O número de imóveis retomados pelos bancos acelerou nos últimos anos e chegou a cerca de 70 mil entre 2014 e 2017. Em 2014, o saldo da conta de imóveis nessa condição era algo em torno de R$ 2,2 bilhões, atingindo o volume recorde de R$ 13,7 bilhões no final de 2017.
O ritmo intensificou em 2018 e, em apenas seis meses, bancos tomaram mais R$ 1,48 bilhão em casas e apartamentos de milhares de famílias atingidas pela crise econômica.
Os números dizem respeito aos balanços da Caixa Econômica Federal (CEF), Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil (BB), e foram divulgados pelo Estado de São Paulo.
O aumento dos números de imóveis retomados pelos bancos segue em paralelo com a crise que atravessa a economia. Com uma derrubada do PIB em 7,3% acumulado em 2015 e 2016 e um pífio 1,0% de aumento em 2017 o resultado não poderia ser diferente, chegando ao recorde de 27 milhões de desempregados, incluindo os desalentados, ou 25% da força de trabalho do país. Milhões de pessoas que não conseguiram pagar seus financiamentos se viram obrigadas a devolver suas casas.
Cerca de 70% das unidades retomadas são da CEF, algo em torno de 47 mil imóveis avaliados em R$ 9,1 bilhões. Há dois anos esse estoque era de 23 mil unidades, menos da metade. O BB teve um aumento bem menos expressivo, ou R$ 116 milhões no mesmo período. Itaú, Bradesco e Santander, somaram mais cerca de R$ 1,0 bilhão cada.
“São números que chamam atenção. Se continuarmos observando esse movimento por mais um ou dois anos, poderemos ter um problema razoável”, avalia o professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo, Rafael Schiozer.
É preciso termos em conta que o grande incremento na construção e comercialização de imóveis residenciais nos oito anos que antecederam 2014, foi realizado por conta de crédito facilitado pela Caixa Econômica Federal.
Esse crédito foi especialmente vantajoso para o mercado imobiliário, ou seja, incorporadores, construtoras, imobiliárias e afins. Eles ganharam na obtenção de financiamento a custo baixo e facilitado, assim como, especialmente, pelos aumentos de prazos dos financiamentos.
Essa lógica permitiu um aumento especulativo medonho do custo do metro quadrado. Ao invés de promover uma redução desse custo para o financiado, através de crédito para quem construísse e comercializasse por menor custo, a cessão de crédito indiscriminada atuou no sentido contrário: o aumento especulativo do metro quadrado e a limitação do acesso às moradias ou o aumento do endividamento dos financiados.
Essa resultado só intensifica a já grave situação do déficit habitacional do país.
Segundo estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV), os dados mais recentes, de 2015, apontam um déficit habitacional de 7,757 milhões de moradias. O dado tem como base a Pesquisa Nacional Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE.
J.AMARO