“Os EUA tinham um interesse geopolítico na remoção de Hasina e foram notavelmente rápidos em dar as boas-vindas à sua substituição interina instalada pelos militares”, enfatiza Chan Akya
Nos últimos dias, as notícias da queda do governo da premiê Sheik Hasina, pelos estudantes que enfrentavam um governo autocrático e corrupto em Bangladesh, no sul da Ásia, lutando contra “um sistema de cotas injusto e a corrupção”, teve um final feliz com sua fuga para a Índia, o anúncio de um governo interino encabeçado pelo “banqueiro dos pobres” e Nobel da Paz de 2006, Muhammad Yunus, de 84 anos, sob as bênçãos do Departamento de Estado, e volta ao poder dos “partidos democráticos”. Com 170 milhões de habitantes, Bangladesh é o segundo mais populoso país da Asean, a estratégica associação de países do sudeste asiático, cortejada pela China, Rússia e Estados Unidos.
O portal Ásia Times, embora também haja relatado tal narrativa, achou por bem dar destaque a outra percepção dos fatos, sob o título “Bangladesh: uma revolução colorida às portas da Índia”, um artigo de opinião assinado por Chan Akya, e que merece atenção.
E que tem como chamada “Os EUA tinham um interesse geopolítico na remoção de Hasina e foram notavelmente rápidos em dar as boas-vindas à sua substituição interina instalada pelos militares”.
“As ações dos EUA têm sido, em particular, muito reveladoras. Desde condenar as eleições de Bangladesh no início deste ano como “não livres e justas” até uma declaração oficial “dando as boas-vindas ao governo interino de Dhaka” em questão de horas depois que Hasina fugiu do país, há uma impressão digital americana discernível em todas as direções”, acrescentou Akya.
INCONGRUÊNCIAS
Realmente, anarrativa hegemônica sobre os fatos em Bangladesh parece falhar por várias incongruências – entre elas, a de quem seriam os democratas de plantão, quem é Yunus e como o “problema das cotas”, que não existia, foi recriado do nada por um tribunal inferior, para servir de fagulha, no dia 5 de junho.
Afinal, o Partido Nacionalista de Bangladesh (BNP) é um partido de direita, saído da ditadura que vigorou de uma forma ou outra até 1991, enquanto outra peça chave dessa vitória de agosto, o Jamaat-e-Islami, que hoje se apresenta como uma organização radical “islâmica”, é herdeiro dos mais bestiais inimigos anti-independência de Bangladesh, cúmplices do exército paquistanês no genocídio em 1971 que custou 3 milhões de vidas e o deslocamento de 18 milhões de pessoas.
Já o malvado de plantão da mídia seria a Liga Awami, que, curiosamente, foi quem liderou a luta de independência, e a agora derrubada primeira-ministra é Sheik Hasina, filha de Sheikh Mujibur Rahman, que encabeçou a libertação, iniciou transformações revolucionárias e foi assassinado por um golpe militar em novembro de 1975.
As juntas foram se sucedendo até a Liga Awami e o BNP unirem forças para “restaurar a democracia”. Entre 1991 e 1996, o BNP governou, sob a égide do Consenso de Washington. Protestos levaram a um governo interino, que promoveu eleições, que trouxeram em 1997 de volta ao poder o partido independentista. Já entre 2001 e 2007, o BNP ficou no poder, privatizando e desregulamentando a rodo.
Com o crash de 2008 e mais protestos, as eleições de 2009 foram vencidas pela Liga Awami, que desde então vinha sendo reeleita.
O BNP e outros partidos boicotaram as eleições em 2014 e agora em janeiro de 2024. Nas eleições de 2018, vencidas pela Liga, o comparecimento às urnas foi de 80%. Este ano, o boicote às eleições de janeiro resultara em uma participação de pouco mais da metade, 41%. Os comunistas participaram do boicote. A Liga obteve 222 cadeiras de 298.
Então, o embate em Bangladesh não se deu do nada, como um relâmpago em dia de céu azul, mas a partir de um entorno bastante definido.
