
A economista e professora da UFRJ, Denise Gentil, participou, no últimos dia 25, no Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, do lançamento do livro “Produção versus Rentismo – Trabalhadores e empresários pela reindustrialização do Brasil”, organizado por Carlos Pereira, redator especial da Hora do Povo e membro do Comitê Central do PCdoB. (Leia: Debate no Clube de Engenharia propõe unidade nacional “contra o rentismo parasitário”)
Para Gentil, nos últimos 40 anos, o Brasil se transformou em uma “plataforma de valorização financeira” para atender ao capital especulativo internacional, hegemonizado pelos Estados Unidos, adotando uma política “seletiva austeridade fiscal e de juros elevados”. Uma política “altamente restritiva, administrada por um Banco Central independente – independente evidentemente de nós, independente dos cidadãos brasileiros –, e totalmente servil e subserviente à elite financeira do país e à elite externa, essa mesma elite que precisa dos nossos juros altos para sustentar uma taxa de lucro lá fora em queda”.
Esse aperto monetário, ressalta, determina o valor da força de trabalho, determina que “os salários sejam sempre baixos, sejam sempre rebaixados, porque taxa de juros alta e austeridade fiscal têm um objetivo: controlar o mercado de trabalho, controlar o preço da força de trabalho, permitir uma superexploração dessa força de trabalho. E isso completa esse quadro de retorno que esse capital precisa numa situação de queda, repito, da taxa de lucro tanto lá quanto aqui”.
“O resultado disso é um retrocesso absolutamente trágico na nossa estrutura produtiva, um retrocesso que é emplacado por essa brutal desindustrialização e por uma reprimarização na nossa economia, que faz de nós uma neocolônia. Uma neocolônia agora não apenas exportadora de matérias-primas e produtos primários, produtos industrializados pouco elaborados, mas principalmente um paraíso rentista, um paraíso do capital especulativo, um país que alimenta o pior tipo de capital, que é o capital da agiotagem”.
Para a economista, para o país retomar o processo de reindustrialização, será necessário romper com a lógica neoliberal que sufoca os investimentos públicos coordenados pelo Estado. “Sem um bloco de investimentos comandado pelo Estado, sem a liderança estatal coordenando e conduzindo um processo de reindustrialização, sem investimento absolutamente brutal em educação, sem investimento em ciência e tecnologia, sem que tenhamos financiamento para essa reindustrialização através dos bancos públicos, como o BNDES e os bancos regionais de desenvolvimento, não será possível financiar a indústria, como está aqui nesse livro dito várias vezes”.
“Só que o BNDES não pode mais receber aporte de recursos a União, porque o arcabouço fiscal está proibindo que a União faça esses aportes de recursos aos bancos públicos. Então, como vai ser? Como vai sair o financiamento para essa reindustrialização?”
“Os investimentos públicos estão todos debaixo do arcabouço fiscal, uma coisa que nunca tinha acontecido nesse país. Com todo o ajuste fiscal que foi feito no governo Lula 1, 2 e Dilma, em todos esses momentos, os investimentos estiveram fora do cálculo do resultado primário. E foi por isso que nós tivemos PAC, por isso tivemos pré-sal, os investimentos da Petrobrás, que eram responsáveis pela taxa de crescimento do país. Não pode mais existir isso porque existe uma coisa chamada arcabouço fiscal gerido pelo ministro Fernando Haddad, que joga contra o desenvolvimento do país.”
“Não podemos também, evidentemente, fazer reindustrialização sem que façamos a redução do custo de energia do país, sem a redução do custo de transporte do país. Não podemos fazer uma reindustrialização que não modifique a nossa pauta exportadora, que a nossa exportação tenha conteúdo tecnológico. Mas para exportações com conteúdo tecnológico, é preciso uma mudança radical no pacto social com o agronegócio. Então, precisamos enfrentar o agronegócio não só para exportamos com conteúdo tecnológico, mas para mudarmos a gestão dos preços dos alimentos nesse país, se é que existe uma gestão. Os trabalhadores estão à míngua, com fome, porque os preços dos alimentos sobem frequentemente. Qual é a nossa política de controle dos alimentos num país que é um celeiro desse planeta? Zero”.
“Por fim, não há como você superar todas essas barreiras, internas e externas, sem lideranças radicais. Sem lideranças nacionalistas, comprometidas com a classe trabalhadora. Então, eu agradeço muito a presença nesse seminário, porque esse seminário é o nosso chamado. Eu acho, Carlos, que você cumpriu uma meta de vida. Eu admiro muito o seu posicionamento diante do mundo. Você é um companheiro de grande respeito e eu lhe parabenizo por nunca desistir. Muito obrigada”.
A seguir, a íntegra do debate.