: “Não existe crime de golpe de Estado, porque, se tivessem dado o golpe, quem não estaria aqui seríamos nós para julgar o crime”. O crime está na tentativa de abolir a democracia pela força. Deu chabu no ato de Bolsonaro
O ministro Alexandre de Moraes foi preciso ao desmascarar a demagogia de Bolsonaro de que ele não teria cometido crime porque não houve golpe. Se ele tivesse obtido apoio nos altos mandos militares em sua empreitada fascista, não haveria julgamento algum, o golpe teria sido dado, teríamos uma ditadura e o próprio Moraes estaria na cadeia.
SERÁ PRESO POR TENTAR DAR GOLPE
O ministro do Supremo deixou claro, nesta segunda-feira (26), que Bolsonaro está sendo investigado e será preso por tentar abolir o Estado de Direito através de um golpe de Estado. O ministro também chamou a atenção do país e dos políticos de que não se deve brincar com o fascismo.
“Não existe crime de golpe de Estado, porque, se tivessem dado o golpe, quem não estaria aqui seríamos nós para julgar o crime. Quem dá golpe não é julgado. Por mais ridículo que pareça, faço esse esclarecimento porque são muitos os absurdos que se ouve”, argumentou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), responsável pelo inquérito que investiga o golpe.
Em sua palestra de inauguração do ano letivo na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da USP (Universidade de São Paulo), Moraes apresentou os panoramas sobre os ataques que a democracia vem sofrendo em várias partes do mundo, promovidos por grupos de extrema-direita.
“Em alguns países, os extremistas quando chegam ao poder atacam os pilares da democracia. (…) A imprensa livre — emparelhando as notícias verdadeiras com as fraudulentas —, colocam em dúvida a credibilidade do sistema eleitoral e, agora, não podem deixar aqueles que têm o papel de garantir o Estado Democrático de Direito, não podem deixar que eles tenham independência”, disse Moraes.
NÃO PODEMOS BAIXAR A GUARDA
“Nós não podemos nos enganar. Nós não podemos baixar a guarda… Não podemos dar um de [Kleber] Bambam contra o Popó — que durou 36 segundos.” “Nós temos que ficar alerta e fortalecer a democracia. Fortalecer as instituições e regulamentar o que precisa ser regulamentado”, completou.
O alerta de Moraes foi feito porque os fascistas em todos os lugares são contumazes em mentir e distorcer a realidade.
Bolsonaro, por exemplo, falou, durante o ato na Paulista, da minuta do golpe que foi encontrada na casa de seu ajudante de ordem. Agora, que ele viu que se complicou, sua defesa inventa que ele estaria falando de outra minuta, de 2023. Esta “nova” minuta simplesmente não existe.
Ele deu a prova que faltava à PF, de que ele sabia da existência do plano e que este plano estava por escrito. Falou da minuta para fortalecer sua cínica alegação de era legal o golpe. Disse que ao decretar o estado de defesa, ele estaria agindo dentro da Constituição. Mentira. Seu crime está exatamente em tentar decretar, pela força, o estado de defesa. E pior, sem nenhum motivo, a não ser sua derrota eleitoral.
TODO MUNDO VIU A CONFISSÃO DO CRIME
Não adianta agora tentar fingir que não houve a confissão. Todo mundo viu. Ele tinha ficado em silêncio no depoimento à PF, não quis abrir o jogo. Quando estava na rua, ficou inebriado pelos gritos fanáticos de seus seguidores e admitiu que estava no centro da trama golpista. O ato na Paulista, que eles esperavam que fosse uma demonstração de força, acabou virando uma grande complicação. Piorou de vez a situação de Bolsonaro perante a Justiça.
Ele confessou que leu a minuta do golpe. Defendeu a minuta. Isso era o que faltava à PF para incriminá-lo de vez. A Polícia Federal já decidiu incluir o discurso nos autos do inquérito.
É verdade que sua situação já estava bem complicada antes disso. A descoberta pela polícia do vídeo da reunião de 5 de julho de 2022, onde ele aparece defendendo abertamente que o golpe tinha que ocorrer antes das eleições, já era motivo para sua condenação à prisão. Agora, a PF tem o vídeo e a confissão da Paulista.
No vídeo, para convencer os presentes a aderirem ao golpe, Bolsonaro atacou os ministro do Supremo Tribunal (STF). “Alguém acredita em Fachin, Barroso e Alexandre de Moraes? Se acreditar, levanta braço. Acredita que são pessoas isentas, que tão preocupadas em fazer justiça, seguir a Constituição?”, indagou o golpista, dando a entender que as Forças Armadas poderiam agir. “Eles erraram [ao incluir as Forças Armadas]. Para nós, foi excelente. Eles se esqueceram que sou o chefe supremo das Forças Armadas?”, afirmou.
VÍDEO JÁ ERA PROVA DO GOLPE
“Alguém tem dúvida do que vai acontecer no dia 2 de outubro? Qual resultado que vai estar às 22h na televisão? Alguém tem dúvida disso? Aí a gente vai ter que entrar com um recurso no Supremo Tribunal Federal… Vai pra puta que o pariu, porra. Ninguém quer virar a mesa, ninguém quer dar o golpe… Ninguém quer botar a tropa na rua, fechar isso, fechar aquilo… Nós estamos vendo o que está acontecendo. Vamos esperar o quê?”, prosseguiu Bolsonaro.
“O nosso Supremo aqui é um poder à parte. É um super-supremo, ele decide tudo. Muitas vezes fora das quatro linhas. Não dá para gente ganhar o jogo com o pessoal atirando tijolo da arquibancada em cima dos jogadores nossos, com juízes que toda hora dá impedimento… É difícil a gente ganhar o jogo assim”, disse.
“Estão preparando tudo para o Lula ganhar”, acrescentou. “Nós não podemos, pessoal, deixar chegar as eleições e acontecer o que está pintado, está pintado. Eu parei de falar em voto impresso e eleições há umas três semanas. Vocês estão vendo agora que… eu acho que chegaram à conclusão. A gente vai ter que fazer alguma coisa antes”, afirmou.