Novos detalhes mostram que os dois eram empenhadíssimos em que o ‘mito’ desse a ordem para que se fechasse o Congresso, o Supremo e que se “eliminassem” os adversários políticos
Detalhes do depoimento do ex-ajudante de ordem de Bolsonaro, tenente-coronel Mauri Cid, revelados nos últimos dias, dão conta de que Eduardo Bolsonaro (conhecido por ‘bananinha’) fazia parte do grupo mais radical na defesa do golpe. Até aí não há novidade, afinal, o puxa-saco de Trump foi quem disse, em 2018, que só precisava de um jipe e dois soldados para dar um golpe e prender membros do Supremo Tribunal Federal (STF).
O mais curioso no depoimento de Mauro Cid, segundo relato do jornalista Elio Gaspari, é o comportamento da falsa carolinha e primeira-dama Michelle Bolsonaro. Com aquela carinha de sonsa, ela era, na verdade, segundo o ajudante de ordem, uma das mais radicais defensoras do golpe de Estado. Em áudio obtido pela PF, Mauro Cid relata conversa com Bolsonaro sobre golpe e desmente o “mito” que negava saber da trama.
Segundo o depoimento, a ala mais golpista entre auxiliares de Bolsonaro, de acordo com Cid, também era composta pelo General Mario Fernandes, secretário executivo do general Luiz Eduardo Ramos; Onix Lorenzoni, ministro da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro; Jorge Seif, senador; Gilson Machado, ministro do Turismo e Magno Malta, senador.
Essas novas revelações não retiram a importância do papel jogado pelos coordenadores do golpe que estavam ainda mais próximos do governo, como o general Braga Neto e o general Augusto Heleno, por exemplo. Cid afirmou à Polícia Federal que três assessores presidenciais utilizavam a estrutura do governo, em uma sala do Palácio do Planalto, para produzir parte do conteúdo que o então presidente difundia para seus contatos e nas redes sociais.
Leia a íntegra do depoimento de Mauro Cid
A Polícia Federal conduz investigação que apura a prática de atos relacionados a uma possível tentativa de execução de um Golpe de Estado e Abolição violenta do Estado Democrático de Direito ocorridos após o resultado do segundo turno das eleições presidenciais de 2022.
Nesse sentido, INDAGADO sobre os elementos que têm conhecimento em relação aos referidos fatos investigados, respondeu QUE depois que acabou o período eleitoral, o então Presidente JAIR BOLSONARO recebia diversas pessoas, sempre no Palácio da Alvorada; QUE as pessoas que visitavam o então Presidente formavam três grupos distintos; QUE tinha um grupo bem conservador, de linha bem política; QUE aconselhavam o Presidente a mandar o povo para casa, e colocar-se como um grande líder da oposição: QUE diziam que o povo só queria um direcionamento; QUE para onde o PRESIDENTE mandasse, a povo iria; QUE o grupo era formado pelo Senador FLAVIO BOLSONARO, ° AGU BRUNO BIANCO, CIRO NOGUEIRA (então Ministro da Casa Civil) e o Brigadeiro BATISTA JUNIOR (então Comandante da Aeronáutica): QUE o outro grupo era formado por pessoas moderadas: QUE apesar de não concordar com o caminho que o Brasil estava indo, com abusos jurídicos, prisões e não concordar com a condução das relações institucionais que ocorriam no país, entendiam que nada poderia ser feito diante do resultado das eleições: QUE qualquer coisa em outro sentido seria um golpe armado; QUE representaria um regime militar por mais 20, 30 anos: QUE esse grupo era totalmente contra isso; QUE o grupo se subdividia em dois: QUE um primeiro grupo era composto basicamente por generais da ativa que tinham mais contato com o então Presidente da República JAIR BOLSONARO; QUE eram as pessoa que o então PRESIDENTE mais gostava de ouvir; QUE o grupo era composto pelo COMANDANTE DO EXERCITO GENERAL FREIRE GOMES; pelo GENERAL ARRUDA, Chefe do DEC – Departamento de Engenharia e Construção: pelo GENERAL TEOFILO, chefe do COTER – Comando de Operações Terrestres; pelo GENERAL PAULO SERGIO, então Ministro da Defesa; QUE esse grupo temia que o grupo radical trouxesse um assessoramento e levasse PRESIDENTE JAIR BOLSONARO assinar uma “doidera”;
