Michel Temer disse, em vídeo, nesta sexta-feira, que a reforma da Previdência, que ele insiste em enfiar pela goela do país a qualquer custo, é para acabar com privilégios. É mentira. Ele se aposentou com 55 anos e recebe R$ 45 mil de aposentadoria e não vai mexer um milímetro em seus privilégios, nem de seus amigos. Mas diz que privilegiado é quem recebe salário mínimo e trabalha até morrer. Sim, porque a reforma que ele quer fazer prolonga o tempo de contribuição exigido para se aposentar de 35 para 40 anos. Estabelece idade mínima de 65 anos para homem e 60 para as mulheres. Isso sem falar da redução que ele quer impôr aos proventos dos aposentados através de reajustes abaixo da inflação.
Pior, sem a menor cerimônia, ele disse que vai gastar R$ 30 bilhões para aprovar a sua famigerada proposta. Ou seja, vai usar o dinheiro público que está faltando para as vacinas da Febre Amarela, para as escolas, para a segurança pública, para subornar deputados, para comprar votos. É um caso de polícia. Polícia que, aliás, está investigando o próprio Temer por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Esse dinheiro, que ele pretende distribuir, viria dos restos a pagar de emendas parlamentares e novas emendas do Orçamento deste ano que são mais de R$ 20 bilhões. Somados outros R$ 10 bilhões que o governo estima que tirará da própria Previdência ainda neste ano caso a reforma seja aprovada. O que Temer está dizendo é que vai tirar R$ 10 bi da própria Previdência para comprar os deputados.
Dos R$ 10,74 bilhões em emendas empenhadas do ano passado, R$ 2,27 bilhões foram pagos até dezembro. O restante (R$ 8,47 bilhões) é enquadrado como restos a pagar, que o governo pode executar ao longo deste ano. No Orçamento de 2018, há mais R$ 11,8 bilhões autorizados para deputados e senadores da base do governo. O cálculo leva em conta tanto as emendas que foram apresentadas individualmente quanto as formuladas pelas bancadas estaduais. Uma verdadeira orgia é o que ele pretende fazer com o dinheiro público. Seu articulador político, o ex-chefa de tropa de choque de Eduardo Cunha, Carlos Marun chegou a chantagear governadores dizendo que só liberaria financiamentos da Caixa se ele apoiassem a reforma da Previdência.
O descaramento é tanto, que Temer não esconde que está comprando apoios e inclusive oferecendo recursos para a viabilizar a eleição de seus cúmplices. Está torrando dinheiro do povo para aprovar medidas contra o povo e para eleger os mesmos deputados que votam contra o povo. Na avaliação do Planalto, com a proibição de doações eleitorais de empresas e a consequente redução de verbas para campanha, a máquina governamental passará a ter peso redobrado no pleito deste ano. Ele bateu recorde de liberação de emendas em 2017, ano em que precisou comprar o apoio de deputados para suspender o andamento de duas denúncias contra ele. O valor empenhado no ano passado representou um crescimento de 48% em relação ao ano anterior e 68% maior do que o liberado em 2015, quando a execução das emendas se tornou obrigatória.
Todo esse desespero do governo está associado à perda de apoio à reforma da Previdência. Rodrigo Maia, presidente da Câmara, chegou a dizer esta semana a investidores americanos que está muito difícil aprovar a proposta. Dois outros fatores pesam contra os planos de Temer. A população está contra a proposta, os trabalhadores estão mobilizados e o escândalo na Caixa Econômica Federal agravou a crise e a insatisfação na base aliada de Temer. A “base” está se esfacelando. Além disso, avançam as ações da Polícia Federal no inquérito que investiga o recebimento de propinas por parte de Michel Temer em troca de um decreto que beneficiou a Rodrimar, uma empresa do Porto de Santos, contumaz pagadora de suborno ao presidente.