A questão das cotas – que haviam sido revogadas em 2018 por Hasina – foi subitamente restaurada por um tribunal inferior em junho, desencadeando os protestos.
Quando a Suprema Corte cassou a provocação, o país já estava em chamas. Desde 16 de julho, 440 pessoas foram mortas nos protestos. Na sua forma original, o sistema assegurava 56% dos empregos públicos, distribuídos entre mulheres (20%), deficientes (6%) e os lutadores da guerra de independência e seus filhos (30%).
DEDO DO FMI
Outra parte da charada é a ida do governo Hasina ao FMI em 2023, para obter um empréstimo de US$ 4,5 bilhões, condicionado ao austericidio, devido ao aperto nas reservas e desvalorização da moeda bengali, que tem como base os subsídios para manter o país à tona sob o lockdown na pandemia, bem como a alta de juros do Fed, e seu efeito colateral, a valorização do dólar. Os custos de serviços públicos dispararam quando o governo aumentou os preços da eletricidade e do gás três vezes em um único ano.
As reservas em moeda estrangeira de Bangladesh vêm caindo constantemente desde 2021 e agora estão em US$ 18,4 bilhões, o que é “apenas o suficiente” para pagar as importações por três meses e meio.
Segundo dados do Banco Mundial, o crescimento real do PIB de Bangladesh, que teve taxa média anual de 6,6% durante a década anterior à pandemia, desacelerou para 5,8% em 2023, depois de crescer 7,1% no ano anterior, com projeção de 5,6% em 2024. A inflação foi de 9,7% no ano passado.
A renda per capita triplicou na última década, e superou a renda per capita da Índia e do Paquistão (US$ 2.338,93 em 2023). Mais de 25 milhões de pessoas foram retiradas da pobreza nos últimos 20 anos. Mas as previsões para o atual ano fiscal, segundo o Banco Mundial, eram de que o número de pessoas que vivem com menos de US$ 2,15 por dia aumentaria de 4,9% para 5,1%.
De acordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC), Bangladesh tornou-se o terceiro maior exportador mundial de vestuário no ano passado, depois da China e da União Europeia, um paraíso para as multinacionais da moda, com exportações no valor de cerca de 38 bilhões de dólares – graças, claro, aos baixos salários e condições precárias de trabalho, inclusive incêndios que se tornaram escândalos por causa de portas trancadas.
Em novembro, dezenas de milhares de trabalhadores do setor de vestuário exigiram com greve um aumento de três vezes nos salários mensais para 23.000 taka (US$ 208) para compensar a inflação e a piora das condições de vida, mas foram brutalmente reprimidos pelas forças de segurança. Segundo a mídia, 40% dos jovens entre 15 e 29 anos são considerados “nem-nem”, não estudam e nem trabalham.
A HORA E A VEZ DO ‘BANQUEIRO DOS POBRES’
A ficha corrida de Yunus também não é de jogar fora. Nascido em Bangladesh, Yunus recebeu uma bolsa Fulbright para estudar economia na Universidade Vanderbilt, nos EUA, onde recebeu um doutorado em economia. Ele então se tornou professor assistente na Middle Tennessee State University antes de retornar a Bangladesh para chefiar o departamento de economia da Chittagong University. O pioneiro no conceito de microfinanças recebeu o Prêmio Nobel da Paz com seu Grameen Bank em 2006 “por seus esforços para criar desenvolvimento econômico e social a partir de baixo”. Aliás, uma premiação que, para alguns, foi o primeiro Nobel da picaretagem.
Em 2009, no governo Obama, Yunus foi premiado com a Medalha Presidencial da Liberdade dos EUA e, em 2013, recebeu a Medalha de Ouro do Congresso, o maior prêmio civil dos EUA.
Na época, Obama andava ultimando seu “pivô para a Ásia”, o deslocamento de 60% da frota de guerra norte-americana para o Pacífico, ponto de inflexão na política de cerco à China.
Para Hasina, o que Yunus fazia era “sugar o sangue dos pobres” ao impor taxas de juros exorbitantes aos microempréstimos.
