Após 3 anos sem reduzir juros e com a Selic em 13,75% desde agosto do ano passado, taxa cai para 13,25%
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 pontos percentuais, após ter mantido a taxa em 13,75% por um ano, restringindo o nível de atividade econômica, com a derrubada dos investimentos privados e do consumo de bens e serviços, além de elevar o endividamento das famílias, das empresas e do setor público.
Após três anos sem reduzir os juros, com a redução da Selic em 0,50 ponto percentual, a taxa passou de 13,75% para 13,25%, – o que é uma gota ante ao oceano – mantendo o Brasil campeão mundial de juros reais (descontada a inflação).
Em março de 2021, o Banco Central (BC) do Brasil, liderado por Roberto Campos Neto, foi o primeiro dos bancos centrais, entre as grandes economias mundiais, a aumentar a taxa de juros, que passou de 2% a 13,75%, em agosto de 2022, com o argumento descabido de que o Brasil estava com uma inflação causada por excesso de demanda.
O Brasil, assim como as economias do resto do mundo, foi abatido por um choque de oferta, causado pelos eventos da pandemia de Covid-19 e a guerra entre Rússia e Ucrânia, que levou ao aumento dos preços dos alimentos, de energia e insumos industriais. Com economia fragilizada e desindustrializada, os preços dos combustíveis dolarizados, somado ao desmonte da política de estoques reguladores em prol do “livre mercado”, foi um dos países mais castigados pela inflação de oferta, cujo aumento dos juros não resolve o problema.
Com o arrefecimento dos problemas externos que agravaram a crise dos preços no Brasil, a inflação passou a demonstrar enfraquecimento já em 2022, com clara desaceleração no primeiro semestre de 2023.
Em junho deste ano, após a Petrobrás acabar com a prática de definir seus preços com base nos importadores de combustíveis (o chamado PPI), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE, indicador da inflação oficial do país, registrou deflação, queda de -0,08%, puxada pela queda dos combustíveis e da alimentação. No ano, a inflação acumula alta de 2,87%. Em 12 meses, o IPCA fechou em alta de 3,16%.
Apesar das desacelerações da inflação e do nível da atividade econômica do país ao longo deste ano, com resultados deploráveis para a Indústria, comércio e serviços – desvanecidos de demanda -, além do alto nível de inadimplência e endividamento das famílias, o Banco Central de Campos Neto, investido da sua “autonomia”, seguiu mantendo a taxa de juros em 13,75%, abraçado na falácia do excesso de demanda e outras argumentações infundadas.
Os juros em patamares elevados vêm minando os esforços que o governo Lula tem feito para retomada econômica do país. Em seu comunicado, o Copom destaca: “o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue consistente com um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres”, diz trecho da nota, em que Campos Neto “reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”.
Ocorre que, além do servilismo ao chamado mercado financeiro, Roberto Campos Neto se propôs a atuar politicamente também, como destacam os economistas José Luís Oreiro e Nilson Araújo de Souza.
“O mais provável fator que explica a relutância irracional do Banco Central de manter a taxa de juros em 13,75% ao ano, ao longo dos últimos seis meses, é o fato de que o presidente do Banco Central quer fazer tudo que estiver ao alcance dele para atrapalhar o governo Lula”, denunciou Oreiro.
“Nós sabemos que a taxa de juros tem um impacto muito relevante sobre o nível de atividade econômica. Ela impacta as decisões de investimento do setor privado, ela impacta as decisões de consumo, e se ela for mantida alta muito tempo vai gerar uma enorme sobrevalorização do câmbio que gera desindustrialização prematura. Então, ele está fazendo o que pode para estragar o governo, ou pelo menos para não viabilizar o governo Lula do ponto de vista econômico”, criticou o Oreiro.
O professor Nilson Araújo destaca que “se a taxa de juros está alta, eu não vou aplicar na minha empresa, vou aplicar no mercado financeiro. Aí a atividade produtiva é sacrificada. O consumidor é igual. Tem mais de 6 milhões de empresas, micro, pequenas e médias empresas, que estão com problema de dívida. Isso arrasa a economia e impede a economia de crescer”, denunciou.
“O governo Lula tem tomado algumas medidas para reativar a economia que estão indo na direção correta, mas tem uma pedra no meio do caminho que pode complicar isso. Economia nenhuma se sustenta com a taxa de juros nessa proporção”, afirmou Araújo.