Sobreviventes de Auschwitz, na Polônia, o maior e mais terrível campo de extermínio nazista, comemoraram no último sábado os 73 anos da sua libertação pelo Exército Vermelho. No dia 27 de janeiro de 1945, após um duro confronto em que perderam 231 soldados, as tropas soviéticas puseram fim ao reinado de terror das câmaras de gás e crematórios.
No local, foram assassinadas cerca de um milhão de pessoas, sendo que no auge da matança, em 1944, morreram diariamente seis mil homens, mulheres e crianças. Os sobreviventes foram encontrados em situação famélica. Pela sua relevância, a ONU reconheceu a data como o “Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto”, o genocídio que pôs fim à vida de milhões de judeus.
Já na chegada ao campo, lembra Anita Lasker, um médico e um comandante questionavam a idade e o estado de saúde dos prisioneiros, sendo imediatamente encaminhados para trabalhos forçados ou ao crematório. O notório Josef Mengele, um dos médicos preferidos de Hitler, se ocupava da “seleção”.
“Levavam mulheres para o Bloco 10. Lá, elas eram esterilizadas, isto é, se faziam com elas experiências como se costuma fazer com porquinhos da Índia. Além disso, faziam experiências com gêmeos: quase lhes arrancavam a língua, abriam o nariz, coisas deste tipo”, recorda Lasker.
Assim que entrou no campo Annete Cabelli teve seu irmão usado como cobaia humana, com os testículos cortados aos 17 anos. “Eu trabalhava numa barraca usada como hospital. Pela manhã tirávamos todos os mortos. Havia mulheres que ainda não estavam mortas. Moribundas, tinham parte do corpo comido pelos ratos”, denuncia.
“A cada semana era feita uma triagem. As pessoas tinham de ficar paradas durante várias horas diante de seus blocos. Aí chegava Mengele, o médico da SS. Com um simples gesto, ele determinava o fim de uma vida com que não simpatizasse”, explica a sobrevivente Charlotte Grunow. Conforme recorda Waclaw Dlugoborski, “já na chegada ao campo tínhamos o corpo tatuado”, com várias pessoas sendo submetidas às terríveis “experiências” nazis.
Criado em 1940, a cerca de 60 quilômetros de Cracóvia, Auschwitz foi utilizado inicialmente como um campo para prisioneiros políticos, logo ampliado em 1941. A partir de então, tropas da SS (Schutzstaffel) começaram a colocar em funcionamento a máquina da morte. De acordo com Lasker, várias firmas alemãs se utilizavam de quem estava mais apto para o trabalho escravo nos “centros de produção”, onde a expectativa de vida era de apenas três meses.
Antes da chegada do Exército Vermelho, na tentativa de sumir com os vestígios dos seus crimes, os nazistas implodiram as câmaras de gás e evacuaram a maioria dos prisioneiros. Quando o oficial soviético Anatoly Shapiro entrou em Auschwitz se deparou com o horror: “Vimos algumas pessoas vestidas com trapos. Não pareciam seres humanos. Estavam puro osso. Lhes dissemos que estavam livres, porém não reagiam. Não podiam mover a cabeça e sequer dizer uma palavra”.
LEONARDO SEVERO