Em janeiro, ele havia sido indiciado por um tribunal por desviar mais de US$ 2 milhões de seu fundo sem fins lucrativos Grameen Telecom. Ele estava em Paris, sob fiança, supostamente recebendo tratamento médico, quando foi informado da nomeação.
Abaixo, o artigo de Chan Akya
“Bangladesh: uma revolução colorida às portas da Índia”
Os EUA tinham um interesse geopolítico na remoção de Hasina e foram notavelmente rápidos em dar as boas-vindas à sua substituição interina instalada pelos militares
CHAN AKYA*
As agências de inteligência indianas, raramente o epítome do sucesso autoconfiante, raramente foram pegas tão desesperadas quanto no fim de semana, quando a primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, evacuou às pressas suas residências palacianas para uma modesta casa de hóspedes do governo nos arredores de Delhi.
Em questão de poucas horas, a ex-“Dama de Ferro” de Daca achou sua posição, e talvez perspectivas para sua própria vida, bastante inviáveis, quando o chefe das forças armadas (que por acaso era o marido de sua sobrinha) comunicou a recusa das tropas em atirar em manifestantes “estudantis” que estavam se reunindo em força em todo o país.
Adicionando sal à injúria, várias democracias, como os Estados Unidos e o Reino Unido, recusaram ou revogaram seu visto após os eventos que levaram o ex-chefe do Grameen Bank e ganhador do Prêmio Nobel Muhammad Yunus ao poder como primeiro-ministro interino.
Tais eventos marcantes em um país de quase 175 milhões de habitantes dificilmente levantaram muito mais do que um encolher de ombros, mesmo em meio a um ciclo de notícias (político) relativamente lento em agosto em todo o mundo ocidental.
Talvez a mídia esteja mais focada nas Olimpíadas de verão, mas claramente os eventos em Daca assumiriam uma importância muito maior se a violência, que já tem como alvo a minoria hindu do país, saísse do controle e se transformasse em uma guerra civil total.
Em particular, a mão do governo dos EUA é discernível no rápido desenrolar dos eventos desde meados de junho, quando os protestos estudantis em torno de um novo sistema de cotas de emprego de descendentes da luta pela liberdade do país logo explodiram em protestos mais amplos de uma população que estava cada vez mais cansada da alta inflação e do alto desemprego de jovens educados.
De acordo com o kit de ferramentas usado nos países da “Revolução da Primavera”, que vão da Tunísia ao Egito, protestos simultâneos em massa eclodiram em Bangladesh com atos de violência visando apenas minorias (consideradas politicamente mais próximas do partido Liga Awami de Hasina).
A polícia e o exército foram chamados para ajudar, mas se mostraram totalmente ineficazes contra as enormes turbas reunidas. Apesar de vários incidentes de gás lacrimogêneo e até mesmo ordens de atirar à vista (que dificilmente foram executadas na prática, já que a polícia preferia atirar para o ar em vez de diretamente contra os manifestantes), multidões encorajadas ameaçaram marchar sobre a capital esta semana, levando à saída ignominiosa de Hasina.
Por que os EUA se incomodariam?
Dada a presença geográfica relativamente pequena do país que desmente sua população e sua falta de recursos substanciais, a principal questão para qualquer leitor seria por que os EUA se preocupariam em desencadear um golpe no país.
A resposta está na localização do país, na parte oriental estratégica da Índia, com proximidade significativa com a China. Isso não é tudo – sendo essencialmente um estado ribeirinho servido por dois dos maiores rios do mundo, o Ganges e o Brahmaputra, que juntos formam um dos deltas mais férteis do mundo (explicando a densidade populacional) – os portos do país há muito atraem potências navais que vão desde os britânicos, japoneses e russos, até mais recentemente os chineses e americanos em diferentes momentos.
No momento, o principal interesse dos EUA no país é estabelecer um porto de serviço para embarcações navais americanas de médio porte que possam ajudar os Estados Unidos a gerenciar os riscos de operações navais causados pelo acesso da China aos portos do vizinho Mianmar e oferecer serviços logísticos a potências amigas na região sem precisar de qualquer aprovação ou participação da Índia.
