
Milhares de pessoas participaram na noite desta quinta-feira (10) de uma manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, pedindo pela taxação dos super-ricos, o fim da escala de seis dias de trabalho por um de descanso (6×1), além da isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil.
O ato, convocado pelos movimentos sociais e partidos progressistas, também repudiou o ataque do presidente de Donald Trump contra o Brasil, ao ameaçar o Brasil com uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros que são exportados para os Estados Unidos.
Os manifestantes se concentraram em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp) e fecharam todas as pistas naquele quarteirão. Segundo o Monitor do Debate Político no Meio Digital da USP (Universidade de São Paulo), o ato da Avenida Paulista reuniu 15 mil pessoas.
Para a presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Manuela Mirella, a ameaça de Trump demonstra como ele e Jair Bolsonaro atua. “ Ambos seguem o mesmo manual golpista: ameaçam as instituições quando o povo não vota como eles gostariam”, disse.
“Enquanto o povo luta pra viver com dignidade, Trump resolveu atacar o Brasil com uma proposta de tarifa de 50% sobre as exportações, uma retaliação que escancara o incômodo de ver nosso país de pé, com voz ativa no mundo e relações sólidas como os BRICS”, destacou.
“O que está em jogo é um projeto. Um projeto de país que não se ajoelha diante de interesses imperialistas. Trump, assim como Bolsonaro, representa um modelo antidemocrático, que desacredita processos eleitorais, promove desinformação e governa com base no medo. Ambos seguem o mesmo manual golpista: ameaçam as instituições quando o povo não vota como eles gostariam”, pontuou Manuela.

Cartazes e slogans contrários ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, marcaram a manifestação. Um boneco com a cara do presidente dos EUA foi incendiado durante o protesto.
Trump ameaçou taxar em 50% os produtos brasileiros exportados para os EUA a partir de 1° de agosto, justificando as taxas pelo julgamento de Jair Bolsonaro (PL) pelo Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe de Estado e por decisões da justiça para que as chamadas Big Techs cumpram a legislação brasileira.
“O ato já tinha sido como convocado pela taxação dos super-ricos e agora o Trump adiciona mais esse elemento, que é essa taxação absurda provocada pelos bolsonaristas”, disse o deputado federal Rui Falcão (PT) durante a manifestação.
Em entrevista coletiva a jornalistas durante o ato, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) disse que a manifestação tomou outra dimensão após a ameaça de Trump. “É um ato em defesa do Brasil contra as agressões do Donald Trump e um ato em defesa do povo brasileiro”, ressaltou o parlamentar.
“Se o Trump está imaginando que o Brasil é uma ‘república de bananas’, ele tire o cavalinho da chuva. O Brasil é dos brasileiros. Já se foi o tempo em que o Brasil falava grosso com a Bolívia e fino com os Estados Unidos. Isso pode ser com Bolsonaro, que bate continência para a bandeira deles ou com o Eduardo Bolsonaro que vai se esconder debaixo da saia do Trump lá em Miami. Mas com o Lula não é assim”, disse a jornalistas.

De acordo com Boulos, o ato também pede a taxação dos mais ricos. “Hoje aqui na Avenida Paulista também é uma resposta àqueles que não querem deixar o presidente Lula governar. Aqueles que dão chilique quando se fala que o super-rico vai pagar a conta no Brasil e aqueles que não aceitam que o trabalhador brasileiro possa ter tempo de descanso com fim da escala 6 por 1”.
Em entrevista à Agência Brasil, a coordenadora da Frente Povo Sem Medo e coordenadora do plebiscito popular por um Brasil mais justo, Juliana Donato, disse que o ato foi convocado por conta da indignação com a maioria do Congresso Nacional que está querendo governar no lugar do governo.
“A pauta da taxação surgiu porque a gente sabe que existe uma resistência da maioria do Congresso em taxar os mais ricos para garantir a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil. Mas nós temos também a pauta pelo fim da escala 6 por 1, que é uma pauta muito importante para nós e que nós queremos que o Congresso paute e vote. E agora nós temos mais um fato que foi essa carta do Trump dizendo que vai tarifar os produtos brasileiros por conta da pressão da família Bolsonaro. Essa é uma família que lidera a extrema direita no país e que já prejudicou muitos brasileiros”, disse.
“Nós estamos dizendo que nós estamos querendo taxar os bilionários e eles estão querendo taxar o Brasil”, completou.
Para Raimundo Suzart, presidente estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT), o ato de hoje se tornou ainda mais importante após a taxação aplicada por Trump. “Queremos mandar um recado para esse Congresso, para uma parte desse Congresso que está se opondo aos trabalhadores”, destacou.
“Queremos que volte a cobrança do IOF, queremos discutir a redução da jornada sem redução de salário e com a garantia do fim da escala 6 por 1. Então esse é o momento da gente dizer que o povo está na rua e que o povo quer que seja cumprida a pauta desse governo que foi eleito para defender a classe trabalhadora e a democracia no nosso país”, acrescentou.
Além da capital paulista, também foram realizados protestos em outros locais como Brasília, Belo Horizonte, Salvador, Rio de Janeiro, Fortaleza, Curitiba, Maceió, Florianópolis, Vitória, Cuiabá e São Luís.

RIO DE JANEIRO
Centenas de pessoas se reuniram em frente à Bolsa Valores do Rio de Janeiro, na Praça XV.
O presidente da Central Única dos Trabalhadores do Estado do Rio de Janeiro (CUT-Rio), Sandro Cezar, avalia que a medida de Trump coloca o Brasil no centro da construção de uma nova ordem a partir do Sul Global.
“Sempre nos trataram mal, sempre nos exploraram, mas agora resolveram fazer publicamente. Isso nos coloca em outro patamar. O Brasil, junto com os Brics, tem um papel importante nesse outro mundo que vai ser construído. E não é um mundo visto pelas lentes dos Estados Unidos da América, nem pelo Trump. O povo brasileiro rejeita o Trump e vai rejeitar também seus filhotes aqui no Brasil”, afirmou.
O protesto na Praça XV também pautou a justiça tributária a partir da taxação dos super-ricos e políticas que reduzam as desigualdades, como o fim da escala 6×1.
Para Tezeu Bezerra, diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF), as reivindicações da classe trabalhadora serão atendidas por meio da mobilização popular.
“O plebiscito é uma forma do trabalhador se manifestar para que a gente consiga, de fato, a justiça social no nosso país. Hoje, tem trabalhador paga muito mais imposto do que o rico. Isso está errado, é sim uma luta de nós contra eles. Não tem como a gente fugir desse debate”, afirmou.