A desindustrialização do país vem se agravando pela submissão dos últimos governos ao neoliberalismo
A balança comercial brasileira fechou 2017 com um saldo de US$ 67 bilhões e o governo soltou rojões como se estivéssemos no melhor dos mundos. E, como de costume, tentou pela enésima vez ligar este resultado das vendas externas com uma inexistente retomada do crescimento econômico interno. Infelizmente, como tudo na administração Temer, os foguetes não passaram de mais uma farisaica encenação.
Os dados falam por si. Os principais responsáveis por este resultado são produtos primários e semifaturados. Este setor apresentou em 2017 uma significativa recuperação de preços, em relação ao ano anterior. Houve em 2017, segundo dados do Ministério da Indústria Comércio Exterior e Serviços, um aumento médio de 10,1% dos preços da pauta de exportação do país. O volume de produtos exportados, por sua vez, cresceu a um ritmo menor, de 7,6%.
A recuperação dos preços dos produtos primários se deu principalmente pela demanda da China, atualmente o principal parceiro comercial do Brasil. Os preços do minério de ferro vendidos no país asiático tiveram aumento de 40,9%, o petróleo bruto de 32,2%, a celulose de 11,3%, o açúcar bruto de 10,7%, e os semimanufaturados de ferro e aço de 34% na comparação com 2016.
As vendas para a China cresceram 35,3%, chegando a US$ 50,2 bilhões contra importações de US$ 26 bilhões. Os principais produtos exportados foram soja em grão, petróleo bruto, minério bruto, carne bovina, celulose, minério de manganês, hidrocarbonetos, ferro-ligas, óleo de soja bruto, tripas e buchos de animais, miudezas de animais, algodão bruto e minério de cobre. Uma pauta de país atrasado, dependente e vulnerável.
Pelos dados das vendas para a China, tudo indica que estamos diante de mais uma efêmera elevação de preços de commodities, que tanto iludiu alguns petistas há alguns anos atrás e que acabou estimulando certos demagogos, arautos do “agro é tudo, agro é pop”. Eles pensaram que o rabo poderia balançar o cachorro. Enganam-se. Quem puxa o crescimento é a indústria. Não é o setor primário e o comércio exterior que vão sustentar o crescimento do país. Essa polêmica já foi muito bem resolvida por Roberto Simonsen contra Eugênio Gudin, na década de 40.
Tirando o petróleo bruto, que deveria estar sendo processado dentro do Brasil mas não está – prejudicando as nossas refinarias -, o resto da pauta das vendas externas do Brasil de hoje é muito semelhante a que tínhamos antes da Revolução de 1930, quando o pais ainda não tinha uma indústria digna deste nome. Depois de Getúlio, crescemos cinco décadas. Agora, com a desindustrialização acelerada, fruto da submissão ao neoliberalismo, agravada pela recessão da dupla Dilma/Temer, a pauta de exportação brasileira voltou a ser cada vez mais primária.
É o que mostra o trecho a seguir, do relatório divulgado nesta terça-feira (02) pelo governo. “A exportação de produtos básicos apresentou aumento de receita de: petróleo em bruto (+66,4%), minério de ferro (+45,6%), soja em grão (+34,1%), minério de cobre (+29,9%), milho em grão (+26,0%), carne bovina (+17,7%), algodão em bruto (+12,6%), carne suína (+9,4%) e carne de frango (+9,0%). Dentro dos semimanufaturados, os maiores aumentos ocorreram nas vendas de: ferro/aço (+56,4%), ferro fundido (+47,2%), madeira serrada (+24,8%), ferro-ligas (+18,2%), celulose (+14,8%), óleo de soja em bruto (+14,8%) e açúcar em bruto (+10,1%)”.
Pelo lado das importações o que se verifica é que o país não está comprando máquinas e equipamentos, num sinal claro de que continuamos sem investimentos e estagnados. É o que revela também o mesmo relatório do governo. “No acumulado janeiro-dezembro de 2017, quando comparado com igual período anterior, houve crescimento de importações em combustíveis e lubrificantes (+42,8%) – ou seja, o Brasil está exportando petróleo bruto e importando derivados, principalmente dos EUA -; bens intermediários (+11,2%) e bens de consumo (+7,9%), enquanto decresceram as compras de bens de capital (-11,4%)”. Em suma, o país está andando para trás na economia e na sua pauta de exportações.
O governo e a mídia retrógrada tentam relacionar o resultado positivo da balança – que no auge da época do café, no início do século 20, também apresentava frequentemente saldos positivos – com o crescimento e a modernização da economia do país. Infelizmente a coisa não é bem assim. Não há uma relação direta entre balança comercial, corrente de comércio e crescimento do PIB. Em 2014, por exemplo, a corrente de comércio do Brasil foi uma das mais altas dos últimos anos, de US$ 454,3 bilhões, enquanto a balança comercial foi negativa em US$ 4,1 bilhões e o PIB cresceu míseros 0,1%.
Em 2015, fruto da política equivocada de Dilma/Levy, o PIB desabou 3,8%, mas a balança comercial subiu, foi positiva em US$ 19,7 bilhões, com uma corrente de comércio de US$ 362,6 bilhões, praticamente igual a desse ano de 2017. Já em 2016, o PIB despencou mais 3,6% e o saldo da balança, ao contrário, foi positivo em US$ 47 bilhões. A corrente de comércio exterior foi de US$ 322,8 bilhões. Ou seja, uma crise gravíssima e a balança comercial estava lá no alto. O que mostra que saldo positivo na balança comercial muitas vezes é fruto, não de crescimento, mas sim de estagnação e recessão.
É o caso da balança deste ano. Ela foi em US$ 67 bilhões, a corrente de comércio atingiu U$ 368,5 bilhões, só que a estimativa do PIB é ridícula. Ela está, na melhor das hipóteses, em 1%. Ou seja, o país está no fundo do poço, com a indústria destroçada, mais de 25 milhões de desempregados e subempregados, sem investimentos, mas as vendas de grãos, petróleo e minérios estão a todo vapor. Uma verdadeira desgraça. Estamos vivendo uma calamidade econômica e social. Como se vê, a comemoração do governo com os resultados do comércio exterior, tentando pintar a economia de cor de rosa, é mais uma das farsas temeristas. Este saldo externo, infelizmente, não tem nada a ver com a propalada e fantasiosa retomada do crescimento econômico do Brasil.
A intervenção do governo na economia favorece alguns grupos de empresas, é um sistema de oligarquias, nada haver com capitalismo ou democracia
Este grupo de empresas que fornece apoio político e sustentação ao governo, pagam de certa forma pela ajuda política e financeira