Organizadas pelo coletivo internacional Defendamos a Paz, milhares de pessoas participarão nesta sexta-feira (26) em mais de 30 países da mobilização pelo imediato fim dos assassinatos de lideranças populares na Colômbia. Entre outros, alemães, argentinos, brasileiros, canadenses, estadunidenses, gregos e uruguaios confirmaram presença na Marcha pela Vida
Na contramão dos compromissos assumidos e assinados pelo governo de Juan Manuel Santos com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) em Havana, em 2016, o atual presidente, Iván Duque, pretendia revogar a Justiça Especial para a Paz (JEP), mas foi derrotado por 110 votos a 44. Demovido do retrocesso pelo parlamento, Duque passou a sabotar a medida, fazendo com que a impunidade dos paramilitares vire regra, cobrindo o território colombiano com o manto da perseguição, da insegurança e do medo.
O recente assassinato de Maria del Pilar Hurtado Montaño, liderança de Tierralta, no departamento de Córdoba, em frente a um dos quatro filhos, ilustra a tragédia. Os gritos da criança de nove anos em frente ao cadáver da mãe, de 36 anos, morta a tiros por desconhecidos em uma motocicleta, viraram combustível para a mobilização desta sexta.
MAIS DE 800 MORTOS DESDE OS ACORDOS
Conforme o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz), de primeiro de janeiro de 2016 a 20 de maio de 2019, 837 pessoas foram assassinadas, sendo 702 líderes populares e defensores de Direitos Humanos e 135 ex-combatentes das FARC – transformada pelos Acordos em Força Alternativa Revolucionária do Comum.
“As vítimas dessa onda criminosa são homens e mulheres que desde vários povoados, municípios e regiões do país reivindicam o cumprimento dos acordos de 2016 entre o Estado e as FARC, ex-combatentes desta organização que hoje são um partido político, defensores de direitos humanos, camponeses que lutam pela devolução das suas terras pois foram violentamente expulsos pela ação das estruturas paramilitares e da força pública durante os anos mais duros da confrontação militar”, denunciou o professor Pietro Alarcón, colombiano que vive há mais de 20 anos no Brasil e um dos organizadores do evento em São Paulo.
De acordo com Pietro Alarcón, “o governo de Duque, fraco, pusilânime e que desde o começo se colocou contrário à implementação dos acordos, pretende hoje passar ao mundo a impressão de que se encontra refém da ação de forças contrárias à paz”. Na verdade, assinalou o professor, “responsabilidade fundamental do cumprimento dos acordos é do Estado, cuja ação ele hoje encabeça”.
“A ausência governamental de vontade de paz e sua falta de compromisso com o estabelecimento de garantias para a vida dos lutadores populares e defensores das transformações consignadas nos Acordos está no centro desta sequência de crimes cometidos pelo paramilitarismo que anda hoje à solta pelo país. Duque cede às pressões e diretrizes do complexo internacional militar-industrial que fomenta guerras no planeta, dificulta a devolução das terras aos camponeses deslocados e corta o orçamento das instâncias que, como fruto dos Acordos, impulsionam as reparações às vítimas da guerra e o julgamento dos atores de crimes contra a humanidade”, concluiu Alarcón.
Convocada pelo Coletivo Rueda a Palavra Paz, a concentração na capital paulista terá início às 18 horas no vão livre do MASP.
Visualize o vídeo “Este 26 de julho marchemos pelos líderes sociais”: https://mail.google.com/mail/u/0/?tab=rm#inbox/FMfcgxwDqTWfPFDzmNprtqJJCJJBrzdG?projector=1
LEONARDO WEXELL SEVERO