O decano do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Celso de Mello, afirmou que o vídeo publicado em uma rede social do presidente Jair Bolsonaro (PSL), nesta segunda-feira (28), comparando o Supremo Tribunal Federal (STF) a uma hiena, evidencia que “o atrevimento presidencial parece não encontrar limites”.
No vídeo, que pode ser visto abaixo, e que Bolsonaro retirou rapidamente – e covardemente – de seu twitter, após sua repercussão desastrosa, Bolsonaro se faz passar por um leão, imagem que, convenhamos, não combina nem um pouco com ele. Afinal, Bolsonaro está muito mais para um poodle barulhento, mas obediente, do que para o “rei das selvas”. Mormente quando ele está diante de figuras do primeiro mundo, como seu guru, o também aluado Donald Trump.
“Esse comportamento revelado no vídeo em questão, além de caracterizar absoluta falta de ‘gravitas’ e de apropriada estatura presidencial, também constitui a expressão odiosa (e profundamente lamentável) de quem desconhece o dogma da separação de poderes e, o que é mais grave, de quem teme um Poder Judiciário independente e consciente de que ninguém, nem mesmo o Presidente da República, está acima da autoridade da Constituição e das leis da República”, destacou Celso de Mello.
O vídeo termina com a chegada de um outro leão, ridiculamente taxado de “conservador patriota”, título totalmente inapropriado – afinal, de patriotas esses entreguistas não têm nada – com um apelo: “Vamos apoiar o nosso presidente até o fim e não atacá-lo”. “Já tem a oposição pra fazer isso!”, diz um letreiro.
“É imperioso”, prossegue o ministro Celso de Mello, “que o Senhor Presidente da República – que não é um ‘monarca presidencial’, como se o nosso país absurdamente fosse uma selva na qual o Leão imperasse com poderes absolutos e ilimitados – saiba que, em uma sociedade civilizada e de perfil democrático, jamais haverá cidadãos livres sem um Poder Judiciário independente, como o é a Magistratura do Brasil”.
Até na produção desses memes, Bolsonaro e seus milicianos digitais não mostram nenhuma criatividade. O vídeo é uma cópia escarrada de vídeos de Donald Trump. Em 2017, o presidente americano publicou, em sua conta na rede social, um vídeo parecido, em que aparece batendo e derrubando uma pessoa com o logotipo da rede CNN no lugar do rosto.
A peça era uma montagem sobre um vídeo real de 2007 do americano em uma arena de luta livre. Há duas semanas, causou polêmica a divulgação, em um evento de partidários do republicano em Miami, de um vídeo fictício em que Trump aparece novamente atirando, esfaqueando e agredindo membros da imprensa e adversários políticos.
Apesar de ser mais uma imitação que os milicianos de Bolsonaro fazem dos reacionários do Partido Republicano dos EUA, o vídeo serviu para alguma coisa.
Estão taxadas na película como “inimigos” do governo Bolsonaro, a OAB, o STF, a Rede Globo, PDT, a Folha de S. Paulo, Movimentos Feministas, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), a ONU, o Estadão, a UNE, a Veja, o PCdoB, o PSDB, o PT, a CUT, o PSB, o PSoL, a Lei Rouanet, o MST, o MBL, a Força Sindical e até seu ex-partido, o PSL.
Certamente nem todos os que foram citados estão efetivamente na oposição a Bolsonaro, e ainda por cima, deixaram de ser citados setores amplos da sociedade, que já perceberam que o governo Bolsonaro é extremamente lesivo aos interesses nacionais.
São forças políticas e personalidades que podem perfeitamente compor esta ampla frente contra o arbítrio e o obscurantismo que se constrói no Brasil. É o caso, por exemplo, de partidos como a Rede, o Cidadania, o Pros, o próprio DEM de Rodrigo Maia, etc.
Inclusive setores militares lúcidos e patriotas – e setores empresariais, já descontentes com o desastre que é o governo Bolsonaro – poderiam também compor na oposição democrática “denunciada” pelo vídeo.
Assista ao vídeo