Com certeza, a longo prazo, há uma vantagem geopolítica estratégica significativa a ser obtida com a domesticação e gestão da economia ribeirinha de Bangladesh, com as partes do norte do país oferecendo topografia perfeita para incursões aéreas no ponto fraco da China, a sudeste da região tibetana-Sichuan, uma área que a China governa e da qual está cônscia dos riscos militares potenciais.
Um indício desses riscos políticos e militares veio da Índia desde as incursões fracassadas de Doklam em 2017, que por sua vez desencadearam uma atividade geopolítica significativa em torno do Butão e do Nepal pelos chineses, à medida que continuavam a intensificar a pressão sobre a Índia antes de alcançar efetivamente uma superioridade incomparável no início de 2022.
Com a Índia em desvantagem, os EUA sentem claramente a necessidade de intervir – e se acreditarmos nos observadores baseados em Delhi, aumentar a aposta.
Os eventos em Bangladesh estão aproximadamente alinhados com os exemplos de várias revoluções coloridas na Europa e os movimentos da “Primavera” em que:
Protestos em massa desencadeados por uma questão específica que o governo anfitrião normalmente consideraria um item menor e de nicho
Participação ativa de vários grupos sociais, geralmente liderados por pessoas mais jovens, mas logo se espalhando pela sociedade para grupos até então apolíticos
Uso significativo de tecnologia, em particular aplicativos de comunicação seguros (que podem ou não ter sido auxiliados por um ator estatal estrangeiro para garantir atualizações de criptografia além da capacidade do país anfitrião de monitorar ou interromper)
Financiamento generoso e inexplicável, geralmente proveniente de novas contas bancárias de instituições de caridade e ONGs recentemente estabelecidas
Notícias aleatórias destinadas a incitar mais participantes e, em particular, o uso de imagens gráficas de estupro envolvendo mulheres jovens e imagens ou vídeos de figuras de autoridade causando lesões corporais graves ou mesmo desmembrando corpos humanos.
Pelo que este escritor revisou como dados brutos nas últimas 72 horas, várias dessas condições foram atendidas, embora até agora tenha se mostrado impossível corroborar ou provar muitas das informações de acordo com os padrões típicos de documentação baseada em evidências.
Qual é o pano de fundo?
Com pouco mais de 52 anos, o Bangladesh que entrou em 2024 era um jovem adulto alegre na liga das nações, ostentando um rápido crescimento econômico, PIB per capita que ultrapassou os pares do sul da Ásia, incluindo a Índia (tendo deixado o Paquistão muçulmano comendo poeira há muitos anos), com infraestrutura razoável, sistemas de pagamentos públicos e uma vantagem competitiva acentuada em indústrias de massa intensivas em mão de obra, como têxteis, desde roupas econômicas até itens de moda sofisticados.
Além disso, muitos indicadores sociais, incluindo a participação das mulheres na economia formal e as métricas de saúde das crianças em idade escolar média, eram invejados pela região.
Qualquer pessoa familiarizada com a história sangrenta do país desde a década de 1960 geralmente apreciaria os passos gigantescos dos últimos 15 anos. Uma tentativa de democracia que levou as elites do Paquistão (ocidental) a temer o governo dos “bengalis” levou a uma tentativa de genocídio que só foi interrompida pela intervenção oportuna do exército indiano que ajudou guerrilheiros locais armados a derrubar as forças armadas do Paquistão em questão de poucos dias em dezembro de 1971.
Desde então, os ecos de assassinatos políticos e golpes militares, tão familiares aos observadores paquistaneses, ressoaram regularmente nos salões parlamentares de Daca.
Governando desde 2009, Hasina de fato se tornou muito mais ditatorial e tomou medidas extremas contra o Partido Nacional de Bangladesh de sua bete noire e ex-parceira política Khaleda Zia (as duas se uniram para derrubar o presidente Ershad em 1990), junto com sua repressão contínua a movimentos terroristas marginais que operavam sob o guarda-chuva geral do Jamaat-e-Islami (Jamaat).
