O Diretório Central dos Estudantes da Universidade de São Paulo (DCE-Livre da USP), em conjunto com a União Nacional dos Estudantes (UNE), realizou, nesta segunda-feira (01), uma homenagem a seu patrono, Alexandre Vannucchi Leme, estudante de geologia da Universidade que foi assassinado pela ditadura militar aos 22 anos.
Intitulado “Para que nunca mais aconteça”, o ato contou com a participação de dezenas de estudantes da universidade e dirigentes estudantis universitários e secundaristas. Para a atividade foram convidados familiares de Alexandre, como sua irmã Beatriz Vannucchi, e seu primo, Paulo Vannuchi, ex-ministro dos Direitos Humanos.
Beatriz lembrou, emocionada, que o assassinato de seu irmão aconteceu quando ela tinha apenas dez anos, em 1973. “Dói falar sobre isso pois a sensação que ficou é de que eles tiraram Alexandre de minha vida, não me deixaram viver com o meu irmão”, disse.
Para Paulo, é excepcionalmente importante que lembremos daqueles que tombaram lutando pela democracia, uma vez que “temos hoje no poder aqueles que querem celebrar a ditadura, a morte e a tortura”.
“Estudei em medicina em 69 e 70. Tínhamos alguns barracões para os primeiros anos logo aqui ao lado do vão [da História e Geografia], e víamos de perto as atividades políticas acontecendo. Lembro bem de Helenira Rezende, que também foi assassinada pela ditadura”, contou.
Para Bianca Borges, coordenadora do DCE, “esse é um momento de reflexão para todos os estudantes da USP. Porque outros estudantes como ele era, e como somos nós hoje, desapareceram, foram mortos, para garantir a democracia. E hoje nós continuamos sua luta contra um governo autoritário”.
Guilherme Bianco, diretor da UNE, acompanhou a homenagem. “É muito importante o que estamos fazendo aqui hoje. Bolsonaro tem tentado distorcer a história, colocar pessoas como Alexandre como vilões, mas a verdade é uma só”.
Mariana Moura, doutoranda na USP e ex-coordenadora da Associação de Pós-Graduandos da Universidade, lembrou que a entidade que dirigiu carrega o nome de Helenira Rezende em homenagem a estudante. “Eles querem é acabar com a Universidade pública porque ela apresenta resistência aos seus desejos ditatoriais. Não à toa cortam tanto as verbas da Educação, cortam o repasse para as Universidades e cortam dos sistemas de fomento”.
Estiveram presentes ainda diretores do Centro Universitário de Pesquisa e Estudos Sociais (CeUPES), batizado de Ísis de Oliveira, outra estudante da USP perseguida e morta pelos militares, e o presidente da Associação de Docentes da USP, Rodrigo Ricupero.
Em 1973, Alexandre Vannucchi cursava seu 4º ano de geologia na USP quando foi preso, em 16 de março, pelo DOI-CODI/SP, logo pela manhã. A preocupação sobre seu desaparecimento surgiu porque Alexandre não voltou à casa de seus pais, em Sorocaba, no dia combinado.
Alexandre era militante da Ação Libertadora Nacional (ALN) e foi entregue à ditadura por um outro militante que passou a trabalhar em favor da repressão. Foi torturado pela primeira vez durante toda a noite. As torturas continuaram pela manhã do dia seguinte. Quando o carcereiro o vai buscar para uma terceira sessão de torturas, encontra-o morto. A morte de Alexandre demorou até 23 de março para ser divulgada, com a versão oficial de que ele tinha sido atropelado e ferido na cabeça. Seu corpo foi sepultado como indigente.
PEDRO BIANCO