A Associação Nacional dos Auditores Internos da Caixa Econômica Federal divulgou uma nota nesta sexta-feira contra a indicação de Pedro Guimarães para o comando do banco estatal. O indicado é sócio do banco de investimento Brasil Plural e especialista em processos de privatização. Em seu currículo, consta a assessoria do fraudulento programa de privatização do Banespa.
O fato de Pedro Guimarães ser um patrocinador de vendas do patrimônio público, que serão aceleradas pela inédita Secretaria de Privatizações, não é a principal causa do repúdio dos auditores. Eles apontam que a relação societária de Pedro com o Brasil Plural configura “conflito de interesses” na indicação ao comando da Caixa.
No texto, eles afirmam que o banco Brasil Plural “é o principal credor no processo de recuperação judicial da empresa Ecovix, na qual Caixa e Banco do Brasil também são credores”. Além do evidente impedimento, pesa contra a empresa de Pedro Guimarães a suspeita de envolvimento na supervalorização artificial registrada pelo FIP Florestal, fundo do qual a empresa Brasil Plural é gestora.
Pedro Guimarães é Doutor em Economia pela Universidade de Rochester (EUA), formou-se no curso de doutorado com tese sobre processos de privatização no Brasil. Como sócio do Brasil Plural, coordenou negociações de mercados de capital e operações de reestruturação de empresas.
Os auditores alertam também para o envolvimento da empresa na Operação Greenfield, que causou prejuízos à Funcef e à Petros. Além disso, Guimarães é genro de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS preso pela Lava Jato. A empreiteira é devedora da Caixa em diversos empreendimentos.
Leia a nota na íntegra
É com imensa preocupação que as entidades representativas dos empregados da Caixa acompanham a indicação do sócio e diretor do Banco Brasil Plural, Pedro Guimarães, para a presidência da empresa pública federal.
O Brasil Plural é o principal credor no processo de recuperação judicial da empresa Ecovix, na qual Caixa e Banco do Brasil também são credores.
É evidente, portanto, a incompatibilidade, por conflito de interesses, de um sócio-diretor do Brasil Plural ocupar qualquer cargo de gestão na Caixa ou no Banco do Brasil.
Além do evidente impedimento, pesa contra a empresa de Pedro Guimarães a suspeita de envolvimento na supervalorização artificial registrada pelo FIP Florestal, fundo do qual a empresa Brasil Plural é gestora. A operação causou prejuízos à Funcef e à Petros e está sob investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal no âmbito da Operação Greenfield.
Esses motivos tornam a indicação de Pedro Guimarães extremamente temerária e suspeita, para muito além dos interesses privatistas os quais, ademais, jamais foram mantidos em segredo.
É importante lembrar que a CAIXA não pertence a um Governo, mas ao Estado Brasileiro. A CAIXA mantém hoje a melhor estrutura de capital entre todos os bancos brasileiros, já alcançou este ano o maior lucro da sua história, vem sendo administrada nas últimas gestões por empregados de carreira da empresa e continua sendo o banco essencial para a sociedade.
Precisamos estar atentos.
Associação Nacional dos Auditores Internos da Caixa Econômica Federal (AudiCaixa)
Relembrando a Operação Greenfield
1ª fase – Em 5 de setembro de 2016 a operação foi deflagrada em oito estados e no Distrito Federal para apurar crimes de gestão temerária e fraudulenta contra Funcef, Petros, Previ, e Postalis, quatro dos maiores fundos de pensão do país.
Em 27 de setembro de 2016, a Engevix fez um acordo de colaboração com a justiça. O acerto, estipulado em 288 milhões de reais, tem como objetivo garantir eventuais prejuízos causados à Funcef, fundo de pensão dos funcionários da Caixa, relacionados ao FIP RG Estaleiros.
2ª fase – Em 8 de março de 2017, a Polícia Federal deflagrou a segunda fase da operação. Em São Paulo foi realizado um mandado de busca e apreensão. Em Andradina, no interior, a polícia cumpriu três mandados de busca e apreensão e um de prisão, de Mario Celso Lopes, sócio na Eldorado Celulose. Os alvos são acusados de esconder provas e cooptar testemunhas que poderiam auxiliar as investigações. A suspeita é que dois sócios de um dos maiores grupos empresariais investigados pela Greenfield, a J&F, fizeram um contrato de 190 milhões de reais para mascarar o suborno a um empresário concorrente com o objetivo de impedir que esse empresário revelasse informações de interesse da investigação.
A força-tarefa da Operação Greenfield, responsável por investigar desvios em fundos de pensão, no FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) e na Caixa Econômica Federal, conseguiu apreender recursos e fazer acordos com investigados para ressarcir R$ 11 bilhões aos cofres públicos.
O montante corresponde a valores recolhidos em operações policiais, ativos repatriados do exterior e reparações pactuadas com colaboradores e empresas suspeitas de causar perdas ao erário.
Entre os valores obtidos pela força-tarefa, constam R$ 51 milhões achados em um bunker atribuído ao ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB-BA), em Salvador.
Há ainda um quadro de Di Cavalcanti, avaliado em US$ 216 mil, devolvido pelo ex-conselheiro do FGTS André Luís de Souza. A obra teria sido adquirida com propinas e vai agora ser exposta na Caixa Cultural, em Brasília.
O grosso dos recursos refere-se, no entanto, aos R$ 10,3 bilhões pactuados no acordo de leniência da J&F, holding que controla a JBS, dos irmãos Joesley e Weley Batista. Ela prevê o pagamento em parcelas, durante 25 anos. Por ora, R$ 100 milhões entraram nos cofres públicos, segundo os investigadores.
Uma revisão do termo, que poderá elevar a multa e o ressarcimento, foi aberta após levantados indícios de que os delatores do grupo omitiram informações em seus depoimentos.
Acordos
Foram feitos também acordos com empresas que se comprometeram a cobrir prejuízos a fundos de pensão. Por meio desses entendimentos, elas se livraram de restrições impostas pela Justiça, em troca de cobrir as perdas.
Num deles, por exemplo, a Engevix acertou o pagamento de R$ 288 milhões para cobrir danos à Funcef, dos funcionários da Caixa, relacionados a perdas do FIP (Fundo de Investimento em Participações) RG Estaleiros.
Em outro caso, o Bradesco pagou R$ 111 milhões ao Petros, dos funcionários da Petrobras; à Funcef e à Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam). O valor corresponde ao montante aportado no FIP Enseada, investimento que está sob investigação.
O balanço consta do relatório de atividades da força-tarefa, composta por procuradores do Ministério Público Federal em Brasília. O documento foi enviado à procuradora-geral da República, Raquel Dodge.