Mais um deslocamento de um representante da elite financeira da base de Bolsonaro depois do Manifesto de mais de 1700 personalidades. “Não vai ter mais o meu voto”, declarou Luis Stuhlberger, gestor do Fundo Verde
O banqueiro Luis Stuhlberger, gestor do Fundo Verde do Banco Itáu, declarou em entrevista ao Estadão, neste fim de semana, que “o Brasil foi o pior país do mundo na condução da pandemia”.
Stuhlberger é um dos 1.700 signatários do manifesto da elite financeira, entre banqueiros, industriais, ex-ministros, ex-presidentes do Banco Central e do BNDES, divulgado no domingo passado, com severas críticas à postura negacionista de Jair Bolsonaro durante a pandemia.
Sobre o manifesto, Luis Stuhlberger disse que não tinha nada a acrescentar e quando assinou estava convicto sobre a conduta negacionista de Bolsonaro: “Estou aqui dizendo: votei em 2018, acreditei na sua proposta, mas você (presidente Jair Bolsonaro) não vai ter mais o meu voto”.
Ao analisar os últimos doze meses de sua vida e como o Executivo brasileiro lidou com a pandemia, Stuhlberger comparou o atitude do governo com “uma história surreal”. “Certamente, o Brasil foi o pior país do mundo na condução do combate à pandemia. Se fosse possível dois países terem regimes opostos nas políticas de combate à pandemia, eu diria que seriam a China e o Brasil”, afirmou.“
Segundo o banqueiro, enquanto “a China colocou os moradores de Wuhan em casa, com os produtos a serem consumidos entregues uma vez por semana”, Bolsonaro “taxou a pandemia de “gripezinha, mi-mi-mi, de vamos levar uma vida normal, todo mundo pega e a gente recomeça sem esse aborrecimento todo”.
“Se a sociedade brasileira tivesse atendido aos apelos de Bolsonaro, que taxou a pandemia de ‘gripezinha, mi-mi-mi, de vamos levar uma vida normal, todo mundo pega e a gente recomeça sem esse aborrecimento todo‘, seriam 7 milhões de brasileiros mortos”
De acordo com Luis Stuhlberger, “se a sociedade brasileira tivesse atendido aos apelos de Bolsonaro, que taxou a pandemia de “gripezinha, mi-mi-mi, de vamos levar uma vida normal, todo mundo pega e a gente recomeça sem esse aborrecimento todo”, seriam 7 milhões de brasileiros mortos. Esse número é um cálculo aproximado do que aconteceu durante a gripe espanhola, quando morreram 3% da população, em relação ao Brasil de hoje. Poderia ser mais gente porque, claro, nem na gripe espanhola a vida foi normal. As pessoas também usaram isolamento social e a atividade econômica caiu. Não é uma acusação ao presidente, mas uma tentativa de entender como ele pensa. Nessa visão utilitarista do Bolsonaro, se morressem 3% das pessoas e sobrassem 97% para recomeçar, estaria tudo bem. Isso, evidentemente, jamais vai acontecer, porque vivemos numa democracia. Mas é essa a impressão que ele passa com o enfrentamento dos últimos 12 meses, ao ir ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tolher a ação de prefeitos e governadores, dizer que o direito de ir e vir está na Constituição e não se pode impedir ninguém de trabalhar. É como se os prefeitos e governadores adorassem que o PIB tenha caído, sendo que eles estão desesperados por ter o sistema de saúde colapsando”, declarou Luis Stuhlberger na entrevista.