Quem são os jogadores?
A relação anteriormente indiferente entre a Índia e Bangladesh deu uma guinada repentina para melhor desde 2014, quando o novo primeiro-ministro Narendra Modi convidou chefes de outros governos do sul da Ásia para sua posse, pela primeira vez para um primeiro-ministro indiano.
Embora seus esforços para estabelecer um tom mais positivo nas relações com o Paquistão tenham diminuído, Modi e Hasina se deram muito bem.
Após os horríveis ataques terroristas em Daca em julho de 2016, que deixaram pelo menos um indiano morto (uma jovem que havia sido turista), a Índia forneceu assistência significativa e recorrente nas frentes de inteligência e armas para Hasina enquanto ela reprimia as redes proibidas do Jamaat que às vezes cruzavam a fronteira com a Índia, particularmente no abraço bem-vindo do estado de Bengala liderado pela oposição.
Ao longo dos anos, apesar de muitas provocações, os dois líderes mantiveram uma relação cordial que contribuiu para a estabilidade da região, cooperação em atividades antiterroristas, bem como uma repressão ao contrabando de pessoas que teve um efeito colateral irônico, ou seja, transferir as atividades da Índia para o “filão principal” da Europa e dos Estados Unidos.
Parece, e certamente foi discutido ativamente em Delhi durante toda a semana, que as agências de inteligência indianas simplesmente não conseguiram entender o ímpeto por trás dos protestos estudantis. Há muita discussão sobre as dezenas de milhões de dólares que foram canalizados para as contas dos manifestantes por potências estrangeiras, muitas vezes usando contas bancárias na vizinha Índia (em particular as contas bancárias de leais ao Jamaat que vivem “ilegalmente, mas confortavelmente” em Bengala).
Um segundo tópico de discussões furtivas em Delhi esta semana é a ação dos EUA e, em menor grau, do Reino Unido. Um observador bem informado baseado em Delhi disse que as acusações em todo o Reino Unido eram “infundadas e especulativas” porque ele acredita que o papel da ministra júnior do Tesouro, Tulip Siddiq (filha da irmã de Hasina) é importante demais para permitir que o novo governo trabalhista tenha desempenhado qualquer papel no processo.
No entanto, outras fontes apontaram que os golpes não são planejados em dias, e é mais provável que os jogadores do antigo governo liderado pelos conservadores estivessem ansiosos para jogar junto com o suposto plano dos EUA de depor Hasina, pelo menos porque a maioria deles temia perder seus assentos nas eleições de julho no Reino Unido e estava buscando sinecuras com agências e empresas dos EUA após sua inevitável defenestração.
As ações dos EUA têm sido, em particular, muito reveladoras. Desde condenar as eleições de Bangladesh no início deste ano como “não livres e justas” até uma declaração oficial “dando as boas-vindas ao governo interino de Dhaka” em questão de horas depois que Hasina fugiu do país, há uma impressão digital americana discernível em todas as direções.
Não é segredo que vários membros pró-Palestina do governo dos EUA tinham uma causa comum com o Jamaat e certamente se beneficiaram do financiamento e do apoio de lobby entre a pequena, mas influente comunidade de Bangladesh-EUA, particularmente nas costas leste e oeste da América.
Também houve reuniões regulares entre autoridades americanas e Tariq Rahman, filho de Khaleda Zia e chefe de fato do BNP, nos últimos meses. Acredita-se que vários políticos trabalhistas do Reino Unido que dependem do voto de Bangladesh pressionaram o governo Biden regularmente em nome do BNP.
Como o golpe foi ativado?
Fontes indianas não comunicaram nenhuma revelação sobre exatamente como os EUA financiaram os protestos “estudantis” e providenciaram a rápida instalação do ganhador do Prêmio Nobel Yunus como primeiro-ministro interino.
De qualquer forma, Yunus apareceu já em 2015, quando comunicou o desejo de apoiar (ou mesmo liderar) uma “ditadura benevolente” que substituiria o governo democraticamente eleito de Hasina.
