Há quem diga que os governantes chineses estariam retaliando os ataques descabidos feitos por Bolsonaro ao país asiático e retendo os ingredientes farmacêutico ativos (IFA) que deveriam ser enviados ao Brasil. Quem trabalha com esse tipo de hipótese demonstra no mínimo não conhecer a China.
Alienar-se da tragédia que ocorre atualmente no mundo, que cria uma alta demanda por vacinas, é o que faz essas pessoas levantarem a suspeita de que os chineses estariam agindo da mesma forma torpe e rancorosa com que se comporta Jair Bolsonaro.
A insinuação maldosa e medíocre de que a China teria fabricado a pandemia para se beneficiar, como fez Bolsonaro recentemente em discurso numa solenidade no Palácio do Planalto, ou mesmo desdenhar e atacar a eficácia das vacinas produzidas pela indústria daquele país, como Bolsonaro faz desde o início da pandemia, poderia justificar um veemente protesto por parte das autoridades chinesas. Isso seria perfeitamente natural, mas comparar esse justo protesto aos desatinos do governo é uma distância muito grande.
Se há um país no mundo que, apesar do ódio destilado contra seu povo por Bolsonaro, seus filhos e por alguns atuais e ex-ministros, mais tem ajudado o Brasil a enfrentar a pandemia esse país é a China. Há um grande espírito de solidariedade nos acordos de venda e de transferência de tecnologia dos chineses para o Brasil. É só avaliarmos quais as vacinas que estão em uso neste momento no Brasil para constatarmos essa situação. Noventa e cinco em cada 100 vacinas aplicadas na população brasileira são fabricadas na China.
Comparar o que essas pessoas acham que seria o comportamento das autoridades chinesas com as insanidades e a política de ódio de Bolsonaro, rebaixando os fabricantes asiáticos ao nível do atual ocupante do Planalto, além de mostrar um desconhecimento sobre a política chinesa, sobre os princípios que movem seus contratos e sobre a forma séria com que esse país atuou e vem atuando na pandemia, revela também, além do equívoco político, uma ingratidão por tudo o que foi feito até agora.
É necessário acelerar a aprovação da vacina russa (Sputnik V), que inexplicavelmente vem sendo freada na Anvisa, e repudiar o comportamento negacionista do governo, acelerando as negociações com outros laboratórios, como a Pfizer, por exemplo, para ampliar as vacinas no Brasil.
Há que se intensificar o que falta para iniciar a fabricação da Butanvac, a vacina brasileira do Butantan, pois não se pode cortar verbas das vacinas que estão sendo desenvolvidas no Brasil, como fez Bolsonaro recentemente.
A sabotagem de Bolsonaro à compra de vacinas, assunto que está no centro das investigações conduzidas pela CPI da Pandemia, instalada no Senado Federal, foi, e continua sendo, a principal causa do atraso da vacinação no Brasil e no número astronômico de mortes de brasileiros, vítimas da Covid-19.
Não só no início da pandemia, quando o capitão cloroquina dizia que não compraria o imunizante da Pfizer e nem a CoronaVac, mas também, mais recentemente, quando seu prócer na Anvisa retarda a aprovação da Sputnik V, o objetivo de Bolsonaro é insistir na sua conduta genocida de deixar a população se infectar rapidamente pelo coronavírus para atingir a chamada imunidade de rebanho.
Toda essa sabotagem às vacinas, assim como a intenção clara de se indispor com os fornecedores de imunizantes, nada mais é do que jogar os brasileiros à criminosa imunidade de rebanho. Em boa hora, tudo isso está no foco das investigações da CPI da Pandemia.