Foi preso nesta quinta-feira (20) por fraude e lavagem de dinheiro o guru da campanha de 2016 de Donald Trump e ex-estrategista-chefe da Casa Branca, Steve Bannon, acusado de desviar para o próprio bolso dinheiro arrecadado online sob a promessa de ajudar a construir o muro na fronteira com o México.
Bannon também costumava ser exibido pela família Bolsonaro como “conselheiro” e o filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, chegou a ser declarado por este em fevereiro de 2019, informalmente, como o líder sul-americano do movimento de extrema direita afim ao guru. Ele revelou, ainda, ter tido contato informal com a família Bolsonaro durante a campanha de 2018.
De acordo com o Departamento de Justiça, Bannon se apossou de pelo menos US$ 1 milhão do dinheiro arrecadado pela campanha “We Built That Wall” (Construímos o Muro), e para isso usou outra fachada, que denominou de “Non-Profit 1” (Sem Fins Lucrativos 1).
Graças à exaltação da xenofobia e dos preconceitos contra os mexicanos, a campanha angariou US$ 25 milhões, doados por mais de 330 mil incautos – segundo apuração da Reuters – atraídos pela ideia simplória de que poderiam botar seu “tijolinho” naquele muro de Trump. Conforme o portal do esquema, a soma dava para construir 160 km de muro.
Promotores federais em Nova York anunciaram que além de Bannon foram indiciados os comparsas Brian Kolfage (laranja), o banqueiro Andrew Badolato e Timothy Shea. Cada um dos crimes – fraude e lavagem de dinheiro – pode levar à pena máxima de 20 anos de prisão.
Os réus, de acordo com a promotora interina de Manhattan Audrey Strauss, “aproveitaram o interesse [dos doadores] em financiar o muro da fronteira para obter milhões de dólares, sob o falso pretexto de que seriam gastos na construção”. Eles prometiam que nenhum centavo iria para pagamentos pessoais.
Ainda segundo os promotores, parte do dinheiro desviado – US$ 330.000 – serviu para “financiar o estilo de vida luxuoso” de Kolfage, um veterano da Força Aérea.
Bannon, que é considerado o arquiteto da vitória de Trump nas eleições de 2016, foi fundador em 2007 do site de notícias Breitbart News, que se tornou o modelo para o agressivo estilo de difusão de ideias reacionárias e racistas depois conhecido como alt right, direita alternativa, e de propagação de fake news.
Bannon fazia ainda parte do conselho da Cambridge Analytica, a obscura empresa que encabeçou o escândalo de coleta de dados do Facebook para fins eleitorais, cujas técnicas de manipulação são consideradas decisivas para a vitória de Trump em 2016.
O marqueteiro teve uma curta passagem como assessor direto de Trump na Casa Branca e desde então tem vagado pelo mundo juntando neofascistas, racistas e xenófobos de várias origens, de Hong Kong a Roma.
Em novembro de 2018, no seu jantar de aniversário em Washington, um dos convidados foi o já eleito deputado federal Eduardo Bolsonaro, que lhe desejou “muitas felicidades” depois de o ter saudado como um “ícone no combate ao marxismo cultural”.
Conforme relato de Bannon à repórter Júlia Zaremba na ocasião, a admiração tinha sido mútua, com o guru e agora estelionatário flagrado se dizendo “muito bem impressionado com Eduardo e seus assessores”, pessoas que, acrescentou, compartilhavam “a mesma perspectiva em relação à economia, estabilidade, lei e ordem”.