Claro, isso foi após a repressão de 2013 por seu governo, após alguns discursos politicamente tingidos que se mostraram excessivamente desconcertantes para o governo e pessoalmente embaraçosos para Hasina.
De tudo o que juntei, parece que o financiamento adequado foi fornecido aos indivíduos ligados ao Jamaat que operam em Bengala desde pelo menos o ano passado e houve alguma especulação de que os EUA financiaram vários políticos islâmicos que se candidataram (e a maioria ganhou) durante as eleições indianas, opondo-se aos candidatos do BJP governante da Índia.
Esse pode ter sido o caso, e incidentes em que aldeias inteiras não deram um único voto no BJP que podem destacar a generosidade do Jamaat em Bengala realmente ocorreram, mas em grande parte me parece que o dinheiro foi enviado para Bangladesh.
Como uma nota lateral, embora Bangladesh tenha sua própria moeda, acredita-se geralmente que a rúpia indiana opera como moeda legal em muitas partes da economia, assim como o dólar americano faz globalmente. Portanto, o financiamento das contas do Jamaat na Índia proporcionaria uma transmissão sem atrito de fundos para ativistas em Bangladesh.
A rejeição surpresa do tribunal da cota de empregos para descendentes de combatentes da liberdade, um mito fundador da Liga Awami, agora está sendo considerada através de lentes conspiratórias, com algumas “fontes bem informadas” sugerindo que os juízes que ajudaram a aprovar a ordem têm um nexo significativo nos EUA, incluindo filhos que vivem ou estudam no país.
De qualquer forma, a ação judicial pressionou o governo a “esclarecer” as questões com um novo estatuto, que por sua vez desencadeou os tumultos testemunhados em todo o país desde junho.
Notavelmente, a eleição indiana terminou no final de maio, com o BJP no poder não conseguindo garantir uma maioria simples – um revés que muitos observadores políticos atribuíram ao bloqueio ou votação estratégica exercida pela comunidade muçulmana em todo o país, mas em particular em estados como Bengala, onde o BJP perdeu terreno em relação ao seu desempenho durante as eleições anteriores em 2019.
Com o BJP em desvantagem, observadores indianos afirmam que o governo dos EUA deu luz verde à operação contra Hasina.
De Manipur a Daca
Praticamente despercebida fora da Índia, houve uma tempestade operando no estado indiano de Manipur, que faz fronteira com Mianmar de um lado e o estado indiano de Mizoram do outro (que faz fronteira com Bangladesh) por quase todos os últimos doze meses.
Vários organizadores comunitários, considerados apoiadores do Partido Democrata dos EUA, têm financiado uma insurreição armada em Manipur que viu a violência de uma tribo contra outra, sobre o que começou como uma guerra territorial contra as drogas (lembre-se do papel central de Mianmar no comércio global de drogas) que depois degenerou em algo mais extenso, tribal e totalmente mais brutal.
Tendo sido queimadas em Manipur, as forças de segurança indianas estão fortemente sobrecarregadas e acredita-se que o foco em Manipur tenha sido a principal razão para o fracasso da inteligência indiana em Bangladesh, já que os recursos foram rapidamente realocados há mais de seis meses.
Para onde daqui?
Fontes dizem que as autoridades indianas estão espantadas com a velocidade e a escala dos eventos que se desenrolam em Bangladesh. Até agora, eles se concentraram em um jogo de reação pura, lidando com as consequências imediatas dos eventos do fim de semana em diferentes áreas econômicas, desde turistas presos até uma nova onda de imigrantes ilegais nas fronteiras indianas com Bangladesh.
Além dos suspiros usuais de pensamento positivo, não ouvi nenhum comentário sobre os próximos passos plausíveis em torno do apoio a Hasina ou mesmo da retomada de antigos relacionamentos com Yunus e outros funcionários de Bangladesh. A Índia está agora firmemente presa na espiral de um ciclo de reação, sem nenhum papel significativo a desempenhar nos próximos meses.
*Transcrito do Ásia Times. Tradução Hora do Povo
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