Para as famílias com renda de até três salários mínimos a proporção de endividados avançou de 79,2% em junho para 79,4% em julho. Inadimplência também cresceu
As famílias de baixa renda iniciaram o segundo semestre de 2023 mais endividadas, de acordo com dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgados na terça-feira (8).
Em junho a proporção de lares endividados no país desceu de 78,5% em junho para 78,1% em julho, puxada pelos grupos com rendas superiores a três salários mínimos mensais. No entanto, para as famílias de renda baixa, até três salários mínimos, a proporção de endividados avançou 0,2 ponto porcentual, de 79,2% em junho para 79,4% em julho.
Entre os mais pobres, ainda, a inadimplência subiu 0,3% e atingiu 37,3%. Já a parcela dos que afirmaram não terem condições de pagar suas dívidas atrasadas há mais tempo teve um aumento de 0,2%, chegando a 16,6% em julho.
Para tentar atenuar o alto endividamento no Brasil, consequência do péssimo desempenho econômico dos últimos anos – com alto nível de desemprego, desvalorização salarial, inflação -agravado pela política de juros altos do Banco Central (BC), o governo Lula lançou “o programa Desenrola” no início de julho. Essa iniciativa, que propõe a renegociação de dívidas bancárias de pessoas com renda entre R$ 2,6 mil e R$ 20 mil, contribuiu para uma ligeira redução no percentual de famílias endividadas, em princípio no bolso da classe média, mas não ainda no dos mais pobres, cujo a operação do programa para esse grupo começa somente em setembro.
No entanto, ao mesmo tempo que o governo busca desafogar o orçamento das famílias, as taxas de juros seguem elevadas no Brasil por determinação do Banco Central, já que com a decisão do Copom do BC de cortar a taxa básica de juros (Selic) em apenas 0,5 ponto percentual, após ter mantido a taxa por doze meses em 13,75%, os brasileiros seguem sendo os maiores pagadores de juros reais do mundo – quando descontado a inflação. Seguindo com os juros reais altos terá que haver um “Desenrola” por ano.
A pesquisa da CNC considera as dívidas com cheque especial, cartão de crédito, carnê de lojas, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e de casa.
Em julho, o número de endividados no cartão de crédito foi de 85,9%. Não é à toa que o cartão de crédito seja apontado como o vilão das dívidas. A taxa média de juros cobrada pelos bancos nas operações com cartão de crédito rotativo atingiu 455,1% ao ano em maio, o maior nível desde março de 2017. Comparando com o ano anterior, esta taxa estava em 368,8%, o que corresponde a uma diferença de 86,3 pontos porcentuais.
O cartão de crédito normalmente é usado para o consumo de bens e serviços, mas passou a ser uma válvula de escape para as compras do dia a dia, em meio a queda da renda e a carestia dos alimentos que assolou o Brasil nos últimos anos. Uma taxa de 455,1% ao ano representa juros de 15,18% ao mês para quem não consegue pagar o cartão.
Segundo dados do BC, ainda, a taxa média de juros cobrada nas operações de crédito para pessoas físicas no quinto mês de 2023 chegou a 59,9% ao ano, alta de 9,5 pontos na comparação com maio de 2022. Destaque para o crédito pessoal, com taxa média de 24,8%, e o cheque especial, com 130,7% ao ano.