
Desemprego e queda na renda são apontados como principais causas, segundo sondagem do Ibre/FGV
No mês de março, a inadimplência e a demanda por crédito voltaram a crescer entre famílias de baixa renda, aponta sondagem da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBRE). Com o agravamento da pandemia da Covid-19 e o elevado desemprego no país, muitas famílias estão deixando de pagar as contas e a concentrar os poucos recursos que dispõem para cobrir gastos básicos como alimentação e moradia, que se tornaram mais caros por conta das altas dos preços ao consumidor (IPCA) e do IGPM, conhecido como “inflação do aluguel”, no último período.
“Tenho buscado empréstimos – meu nome é limpo, mas os bancos não estão dando, pedem para voltar daqui a 6 meses”, afirmou uma mãe de família, que preferiu não se identificar. Moradora da região central da capital paulista, ela contou que neste mês encontrou dificuldades para pagar o aluguel do apartamento onde mora com a filha e o marido, que está desempregado há alguns meses, mas que faz bicos para ajudar com as despesas de casa.
“No próximo mês meu nome vai estar negativado, não tenho como pagar o cartão de crédito – ou é ele ou é o boleto do aluguel”. “Estou buscando empréstimos para saldar a fatura, mas os bancos não estão dando crédito para ninguém”, comentou. De acordo com a FGV IBRE, essa situação não é diferente para a maioria das famílias com renda até R$ 2.100, que foram as mais atingidas pela pandemia.
“No caso das famílias de mais baixa renda, o percentual dos que se dizem endividados é maior do que no ano passado. Em realidade, é o nível mais alto desde junho de 2016, durante a recessão”, afirmou a coordenadora das Sondagens do FGV IBRE, Viviane Seda Bitencourt.
O Indicador da FGV IBRE de tendência de endividamento entre famílias de baixa renda registrou piora em março, comparado a fevereiro, “em todas as faixas de renda”. “No caso das famílias de mais baixa renda, o percentual dos que se dizem endividados é maior do que no ano passado. Em realidade, é o nível mais alto desde junho de 2016, durante a recessão”, afirmou a coordenadora das Sondagens do FGV IBRE, Viviane Seda Bitencourt.
De acordo com a sondagem, 79% dos que responderam a pesquisa – com renda familiar mensal de até R$ 2,1 mil – afirmaram que ao menos um membro da casa se endividou ou aumentou o atraso nas dívidas em função da pandemia. Na faixa de renda entre R$ 2,1 mil até R$ 4,8 mil, o percentual foi de 61%.
“Nessas faixas, respectivamente, 37,6% e 45,9% afirmam que os atrasos de pagamento já duram de 1 a três meses, o que coincide com a piora do cenário no primeiro trimestre deste ano”. Apesar desse período coincidir com o fim do auxílio emergencial, a ausência desse benefício aparece com peso menor. “A perda do emprego é o motivo mais citado, seguido pela redução de salário”, completou.
Nada diferente de 2020, pois os bancos estão liberando crédito só a juros altíssimos.
Com o agravamento da crise econômica, os bancos estão cobrando mais para emprestar. Desde novembro de 2020 temos observado elevações pequenas, mas constantes, nas taxas de juros de todas as modalidades de crédito para pessoa física”, afirmou Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), lembrando que os bancos estão mais seletivos.
A taxa média mensal de juros, que em março de 2020 era de 5,79%, foi para 5,51% em novembro, e em março deste ano registrou 5,74%, apontou a FGV.