O general da reserva Francisco Mamede de Brito Filho afirmou que a intenção já anunciada de Jair Bolsonaro de acabar com a democracia “vai inclusive distanciar um pouco mais os comandantes e as tropas do governo”.
Para Brito Filho, a saída dos três comandantes das Forças Armadas – Edson Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Moretti Bermudez (Aeronáutica), depois que o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, foi demitido, é “uma mensagem para ratificar que não existe nenhuma intenção de se aventurar politicamente dentro de um quadro conturbado, de crise, sabendo que existem instituições democráticas consolidadas que vão apresentar uma solução para o problema”.
O general disse que foi um desrespeito a forma como Bolsonaro retirou os militares dos cargos. Segundo ele, as demissões aconteceram abruptamente e sem explicações.
“O ministro Fernando [Azevedo e Silva] dormiu no domingo como ministro e na segunda saiu com uma carta de demissão”, disse.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, o general, que comandou o contingente brasileiro na missão de paz da ONU no Haiti, disse que a formação dos comandantes das Forças Armadas não condiz com o golpismo de Jair Bolsonaro.
“As quatro turmas de formação que estão hoje no Alto Comando foram contemporâneas minhas. Conheço muito bem o treinamento, e há uma coisa muito bem definida na nossa formação: a de que militares cuidam da sua tropa. Têm que buscar a sua profissionalização. Abandonar a política para quem vive de política, que não são os militares”, contou.
“Essa era uma máxima durante nossa carreira: comandante tem que cuidar da tropa, de seus afazeres institucionais. À medida que o tempo foi passando, com o fortalecimento das instituições, ficava mais claro e evidente que as instituições nacionais estavam fortes o suficiente para administrarem o governo democrático que foi estabelecido”, continuou.
Brito Filho disse que a postura de Jair Bolsonaro é “de uma pessoa que não tem noção do tamanho da responsabilidade que ele tem como presidente, que não se conscientizou da estatura do cargo que assumiu como presidente, como chefe de estado”.
O general da reserva também criticou a carta de Braga Netto, novo ministro da Defesa, em que saudou o golpe de 1964. Para Francisco Brito Filho, “as manifestações e a própria nota podem ser questionadas. Não é o momento de ficar aqui reabrindo feridas que estão cicatrizando”.
“Não cabe a uma pessoa que ocupa um cargo público, que tem responsabilidade diante de toda uma sociedade, se manifestar a favor de um evento que dividiu essa sociedade. Sob todos os aspectos, não era o momento adequado para se fazer referências, redigir notas, fazer manifestações em público sobre o que aconteceu no período”, continuou.
“A prova maior está nas fortes reações que a simples menção a esse evento provoca. Deixam claro para a gente que a sociedade ainda não cicatrizou das feridas provocadas por esse período”, asseverou.
Francisco Mamede Brito Filho foi secretário do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep) em 2019, mas pediu demissão decepcionado com o governo Bolsonaro.
Ele comentou que teria pedido demissão se fosse um membro de primeiro escalão do governo Bolsonaro quando da reunião de maio de 2020, cuja gravação foi tornada pública pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por conta da investigação sobre as intervenções políticas na PF.
As gravações mostraram que o ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, chamou os ministros do STF de vagabundos e disse que eles deveriam ser presos.