O Ministério Público de São Paulo realizou uma audiência pública nesta terça-feira (27) para discutir o fechamento de unidades de Assistência Médica Ambulatorial (AMA) na capital. Já são seis inquéritos para investigar a decisão de fechar 118 AMAs. A Prefeitura de São Paulo desconversa e diz que não é fechamento, mas sim uma “reestruturação” no sistema. O fato é que a reestruturação está fechando as AMAs e indignando a população.
O prefeito Doria foi convidado, mas não compareceu. “Temos recebido várias reclamações com relação aos fechamentos de Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Temos vários questionamentos sobre os fechamentos das unidades. E quando chamamos uma audiência pública é porque também temos dúvidas. Achamos necessário ouvir a população e o poder público. Chamamos para essa audiência tanto o secretário de Saúde quanto o prefeito, mas ele não veio e isso foi lastimável”, disse a promotora, Dora Martin Strilicherk.
O auditório estava completamente lotado, com pessoas acompanhando a audiência sentadas no chão ou em pé. Houve muita manifestação da população, com vaias direcionadas à prefeitura e palmas aos que se manifestavam no microfone contra o fechamento das unidades de saúde municipais. Lideranças dos bairros e profissionais de saúde protestaram contra os fechamentos. “O governo não pode fechar as AMAs porque a população vai ficar sem alternativas. Os hospitais estão superlotados. Pessoas vão morrer com essa decisão”, denunciou o professor de capoeira da UMES, Fabiano Pavio, representante da Bela Vista.
“Tivemos aqui hoje mais de mil pessoas. Infelizmente nosso auditório não foi compatível. Mas está evidenciada aqui uma insatisfação muito grande. A dúvida do MP é de como será feita essa reestruturação [das unidades de saúde] sem prejuízo para a população. E é isso que apuramos nesses inquéritos”, ressaltou Dora. Segundo ela, embora a prefeitura negue, o Ministério Público tem conhecimento sobre o fechamento de várias unidades de saúde na cidade.
Os inquéritos foram abertos após o recebimento de vários abaixo-assinados da população que se diz prejudicada com o fechamento das unidades. Um dos pedidos, por exemplo, contava com mais de 6 mil assinaturas, informou a promotora Dora Martin. Um novo abaixo-assinado, com mais de mil assinaturas, foi entregue na terça ao MP pedindo a instauração de um novo inquérito.
O secretário municipal de Saúde, Wilson Pollara, que foi muito vaiado ao chegar à audiência pública, quis convencer as pessoas de que não houve fechamentos de AMAs. “A prefeitura não fecha nenhuma estrutura. A prefeitura só modifica o nome e o jeito de atender”, disse ele. “Ao invés de se ter um médico que não te conhece, que vem uma vez por mês para dar um plantão, você vai ter um médico de saúde da família que já foi na sua casa, que te conhece e que acompanha sua saúde ao longo de todo o tempo”, explicou o secretário.
O que ele não disse é que hoje existem os dois modelos assistenciais e que eles estão fechando as AMAs. A secretária adjunta da Saúde, Maria da Gloria Zenha Wieliczka, abiu o jogo em um entrevista há alguns meses: “As AMAs são muito caras”, disse ela.