40% dos mais pobres não conseguiram pagar a conta de luz por pelo menos um mês em 2021, segundo Aneel
Quase 40% das famílias brasileiras de baixa renda atrasaram o pagamento da conta de luz por pelo menos um mês em 2021, pressionadas pelos aumentos das tarifas de energia autorizadas pelo governo, inflação generalizada e queda nas rendas.
Os dados são da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que considera as famílias que recebem até meio salário mínimo por pessoa (R$ 606). O percentual exato de lares que deixaram de pagar a fatura por um mês ou mais é de 39,43%, correndo o risco de corte no fornecimento de energia – já que desde outubro passado o governo voltou a autorizar o corte em residências inadimplentes, ato que havia ficado suspenso durante os primeiros meses da pandemia.
Não são apenas os mais pobres que estão em dificuldades de pagar a conta de luz, mostrando que as tarifas pesam no bolso da maioria já pressionada pelo preço dos alimentos, combustíveis e gás de cozinha. A pesquisa da Aneel computa que dentre todos os consumidores residenciais, 22,44% deixaram de pagar a conta por um mês, ou mais.
Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) indicam que os brasileiros chegam a gastar aproximadamente 20% do salário mínimo que vigorava no ano passado para pagar a conta de luz.
A conta de luz tem altas acima do dobro da inflação desde 2015, acumulando no período variação de 114%. Em 2021, os sucessivos tarifaços criados para compensar as distribuidoras pelo encarecimento da produção de energia fizeram com que o preço subisse 21,21%, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A produção de energia ficou mais cara por conta do acionamento das usinas termoelétricas no período de escassez de chuvas que poderia ter sido contornado com mais investimentos ao setor. O governo decidiu, então, obrigar os consumidores a racionarem energia cobrando mais do que é possível pagar.
Para este ano, apesar da abundância de chuvas, a previsão é que a conta de luz continue subindo, desta vez, para bancar um empréstimo bilionário concedido pelo governo às distribuidoras. De acordo com dados da própria Aneel, o empréstimo deverá adicionar ao menos 9% de reajuste nas contas em 2022.
Enquanto isso, as empresas privadas de distribuição de energia tiveram, no ano passado, uma média mensal de lucro R$ 27,5 bilhões ante R$ 14,8 bilhões por mês no mesmo período do ano anterior.