Ailton Barros, “segundo irmão” de Bolsonaro, com quem Élcio conversa no áudio, xinga generais e diz que vai organizar 1.500 homens para o golpe
O bolsonarista Elcio Franco, ex-nº 2 no Ministério da Saúde e ex-assessor na Casa Civil, discutiu com um aliado de Jair Bolsonaro, Ailton Barros, um plano de usar 1.500 soldados do Batalhão de Operações Especiais do Exército para dar um golpe de Estado e prender o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em áudios, obtidos pela Polícia Federal e divulgados pela CNN, Franco critica o Alto Comando e o comandante do Exército, general Freire Gomes, por não aderirem à tentativa de impedir a posse de Lula.
Elcio Franco conversava pelo Whatsapp com Ailton Barros, amigo pessoal de Jair Bolsonaro que foi preso pela PF por fazer parte do grupo criminoso que fraudava cartões de vacinação contra Covid-19, inclusive para Jair Bolsonaro e sua filha, Laura Bolsonaro.
O plano golpista sobre o qual discutiram Elcio Franco e Ailton Barros incluía o uso do Batalhão de Operações Especiais de Goiânia contra a vontade do general Freire Gomes.
No áudio, Elcio Franco aponta que o general Freire Gomes está “com medo das consequências”, mas que sua defesa, caso o plano desse errado e Jair Bolsonaro fosse preso, seria que ele apenas cumpriu ordens.
O coronel Elcio Franco falou que “você não vai esperar dele que ele tome à frente nesse assunto, mas ele não pode impedir de receber a ordem. Ele vai dizer, morrer de pé junto, porque ele tá mostrando. Ele tá com medo das consequências, pô. Medo das consequências é o quê? Ele ter insuflado? Qual foi a sua assessoria?
“Ele tá indo pra pior hipótese. E qual, qual é a pior hipótese? ‘Ah, deu tudo errado, o presidente foi preso e ele tá sendo chamado a responder’”, continuou.
“‘Eu falei, ó, eu, durante o tempo todo [ininteligível] contra o presidente, pô, falei que não, não deveria fazer, que não deveria fazer, que não deveria fazer e pronto’. Vai pro Tribunal de Nurenberg desse jeito. ‘Depois que ele me deu a ordem por escrito, eu, comandante da Força, tive que cumprir’. Essa é a defesa dele, entendeu? Então, sinceramente, é dessa forma que tem que ser visto”.
CORRUPÇÃO NA PANDEMIA
Enquanto secretário-executivo do Ministério da Saúde, na gestão do general Pazuello, Elcio Franco foi investigado por ter articulado a compra fraudulenta de doses da vacina indiana Covaxin.
A compra foi cancelada pela produtora da vacina após ter sido revelado que o Ministério da Saúde fraudou documentos da contratação.
O caso foi investigado pela CPI da Pandemia, que correu no Senado Federal. A CPI denunciou Elcio Franco pelos crimes de epidemia com resultado morte e improbidade administrativa.
O PLANO
Em resposta, Ailton Barros disse para Élcio Franco que o golpe deveria passar pelo Batalhão de Operações Especiais de Goiânia.
Esse batalhão foi dado de presente por Jair Bolsonaro para seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, no final do governo. O governo Lula cancelou a nomeação de Cid para o comando do Batalhão.
Ailton Barros argumenta que era preciso convencer o general Carlos Alberto Rodrigues Pimentel, comandante de Operações Especiais.
“Esse alto comando de m… que não quer fazer as p…, é preciso convencer o comandante da Brigada de Operações Especiais de Goiânia a prender o Alexandre de Moraes. Vamos organizar, desenvolver, instruir e equipar 1.500 homens”, disse.
Outros áudios de Ailton Barros defendendo um golpe já haviam sido obtidos pela PF e divulgados pela CNN. Desta vez o amigo de Bolsonaro conversava com o ajudante de ordens do presidente, Mauro Cid.
Barros disse que “ou o Freire Gomes ou o Bolsonaro” deveriam fazer um pronunciamento anunciando o golpe de estado. “Aí será tudo dentro das quatro linhas. Não o sendo, vai ser fora das quatro linhas mesmo. Nós já estamos no limite longo da ZL [zona de lançamento], não vamos ter mais como lançar”.
“Nessa ordem de operações, nos decretos, nas portarias que tiverem que ser assinadas, tem que ser dada a missão de prender o Alexandre de Moraes no domingo, na casa dele, como ele faz com todo mundo”, afirmou.
“E aí na segunda-feira tem que ser lida a portaria, ou as portarias, o decreto, ou os decretos, de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e botar as Forças Armadas, cujo comandante supremo é o presidente da República, para agir, senão nunca mais nós vamos limpar o nome do glorioso Exército de Caxias”, acrescentou.
CPMI VAI INVESTIGAR PLANO GOLPISTA
O senador e líder do governo no Congresso Nacional, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que vai levar à CPMI do 8 de janeiro os áudios do coronel Élcio Franco e do ex-major Ailton Barros articulando o golpe de Estado.
Para Randolfe Rodrigues, esse plano golpista surge “após o não reconhecimento do resultado das eleições e que teve o ápice de sua tentativa no 8 de janeiro”.
“É incrível como temos personagens do entorno do ex-presidente da República que se envolveram na tentativa golpista. É ingenuidade, desconhecimento ou culpabilidade que tinha o ex-presidente Jair Bolsonaro?”, questionou.
“Será um dos elementos da CPMI do 8 de janeiro, que cada vez mais se transforma na CPMI da Arquitetura Golpista”, afirmou.