“As declarações e posicionamentos de Trump e sua equipe, assim como as informações que vazaram nos últimos dias em torno do assim-chamado ‘Acordo do Século’, mostram que ele não é nada mais do que uma tentativa de legalizar e reconhecer o apartheid de Israel”, denuncia o Ministério do Exterior e dos Expatriados da Palestina
Segundo o recente documento, lançado a poucos dias do programado encontro em Manama, Bahrein, organizado pelos EUA e que deve se realizar no dia 25, onde pretende apresentar o “Acordo do Século”, “Trump está apenas adotando aquilo que a extrema-direita em Israel lhe está ditando, está implementando a ideologia fanática e racista de Israel”.
APOIO AOS CRIMES DE ISRAEL
Alerta ainda o ME palestino que o “Acordo” é “o reconhecimento e patrocínio da colonização ilegal na Palestina ocupada” e, com isso, “fornece a Israel e seus partidos extremistas de direita, no poder, mais apoio a que ocupe ilegalmente e anexe mais terras palestinas”.
“Trump e seu governo estão também encorajando Israel a continuar seus crimes contra o povo palestino e a levar adiante a ilegal colonização de suas terras, incluindo os ataques aos sítios sagrados”, prossegue, acrescentando que “os EUA estão destruindo e pisoteando as demandas legítimas dos palestinos, suas esperanças de viver em seu próprio Estado independente e soberano.
O “Acordo do Século”, esclarece ainda o ME palestino, “é uma pressão sobre os palestinos para que aceitem a ilegalidade da colonização de sua pátria, além da garantia a Israel de mais luz verde para o assalto ilegal de terras palestinas para suas colônias”.
“Trata-se de um projeto do expansionismo colonialista pelo qual os EUA tentam forçar os palestinos a aceitarem – através de alguns incentivos econômicos e direitos civis limitados, em troca dos direitos conquistados e mundialmente reconhecidos – a sua renúncia à liberdade e independência”.
“ACORDO DO SÉCULO”: SABOTAGEM À PAZ
A Autoridade Nacional Palestina, através desse documento de seu Ministério do Exterior, responsabiliza os Estados Unidos por estarem criando, “com seus posicionamentos, um clima e uma atmosfera, em torno desse apelidado “Acordo do Século”, de forma a encorajar os extremistas e os colonos a açambarcarem o restante da terra palestina”, ao invés de contribuírem para um ambiente favorável a qualquer acordo de paz justo, abrangente e verdadeiro.
No mesmo sentido, o secretário-geral da Organização de Libertação da Palestina – OLP, Saeb Erekat, em encontro com a representante da União Europeia para o Oriente Médio, Susanna Terstal, destacou que “alcançar uma paz justa, abrangente e duradoura, não se fará através de tentativas de encontro de equações pelas quais haja a coexistência pacífica entre a vítima e o executor, entre a potência ocupante e o povo sob ocupação, nem pelas tentativas de levar este povo a aceitar sistemas e leis fundados com base no apartheid e no racismo”.
Erekat destacou que a “busca de mudança dos termos de referência ao processo de paz representados pela lei internacional, pela legalidade internacional, pela Iniciativa de Paz Árabe e pelos acordos já firmados, é destinada ao fracasso”.
OS TERMOS DA FRAUDE DO SÉCULO
O jornal israelense “Israel Hayom” (Israel Hoje), publicou um documento que circulou no Ministério do Exterior de Israel, detalhando os elementos centrais do plano de paz bancado pelos Estados Unidos.
Estes são os pontos, segundo o documento publicado pelo jornal israelense:
– Um acordo de três partes a ser assinado pelo regime de Israel, a Autoridade Palestina, atualmente com sede em Ramallah e o Hamas, que controla a empobrecida, bloqueada e cercada Faixa de Gaza.
– Como resultado deste acordo seria estabelecido um Estado denominado de “Nova Palestina”.
– A “Nova Palestina” seria estabelecida nos territórios da Cisjordânia e Faixa de Gaza, excetuando-se os blocos de assentamentos judaicos em terras palestinas de Cisjordânia. Tais blocos, que são ilegais sob a lei internacional e sob as resoluções da ONU, em especial a 2334, de seu Conselho de Segurança, passariam ao controle do regime de Israel e poderiam se expandir de forma a se encontrarem formando um enclave territorial na palestina ocupada.
– Além disso, a ocupada Jerusalém Oriental, árabe, e a Jerusalém judaica não seriam partes divididas em duas cidades, cada qual como capital de um dos dois países, Israel e Palestina, mas se tornariam uma cidade única, compartilhada por Israel e pela “Nova Palestina”, com o regime de Israel no seu controle geral. Os integrantes da população árabe de Jerusalém, se tornariam cidadãos da “Nova Palestina”, mas sob os auspícios da municipalidade controlada por Israel, da mesma forma a sua terra e propriedades em termos de imóveis. Neste esquema, o novo Estado palestino, assim formado, pagaria taxas municipais e pela água à prefeitura israelense de Jerusalém.
Após tomar conhecimento das linhas gerais, dos termos estabelecidos para a rendição palestina em troca de um punhado de dólares e um bantustão para chamar de seu, o primeiro-ministro palestino, Mohammad Shtayyeh, rechaçou a iniciativa de Trump, assegurando que ela “já nasceu morta”.
Shtayyeh destacou que negociações com o atual governo norte-americano, após a transferência de sua embaixada para a ocupada Jerusalém, capital do futuro Estado da Palestina, “deixaram de fazer sentido”.
A RECUSA DO LÍBANO, RÚSSIA E CHINA
O Líbano foi o primeiro país árabe a declarar que não irá ao encontro programado para o Bahrein no final deste mês. “Nós não iremos participar da conferência do Bahrein porque os palestinos não irão e nós preferimos ter uma ideia clara do plano de paz proposto e a respeito do qual não fomos consultados”, afirmou o ministro do Exterior do Líbano, Gebran Bassil.
Tanto a China quanto a Rússia já avisaram que não irão a Manama para o encontro programado por Trump. O embaixador da China para a Palestina, Guo Wei, informou a Nabil Shaath, conselheiro para política externa do presidente da Palestina, Mahmud Abbas, de que a Rússia e China concordaram no boicote ao encontro, conforme publicou o portal Palestine Chronicle.
NATHANIEL BRAIA