Com o anúncio da retirada dos subsídios aos combustíveis, o que passou a vigorar a partir da meia-noite de quarta-feira, os preços dispararam e houve elevação de até 123% nos valores cobrados à população.
A medida adotada pelo presidente, Lenín Moreno – que atende a imposição aceita quando de um acordo com o FMI, através do qual o país já se endividou em 4,2 bilhões de dólares e ainda deve se atolar em mais empréstimos – sublevou o país.
Os transportes pararam com uma greve nacional e várias estradas e cruzamentos foram interrompidos com barricadas de colchões e pneus em chamas.
As ruas de Quito foram tomadas por manifestantes com faixas e cartazes exigindo “Abaixo o Pacotaço” e “Não à Dívida com o FMI”.
Os manifestantes se dirigiram ao Palácio do Governo que foi cercado por um forte aparato policial e militar.
Sem mencionar a submissão da economia do país ao FMI, Moreno declarou que “os subsídios distorciam a economia” e que suprimi-los “é uma medida saneadora”.
Diante das manifestações, Moreno declarou que não vai recuar e, no intuito de conter os protestos, decertou “Estado de Exceção”, através do qual, direitos dos cidadãos, a exemplo da inviolabilidade da residência e inviolabilidade da correspondência, são suprimidos, assim como liberdades democráticas, a exemplo de liberdade de deslocamento, de associação e reunião e de informação. A medida ditatorial enseja também o estabelecimento de censura prévia aos meios de comunicação.
Também começam a circular informações de que atentados aos direitos trabalhistas – a exemplo do corte das férias em 15 dias e ainda a ameaça de demissões em massa entre os servidores públicos, assim como o rebaixamento do teto salarial dos que ficarem – estão a caminho. Também está previsto o aumento de impostos indiretos, tudo como imposição do FMI para a garantia de saldo para pagar bancos e o endividamento com o Fundo. Por outro lado, as taxas de importação de produtos eletrônicos, entre outros, serão rebaixadas.
Moreno diz que tudo isso, não levará o país ao fundo do poço, mas, ao contrário, irá “dinamizar a economia”. Já o FMI, em seu relatório, diz que as medidas, ao invés de seu caráter nitidamente recessivo, “vão aumentar a confiança do investidor estrangeiro no país”.
O ex-presidente do Banco Central do Equador, Andrés Arauz, desmente os supostos intentos positivos do pacotaço: “Fica determinado que não se deve investir em obras públicas, se devem acumular reservas para que sejam levadas aos bancos. Buscam extrair liquidez para depositá-la fora do país. O programa estipula que, até 2022, devem existir reservas no exterior de 15 bilhões de dólares, quando agora elas estão em 4 bilhões”.
Mesías Tatamuez, presidente da Frente Unitária dos Trabalhadores (FUT) denunciou que “o governo tirou a máscara e baixou um pacotaço neoliberal seguindo ordens do FMI, onde todo o peso dessa desgraça econômica é jogado sobre os ombros do povo equatoriano”.
O dirigente de uma cooperativa de taxis, Carlos Gúzman, que comandava um protesto de taxistas no centro histórico de Quito, declarou: “Enquanto não se dê marcha ré nos aumentos dos combustíveis, nós não deixaremos de protestar”.