“Vai atrasar a implementação da digitalização do País”, afirma Sun Baocheng, presidente da empresa no Brasil
O presidente da Huawei no Brasil, Sun Baocheng, afirmou na sexta-feira (8) que a fabricante chinesa está “preparada tecnicamente para a implementação do 5G no Brasil”. Segundo ele, qualquer restrição à presença da Huawei no Brasil trará um prejuízo maior para o consumidor.
“Qualquer tipo de restrição é um desastre, porque as próprias operadoras já falaram que a proibição vai gerar um custo de R$ 100 bilhões para trocar os equipamentos. Também vai atrasar a implementação da digitalização do País de três a cinco anos. E vai gerar menor competição, criando custo maior para os consumidores. Isso já ocorre nos Estados Unidos e Austrália. Lá, os consumidores estão pagando de cinco a sete vezes mais pelo serviço de telecomunicações”, afirmou o representante da Huawei em entrevista ao jornal O Globo.
“As próprias operadoras já falaram que a proibição vai gerar um custo de R$ 100 bilhões para trocar os equipamentos. Também vai atrasar a implementação da digitalização do país de três a cinco anos. E vai gerar menor competição, criando custo maior para os consumidores. Isso já ocorre nos Estados Unidos e Austrália. Lá, os consumidores estão pagando de cinco a sete vezes mais pelo serviço de telecomunicações”
Sun Baocheng disse que a empresa pretende recorrer à Justiça, caso sofra algum tipo de restrição na disputa como fornecedora de equipamentos de rede de quinta geração (5G) para as operadoras.
“A Constituição exige um mercado de livre competição, pois isso faz bem para os consumidores e traz benefícios para a transformação digital do país. Um ambiente de negócios sem discriminação é importante para todas as empresas no Brasil”, ressaltou.
O executivo destacou as relações de amizade e comércio entre Brasil e China e reforçou que a Huawei não tem nenhum problema de segurança cibernética, como tem alegado Jair Bolsonaro, repetindo as acusações de espionagem contra a Huawei e demais empresas chinesas feita pelo derrotado candidato à reeleição dos EUA, Donald Trump.
“China e Brasil se complementam muito bem na economia. A China é o maior parceiro comercial do Brasil. E as empresas chinesas têm confiança no mercado. Acho que o Brasil é um grande país, independente das palavras do embaixador americano [Todd Chapman]”, acentuou.
Em julho de 2020, o embaixados dos EUA Todd Chapman disse que “haverá consequências” para o Brasil caso o país permita que a Huawei forneça equipamentos para a rede 5G. Em novembro do ano passado, Chapman enviou carta à quatro operadoras de telefonia que atuam no Brasil chamando seus representantes para uma reunião com o objetivo de bloquear a presença da Huawei na rede 5G. A reunião fracassou.
As operadoras se manifestaram através de nota pública e, em reunião com o governo, informaram sua contrariedade ao veto à presença da fabricante chinesa em suas redes 5G.
Contudo, o nome do Brasil consta, oficialmente, da lista de países que teriam aderido à doutrina de Trump contra a empresa chinesa no site Clean Network (Rede Limpa), hospedado dentro do guarda-chuva State.gov, onde ficam todos os sites do departamento de Estado dos EUA, segundo reportagem do Teletime.
“Ali, constam entre os apoiadores da doutrina uma lista de empresas e países, incluindo agora o Brasil, com as seguintes afirmações, extraídas de uma manifestação do Itamaraty após a visita ao Brasil, em 10 de novembro de 2020, de Keith Krach, subsecretário de Estado de Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente dos EUA: “O ministro de Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, disse: ‘O Brasil é o 50º país a dar apoio aos princípios contidos no Clean Network’. O secretário de negociações bilaterais e regionais para nas Américas para o Brasil, Pedro Miguel da Costa e Silva, acrescentou: ‘o Brasil apoia princípios contidos na proposta de Clean Network feita pelos EUA, incluindo a OCDE. A proposta busca promover, no contexto do 5G e de outras tecnologias, um ambiente seguro, transparente e compatível com valores democráticos e liberdades fundamentais”, diz a reportagem.
Sun Baocheng disse ainda na entrevista que “em caso de uma restrição, não sabemos como as outras empresas chinesas iriam reagir ou saber qual seria a reação do governo da China”.
“Como a Huawei não tem nenhum problema de segurança cibernética e, mesmo que os EUA sempre digam isso, eles nunca acharam nenhuma evidência para provar. Quem está fazendo a espionagem é os EUA”, completou o representante da Huawei. “Isso não tem a ver com segurança cibernética. E até agora não existem evidências de que a Huawei esteja fazendo espionagem. Não é possível que o 4G esteja seguro e o 5G não. Os EUA não conseguem fazer espionagem nos equipamentos da Huawei. Por isso, eles querem tirar os equipamentos da Huawei das redes”, argumentou.
De acordo com o presidente da Huawei, mesmo com a mudança no comando da presidência dos EUA a cooperação entre Huawei e Brasil não vai mudar.
“Mesmo com Joe Biden no governo dos Estados Unidos, isso não vai mudar a cooperação entre Huawei e Brasil. Vamos continuar investindo no País para contribuir no setor de telecomunicações”, declarou. “Essa resistência contra a Huawei é uma ação de alguns políticos americanos porque a tecnologia da Huawei está mais avançada que a das empresas americanas.
A resistência contra a Huawei é uma resistência contra as empresas de alta tecnologia. E ninguém sabe se isso vai acontecer com uma empresa brasileira ou europeia no futuro, se elas desenvolverem uma tecnologia mais avançada”, ressaltou.
No Brasil, a Huawei tem cinco escritórios, dois centros de produção e conta com mais de mil trabalhadores diretos e 15 mil indiretos. Sun Baocheng lembra que o banimento da Huawei prejudicaria também as operadoras de telecomunicação no Brasil.
“Uma possível restrição vai impactar o negócio da empresa. Mas vai impactar mais ainda o país e as operadoras”, disse o executivo, ao afirmar que a empresa busca “fazer uma comunicação aberta e transparente” com o governo brasileiro.
“Há uma perspectiva de que a Huawei e as operadoras queiram trabalhar juntas para uma transformação digital do País, com um mercado livre e sem discriminação. A Huawei tem uma operação sustentável há 23 anos. Os operadores já declararam publicamente que não têm nenhum problema com a Huawei em relação à segurança cibernética”, lembrou.
A submissão do governo Bolsonaro às exigências de Donald Trump contra a presença da Huawai na rede 5G foi rechaçada pelas operadoras, em reunião com o governo e através de notas públicas. Pequenos provedores também se manifestaram contra o veto à Huawei e até a Anatel – Agência Nacional de Telecomunicações, que foi pressionada pelo governo para excluir a fabricante chinesa do 5G brasileiro, manteve a Huawei no leilão previsto para acontecer em julho deste ano.