QUE o GENERAL FREIRE GOMES estava muito preocupado com essa situação, com que poderia acontecer com esse pessoal que la para o Palácio da Alvorada; QUE estavam preocupados com o grupo radical que estava tentando convencer o então Presidente a fazer “alguma coisa”, um golpe: QUE havia um outro grupo de moderados que entendia que o ex-Presidente deveria sai do pais: QUE o próprio colaborador sugeriu que o ex-Presidente deveria sair do país; QUE o grupo era composto pelo PAULO JUNQUEIRA, empresário do agronegócio, que financiou a viagem do Presidente para os EUA; por NABAN GARCIA, que ocupou algum cargo na secretaria de agricultura, e por fim o senador MAGNO MALTA que tinha uma posição mas radical e se juntou ao referido grupo entendendo que o presidente deveria deixar o país; QUE o terceiro grupo, denominado pelo colaborador como “radicais”, era dividido em dois grupos; QUE o primeiro subgrupo “menos radicais* que queriam achar uma fraude nas umes: QUE o segundo grupo de “radicais” ara a favor de um braço armado; QUE gosteriam de alguma forma incentivar um golpe de Estado; QUE queria que ele assinasse o decreto: QUE acreditavam que quando o Presidente desse a ordem, ele teria apolo do povo e dos CACs: QUE ‘romantizavam” o art. 142 da Constituição Federal como o fundamento para o Golpe de Estado; QUE o primeiro grupo que defendia a identificação de uma possível fraude nas umas era o que o ex-Presidente mais pressionava; QUE JAIR BOLSONARO quena uma atuação mais contundente do GENERAL PAULO SÉRGIO em relação a Comissão de Transparência das eleições montada pelo Ministério da Defesa: QUE JAIR BOLSONARO queria que o documento produzido fosse “duro”; QUE o grupo era composto pelo GENERAL PAZZUELLO, pelo PRESIDENTE DO PL VALDEMAR DA COSTA NETO. pelo MAJOR DENICOLE e por um grupo de pessoas que prestavam assessoramento técnico: QUE nessa época após o segundo turno, recebiam multas informações de fraudes; QUE o presidente repassa as possíveis denúncias para os GENERAIS PAZZUELLO e PAULO SERGIO para que fossem apuradas; QUE o grupo tentava encontrar algum elemento concreto de fraude, mas a maioria era explicada por questões estatísticas: QUE as informações estatísticas foram tratadas pelo MAJOR DENICOLE;
QUE O MAJOR DENICOLE era quem geralmente trazia os dados ao ex-presidente: QUE o grupo não identificou nenhuma fraude nas umas: QUE a única coisa substancial que encontraram foi a questão das umas antigas que ensejou a ação do PL; QUE o Senador HEINZ, que também integrava esse grupo, usava um documento do Ministério Publico miitar que dizia que como o país estava em GLO, para garantia des eleições, o Senador entendia que as forças armadas poderiam pegar uma uma, sem autorização do TSE ou quaiquer instancia judicial, para realização de testes de integridade; QUE o senador encaminhava esse entendimento tanto ao Colaborador, quanto ao ex-presidente JAIR BOLSONARO para que repassassem esse entendimento ao Ministro da Defesa: QUE o ex-presidente não encampou esse entendimento; QUE o ex-Diretor-Geral da PRF SILVINEL VAQUES era politizado; QUE ela comparecia a todos os eventos políticos; QUE ele esteve com o ex-Presidente por agumas ocasiões durante o período pré-eleitoral: QUE não informar o que tratava: QUE a questão de compra de votos era um preocupação constante do ex-Presidente; que reclamava de maneira genérica; QUE não participava das reuniões entre o ex-Presidente e os Ministros e os Generais; QUE esse grupo tinha ligação com o Argentino: QUE quanto a parte mais radical, não era um grupo organizado, eram pessoas que se encontravam com presidente, esporadicamente, com a intenção de exigi uma atuação mais contundente do então Presidente: QUE uma dessas pessoas era FELIPE MARTINS, ex assessor internacional do ex presidente e ligado à área mais ideológica; QUE FELIPE MARTINS vinha acompanhado de um jurista, que não se recorda um noma; QUE o colaborador se recorda que o referido jurista escreveu livros sobre Garantias Constitucionais; QUE os encontros ocorreram em meados de novembro de 2022:
QUE em um dos encontros o jurista também foi acompanhado de um padre; QUE foram mais de dois encontros dessas pessoas com o ex-Presidente JAIR BOLSONARO; QUE FELIPE MARTINS juntamente com esses juristas apresentaram um documento ao Presidente JAIR BOLSONARO, no Palácio da Alvorada; QUE o documento tinha várias páginas de “considerandos’, que retratava as interferências do Poder Judiciário no Poder Executivo e no final era um decreto que determinava diversas ordens que prendia todo mundo; QUE determina as prisões dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, dentre eles ALEXANDRE DE MORAES, GILMAR MENDES e outros; QUE determinava também a prisão do Presidente do Senado RODRIGO PACHECO e de outras autoridades que de alguma forma se opunham ideologicamente ao ex-presidente; QUE decretava novas eleições: QUE não dizia quem iria fazer, mas sim, o que fazer; QUE o ex-presidente recebeu o documento, leu e alterou as ordens, mantendo apenas a prisão do Ministro ALEXANDRE DE MORAES e a realização de novas eleições devido a fraude no pleito:
QUE o colaborador teve ciência do documento quando FELIPE MARTINS apresentou ao colaborador o documento impresso e de forma digital para que fossem feitas as corações: QUE FELIPE MARTINS tinha uma versão digital em seu notebook, que levou para a reunião; QUE FELIPE MARTINS não alterou o documento, conforme pedido pelo então PRESIDENTE JAIR BOLSONARO, naquele momento; QUE alguns dias depois FELIPE MARTINS retomou juntamente com o jurista trazendo o documento alterado conforme solicitado pelo então PRESIDENTE JAIR BOLSONARO, no Palácio da Alvorada: QUE o presidente concordou com os termos ajustados e em seguida mandou chamar, no mesmo dia, os Generais, comandantes das forças; QUE participaram o ALMIRANTE GARNIER, GENERAL FREIRE GOMES & • BRIGADEIRO BATISTA JUNIOR:
QUE nessa reunião com os Generais o presidente apresentou apenas os “considerandos” (fundamentos dos atos a serem implementados) sem mostrar as ordens a serem cumpridas (prisão do Ministro ALEXANDRE DE MORAES e a realização de novas eleições); QUE na reunião com os Generais, FELIPE MARTINS foi explicando cada item QUE o colaborador participou da reunião, operando a apresentação no computador; QUE o ex-presidente queria pressionar as Forças Armadas para saber o que estavam achando da conjuntura; QUE queria mostrar a conjuntura do país; QUE o colaborador saiu da sala, não participando do restante da reunião QUE depois o GENERAL FREIRE GOMES relatou ao colaborador a conteúdo do que conversaram: QUE o ex-presidente apresentou o documento aos GENERAIS com intuito de entender a reação dos comandantes das forças em relação ao seu conteúdo QUE o ALMIRANTE GARNIER, comandante da Marinha, era favorável a um intervenção mitar, afirmava que a Marinha estava pronta para agir: QUE aguardava penas a ordem do ex-presidente JAIR BOLSONARO, QUE no entanto, o ALMIRANTE GARNIER condicionava a ação de intervenção militar à adesão do Exército, pois não tinha capacidade sozinho; QUE o Brigadeiro BATISTA JUNIOR, comandante da aeronáutica, era terminantemente contra qualquer tentativa de golpe de Estado; QUE afirmava de forma categórica que não ocorreu qualquer fraude nas eleições presidenciais; QUE o GENERAL FREIRE GOMES, era um meio-termo dos outros dois Generais;
