O governo Bolsonaro deve pingar nas contas de cerca de 20 milhões de brasileiros, a partir de 16 de abril, apenas R$ 150 de auxílio emergencial. Isto equivale a 13% do salário-mínimo pago hoje, R$ 1.100, ou 23% do custo de uma cesta básica calculada pelo Dieese, em média, de R$ 600.
Após três meses sem qualquer ajuda do governo federal, milhões de brasileiros viram minguar sua renda no pior momento da pandemia, quando os governos estaduais e prefeituras estão em estado de emergência, com os hospitais colapsados, promovendo medidas de restrições de atividades não essenciais, assim como exigindo o isolamento social para salvar vidas. E ainda enfrentam a sabotagem do governo Bolsonaro em garantir a vacinação em massa.
Pela proposta do governo federal, para driblar a fome, milhões de brasileiros terão que continuar a se expor à pandemia da Covid-19, que na semana passada, em apenas dois dias, retirou a vida de mais de 5 mil brasileiros, levando o Brasil para a marca sombria de 295 mil óbitos, desde o início da pandemia. Só nas últimas 24 horas, em 23 de março, 3.251 vidas foram ceifadas
ARROCHO
Após uma série de chantagem junto ao Congresso Nacional, para passar sua proposta de arrocho fiscal, no dia 18 de março, Jair Bolsonaro assinou a Medida Provisória (MP) da nova rodada do auxílio emergencial que será paga a trabalhadores informais e beneficiários do Bolsa Família. Desta vez, a cobertura do auxílio emergencial alcançará apenas 45,6 milhões das 68,2 milhões de famílias que foram beneficiadas pelo programa no ano passado. Ou seja, 22,6 milhões de brasileiros seguirão este ano sem nenhum tipo de apoio do governo federal.
Para aqueles que receberão a nova rodada, os valores dos benefícios serão muito inferiores aos que foram pagos em 2020. Dos contemplados, 43% ou 20 milhões de beneficiários receberão apenas R$ 150, na categoria pessoas sem dependente, segundo dados apurados pelo Estadão. Outras 16,7 milhões de famílias que têm mais de um integrante devem receber R$ 250 e 9,3 milhões, na categoria mulheres chefes de família, devem receber R$ 375. Além disso, apenas uma pessoa por família poderá receber a renda emergencial, que permanecerá por apenas 4 meses.
Em 2020, os trabalhadores informais e microempreendedores receberam quatro parcelas de R$ 600 por decisão do Congresso Nacional, podendo chegar a R$ 1.200 no caso das mulheres provedoras únicas da família, para compensar as perdas com a pandemia e ficar em casa. Na época, até duas pessoas na família podiam receber o auxílio emergencial, que foi cortado pela metade, a partir de setembro, por iniciativa de Jair Bolsonaro, que no final de dezembro encerrou o programa.
CARESTIA
Enquanto cortava o auxílio, assim como a pandemia, a carestia avançava, corroendo o poder de compra dos que receberam a renda emergencial, assim como a renda do trabalhador que continua empregado.
Entre janeiro de 2019 e o mesmo período de 2021, o preço da cesta básica de alimentos subiu 32,56%. Um pacote de arroz de 5kg que custava em 2019 em torno de R$12, pode ser encontrado hoje acima dos R$ 25, por exemplo. No final do ano passado, chegou a ser vendido por mais de R$ 40,00.
É neste quadro que a equipe econômica de Bolsonaro propõe a pagar apenas R$ 250, em média, de auxílio emergencial, ou 39% do custo equivalente de uma cesta básica na capital paulista, R$ 639,47, valor médio, para as famílias (não importando quantos dependentes).
Para trabalhadores que moram sozinhos o valor equivale a apenas 23% do custo de uma cesta básica. No caso das mães chefes de família , o valor ultrapassa um pouco mais que a metade do valor de uma cesta básica, 66%.
Neste cenário de horrores ainda, o custo de um botijão de 13kg representa a 32% do valor que o governo está propondo dar para as famílias. Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), atualizados entre 14/03/2021 a 20/03/2021, o botijão de gás de cozinha de 13kg custa em média R$ 82,18 na capital de São Paulo, mas em algumas regiões do país ultrapassou R$ 100,00.