“O atraso na vacinação e a demora para a reedição do auxílio emergencial estão na raiz do baixo dinamismo da indústria no primeiro semestre do ano”, afirma o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial ao avaliar o resultado de 0,0% da produção industrial em junho
A análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) sobre o resultado ZERO na produção industrial brasileira em junho, divulgado pelo IBGE, aponta que a decisão do governo Bolsonaro de boicotar a vacinação no pior momento da pandemia, quando o país registrou mais de 550 mil mortes, e de interromper o auxílio emergencial, deixando milhões de brasileiros no abandono, durante três meses, em meio ao desemprego recorde e queda na renda, resultou em “mais um mês de obstrução da retomada industrial”.
“O atraso na vacinação e a demora para a reedição do auxílio emergencial estão na raiz do baixo dinamismo da indústria no primeiro semestre do ano. Os dados do IBGE mostram que em jun/21 o crescimento foi zero e no semestre como um todo houve apenas um único mês de aumento da produção. Assim, se a indústria registra avanço em relação ao ano passado é, em grande medida, devido a uma base de comparação extremamente deprimida e ao carregamento estatístico da reação do 2º sem/20”, afirma o Iedi.
De acordo com a Pesquisa Mensal da Indústria do IBGE, a produção física de junho teve variação nula (0%) em relação a maio, encerrando dois trimestres seguidos com saldo negativo.
“Junho de 2021 foi mais um mês de obstrução da retomada industrial, com variação de 0% frente a mai/21, confirmando que o primeiro semestre poderia ter sido muito melhor do que foi, se o país não tivesse demorado tanto para avançar na vacinação contra a Covid-19 e não tivesse interrompido as medidas emergenciais em meio ao segundo surto de coronavírus”.
O auxílio emergencial encerrado em dezembro só retornou em abril, com valor menor e para menos pessoas, e o crédito às empresas através do Pronampe só retomou em junho.
O saldo do primeiro semestre foi de três meses de perda de produção, dois meses de estabilidade e apenas um mês de crescimento (em maio). “No caso da indústria de transformação, foi ainda pior: cinco meses de queda e apenas um positivo”, ressalta o Iedi.
“Se tomarmos o nível de produção de jun/21 em comparação com aquele de dez/20, já corrigidos os efeitos sazonais, temos um declínio de -3,2%. Isso significa que boa parte do que foi conquistado na recuperação de 2020 foi perdido em 2021, de modo que a indústria geral voltou exatamente ao nível pré-pandemia de fev/20”, complementa o Iedi.
Para a entidade, se a indústria registra avanço no acumulado do ano – quando comparado com o mesmo período de 2020 – isso se deve à uma base de comparação “extremamente deprimida”.
Na análise setorial, o Iedi registra que apenas uma das grandes categorias econômicas conseguiu crescer na passagem de maio para junho (bens de capital, +1,4%). Dentre os ramos, o resultado negativo veio de 14 dos 26 pesquisados, com destaque para alimentos (-1,3%), veículos (-3,8%) e papel e celulose (-5,3%).
Quadro trimestral:
Indústria geral: -1,5% em abr/21; +1,4% em mai/21 e 0% em jun/21;
Bens de capital: +3,1%;+1,4% e +1,4%, respectivamente;
Bens intermediários: -1,2%; -0,6% e -0,6%;
Bens de consumo duráveis: -1,8%; -2,2% e -0,6%;
Bens de consumo semi em não duráveis: -1,1%; 3,6% e -1,3%, respectivamente.“