QUE ele não concordava como as coisas estava sendo conduzidas; QUE no entanto, entendia que não caberia um golpe de Estado, pois entendia que as instituições estavam funcionando; QUE não foi comprovado fraude nenhuma; QUE não cabia às Forças Armadas realizar o controle Constitucional, QUE dizia que estavam “romantizando” o art. 142 da CF: QUE dizia que tudo que acontecesse seria um regime autoritário pelos próximos 30 anos, decorrente de um Golpe Miltar, QUE o ex-Presidente teve várias reuniões com os Generais; QUE o ex-Presidente JAIR BOLSOANRO não queria que o pessoal saísse das ruas; QUE o ex-Presidente JAIR BOLSOANRO tinha certeza que encontraria uma fraude nas umas eletrônicas e por isso precisava de um clamor popular para reverter a narrativa; QUE o ex-Presidente estava trabalhando com duas hipóteses: a primeira seria encontrar uma fraude nas eleições e a outra, por maio do grupo radical, encontrar uma forma de convencer as Forças Armadas a aderir a um Golpe de Estado; QUE o ex-Presidente não interferia nos manifestantes que estavam nas ruas; QUE o ex-Presidente pediu apanas para que os caminhoneiros não parassem o pais; QUE acredita que os militares não adeririam a uma idela de golpe de Estado: QUE como não teve apoio dos Comandantes do Exército e da Aeronáutica, a proposta de FELIPE MARTINS não foi executada; QUE acredita que o ex-Presidente não assinaria esse documento; QUE as outras pessoas que integravam essa ala mais radical era composta pelo ex-ministro ONIX LORENZONE, pelo atual SENADOR JORGE SEIFF, o ex-ministro GILSON MACHADO, SENADOR MAGNO MALTA. DEPUTADO FEDERAL EDUARDO BOLSONARO, GENERAL MARIO FERNANDES (secretário executivo do General RAMOS); QUE GENERAL MARIO FERNANDES atuava de forma ostensiva, tentando convencer os demais integrantes das forças a executarem um golpe de Estado: QUE compunha também o referido grupo a ex- primeira dama
MICHELE BOLSONARO; QUE tais pessoas conversavam constantemente com o ex-Presidente, instigando-o para dar um golpe de Estado: QUE afirmavam que o ex-Presidente tinha o apoio do povo e dos CACs para dar o golpe;
QUE não sabe se essas pessoas levavam documentos para o ex-Presidente; QUE não presenciou todos os encontros dessas pessoas radicais com o ex-Presidente; QUE o GENERAL BRAGA NETO conversava constante com o ex-Presidente; QUE ele seria o elo entre os manifestantes e o ex-Presidente: QUE o GENERAL BRAGA NETO atualizava o ex-Presidente sobre as manifestações; QUE não sabe informar se o GENERAL BRAGA NETO tinha contato com AILTON BARROS: INDAGADO sobre pessoas que exerciam influência em relação às pessoas acampadas e que entraram no Palácio do Alvorada, responde QUE no dia 12/12/2022, após a prisão do CACIQUE SERÉRE, na saída do palácio da Alvorada, a pessoas de BISMARK e PAULO SOUZA, integrantes do canal do YouTube HIPOCRITAS e OSWALDO EUSTAQUIO, com medo de também serem presos ligaram para o ex-presidente JAIR BOLSONARO; QUE JAIR BOLSONARO mandou que autorizassem a entrada de BISMARK, PAULO SOUZA e OSWALDO EUSTAQUIO no Palácio da Alvorada: QUE a intenção era evitar que fossem presos; QUE após a advertência do colaborador de que a permanência de OSWALDO EUSTÁQUIO no Palácio da Alvorada poderia causar problemas, o ex-Presidente determinou que um carro da Presidência levasse OSWALDO EUSTÁQUIO para o local que estava hospedado em Brasília/DF; QUE os integrantes do HIPÓCRITAS jantaram com o ex-Presidente no Palácio da Alvorada; QUE não se recorda se os referidos jornalistas dormiram no Palácio da Alvorada; QUE os integrantes do HIPÓCRITAS tinham contato direto com o ex-Presidente JAIR BOLSONARO; QUE entendiam que os CACs apoiariam o ex-Presidente em uma tomada de decisão, como um tropa civil em caso de um Golpe; QUE o Deputado Federal EDUARDO BOLSONARO tinha mais contato com os CACs. Nada mais havendo, este Termo de Depoimento foi lido e, achado conforme, assinado pelos presentes.