Ex-ajudante de Bolsonaro instigou quebradeira no Congresso e, agora, diz que se “arrepende”. “Entraram no Planalto, no Congresso, na Câmara e no STF e quebrou, arrancou as togas daquele ladrão”, disse Luis Marcos no dia 8 de janeiro
Entre outros disparates ditos para enrolar, Luis Marcos dos Reis, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, falou à CPMI do Golpe que participou do atentado do dia 8 de janeiro, em Brasília, por “curiosidade”.
Dos Reis, como é conhecido, contou que ficou sabendo do atentado pela televisão e, durante a tarde, foi até o Congresso Nacional para fazer parte do movimento golpista.
“Este foi um ato impensado. Tirei foto. Subi [a rampa do Congresso Nacional]. Realmente, foi um momento impensado. Se a senhora me perguntar se eu me arrependi, eu me arrependi. Mas não tinha ninguém ali embaixo falando ‘não pode subir’”, disse o ex-ajudante de ordens.
Ele falou que ficou sabendo pela televisão sobre a invasão das sedes dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e “por curiosidade” foi até o local. Questionado, admitiu que já tinha ido ao acampamento golpista em frente ao Quartel-General do Exército.
No dia 8 de janeiro, durante o golpe, tirou fotos e fez vídeos, que depois enviou para seus amigos, celebrando o atentado contra a democracia.
Para um primo, Luis Marcos dos Reis enviou um áudio contando que “o bicho pegou” na Praça dos Três Poderes. “Entraram no Planalto, no Congresso, Câmara dos Deputados, entrou no STF. E quebrou, arrancou as togas lá daqueles ladrão [sic]. Arrancou tudo! Foi, foi. O bicho pegou hoje aqui!”.
Em outra mensagem, falou que “o recado foi dado” através da depredação dos prédios públicos. Disse ainda que o “combate”, como ele chamou a tentativa de golpe, “foi muito bonito”.
“Primeira vez que eu vejo, entraram no Planalto, no Congresso, na Câmara e no STF e quebrou, arrancou as togas daquele ladrão. O bicho pegou hoje, spray de pimenta, gás lacrimogêneo, o pau torou aqui”, gravou o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
No depoimento que prestou à CPMI do Golpe, falou que agora vê “o meu erro. Saí da minha casa, cheguei por volta de 17h na Esplanada, subi a rampa, tirei foto, cruzei pela [via] N1 o Eixo Monumental e subi em direção à minha casa andando”, relatou.
Na avaliação da relatora da CPMI, Eliziane Gama, Luis Marcos dos Reis “claramente fez apologia, incentivou e vibrou pelo 8 de janeiro, não há dúvida nenhuma. Ele fez isso através das mensagens, que estão no relatório da PF, passando para familiares e outras pessoas, a exemplo do Vanderlei, coordenador da Cedro do Líbano, mostrando uma intimidade”.
Vanderlei Cardoso de Barros, ao qual Luis se refere como “dinei”, é o dono de uma madeireira que recebeu dinheiro federal durante o governo Bolsonaro. “Dinei” fez transferências que somam R$ 18,1 mil para Luis dos Reis.
No dia 8 de janeiro, o então ajudante de ordens de Bolsonaro enviou nove vídeos que gravou no Congresso Nacional para Vanderlei.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) detalhou as movimentações financeiras de Luis Marcos dos Reis identificadas como “atípicas” pelo Coaf e avalia que é um caso de “lavagem de dinheiro. Vamos ter que descobrir por ordem de quem”.
“Tem uma coisa que me chama muito a atenção. Entre janeiro de fevereiro de 2022 e janeiro de 2023: R$ 694.500 só em TED que o senhor enviou; 215 PIX no valor de R$ 336.204; cartão de crédito R$ 86!”, destrinchou a parlamentar.
O salário de Luis Marcos dos Reis era de R$ 13 mil.
“Eu talvez até compreenda que o senhor tenha feito essa movimentação como ajudante de ordens. A pergunta que fica é: pela ordem de quem? Eu nem acho que essa lavagem de dinheiro foi iniciativa sua, pode até ser que o senhor tenha redução de pena por causa disso. Mas alguém mandou, porque esse dinheiro todo na sua conta, claramente atípico e com cara de lavagem de dinheiro, não acho que foi iniciativa sua”, completou Jandira Feghali.
RELATORA: MARCOS FELICIANO É MISÓGINO
A relatora Eliziane Gama chamou o deputado Marco Feliciano (PL-SP) de “pessoa abjeta e misógina” por comportamento “surreal” que ele tem com as mulheres no Congresso Nacional.
A discussão começou no início da sessão de quinta-feira (24). Marcos do Val mandou a deputada Laura Carneiro (PSD-RJ) ficar “quietinha”, mas depois, nas redes sociais, se fez de vítima.
Mais tarde, Feliciano usou seu tempo para contar uma versão da história na qual ele está sendo injustiçado. Ele ainda reclamou de uma falta de igualdade entre os gêneros, pois os homens “não podem nada. E se a gente fala qualquer coisa, o mundo desaba sobre nós”. Em resposta, Eliziane contou que “desde o primeiro dia em que cheguei nessa Comissão o senhor me provoca, me olha com um olhar carregado de ódio. Toda sessão é isso. O tratamento que o senhor dá às mulheres nessa Casa é surreal”.
“Você não merece ser chamado de pastor, porque pastor não é carregado de ódio, não olha com o olhar que você tem para essa mesa. Seu olhar não me intimida”, completou.
RACISMO
Ainda na sessão de quinta-feira (24), o deputado Abilio Brunini (PL-MT) gravou um vídeo fazendo um gesto conhecido por ser usado por racistas que defendem a “supremacia branca”.
Brunini, conhecido por tumultuar a CPMI, ironiza no vídeo o fato do deputado Duarte Jr. (PSB-MA) ter pedido um minuto a mais de fala por ter sido interrompido.
Brunini falou, rindo, para “dar mais três minutos”.
Enquanto fala, indica com a mão o número três usando os dedos médio, anelar e mínimo. O indicador se fecha em frente ao polegar.
Esse símbolo, que forma com os três dedos esticados um “W” e com os outros dois um “P”, é usado por racistas de todo o mundo para expressar “White Power”, ou “Poder Branco”.
Quando o vídeo com o símbolo racista viralizou nas redes sociais, Brunini falou que os “esquerdistas são um nojo”.