O ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, conversou com um aliado, o ex-major Ailton Barros, sobre uma tentativa de golpe de estado que deveria ser realizado pelo ex-presidente em dezembro de 2022, faltando 15 dias para o fim do mandato.
Três áudios, obtidos pela Polícia Federal e divulgados pela CNN Brasil, provam que o gabinete de Jair Bolsonaro discutia um golpe.
Ailton Barros enviou pelo menos três áudios para Mauro Cid defendendo que Bolsonaro ou o então comandante das Forças Armadas, general Marco Antônio Freire Gomes, deveriam tomar medidas para impedir que Lula tomasse posse.
Ailton Barros era próximo de Jair Bolsonaro e o acompanhou no segundo turno das eleições de 2022. Candidato a deputado estadual nas eleições, Ailton Barros se autodenomina “01” de Bolsonaro no Rio de Janeiro.
Não se sabe a resposta que Mauro Cid deu a Ailton Barros.
Os dois foram presos pela PF na quarta-feira (3) por participarem de um esquema que falsificou certificados de vacinação, inclusive de Jair Bolsonaro.
Ailton Barros disse para o ajudante de ordens de Bolsonaro que o governo deveria decretar “Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e botar as Forças Armadas, cujo comandante supremo é o presidente da República, para agir. Se não nós nunca mais vamos limpar o nome do Exército”.
Os áudios foram gravados no dia 15 de dezembro, depois de Bolsonaro ter sido derrotado por Lula nas eleições presidenciais.
“Entre hoje e amanhã, sexta-feira, tem que continuar pressionando Freire Gomes [comandante do Exército] para que ele faça o que ele tem que fazer. [Para que] Até amanhã à tarde, ele aderindo bem, ele faça um pronunciamento se posicionando dessa maneira, em defesa do povo brasileiro”, apontou Ailton Barros.
“Se ele não aderir, quem tem que fazer o pronunciamento é o Bolsonaro, para levantar a moral da tropa, (…) que está abalada em todo o Brasil. No agronegócio, nos caminhoneiros, no meio empresarial, no cidadão comum, estamos todos quase jogando a toalha”, continuou.
“Nós já estamos no limite da ZL [zona de lançamento], não vamos ter mais como lançar. Tem que dar passagem perdida. E aí, como é que vai ficar o Brasil? Como que vai ficar a moral dos militares do glorioso Exército de Caxias?”.
“A primeira coisa é essa, esse pronunciamento ou do Freire Gomes ou do Bolsonaro, até amanhã à tarde. E também até amanhã à tarde, todos os atos e decretos da ordem de operações já têm que estar prontos. O outro lado tem a caneta, nós temos a caneta e temos a força”, disse Ailton.
“Se for preciso, vai ser fora das quatro linhas [da Constituição]”.
Ailton Barros ainda falou que no ato golpista “tem que ser dada a missão ao comandante da Brigada de Operações Especiais de Goiânia de prender o Alexandre de Moraes no domingo, na casa dele, como ele faz com todo mundo”.
A Brigada de Operações Especiais de Goiânia foi dada como “presente” por Jair Bolsonaro para seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid. O governo Lula reverteu essa nomeação, tendo até que trocar o comandante do Exército.
Outro aliado de Jair Bolsonaro, o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, também foi flagrado pela Polícia Federal com planos de golpes de estado ou de impedir a lisura das eleições presidenciais.
ANDERSON TORRES
Torres está preso desde janeiro por ter participado da tentativa de golpe do dia 8 de janeiro.
Em sua casa, a PF encontrou a minuta de um decreto presidencial que alteraria o resultado das eleições presidenciais.
Além disso, as investigações provaram que Anderson Torres coordenou um plano para tentar impedir que eleitores de Lula chegassem em seus locais de votação, no dia do segundo turno.
Sob sua ordem, uma funcionária do Ministério da Justiça produziu um mapeamento das regiões onde Lula obteve maior vantagem no primeiro turno.
Depois, Torres acionou seus aliados na Polícia Rodoviária Federal (PRF) para que realizassem blitz nesses pontos, atrapalhando a circulação dos eleitores de Lula. O então ministro da Justiça também tentou envolver a PF no crime, mas não conseguiu.