As instituições financeiras projetam que a Selic (taxa básica de juros) permanecerá nos estratosféricos 15% no final de 2025, conforme o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central (BC), nesta segunda-feira (3).
O relatório da autarquia financeira também mostra uma nova redução na mediana da inflação esperada deste ano, que saiu de 4,56% para 4,55%, sendo a sexta semana seguida de queda.
A penúltima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC ocorre na terça e quarta (4 e 5) desta semana, com o mercado financeiro pressionando para que o colegiado, chefiado por Gabriel Galípolo, não realize cortes nos juros base este ano, ao contrário da posição de empresários produtivos, economistas progressistas, parlamentares e governo, que defendem a imediata redução no nível da Selic, em prol da retomada do crescimento econômico.
Enquanto a taxa básica de juros não for reduzida, o juro real (descontada a inflação esperada) seguirá acima dos 10% ao ano, o que é um desastre para indústria, comércio e serviços, que mês a mês veem seus indicadores desacelerarem junto à economia do país. O júbilo, portanto, fica com os bancos e fundos especulativos, que sendo os maiores detentores de títulos da dívida pública, são os únicos beneficiários dos juros altos.
No acumulado em doze meses até setembro, o gasto do setor público (União, Estados, municípios e estatais) atingiu a soma de R$ 984,8 bilhões (quase 8% do PIB). Na comparação com igual período do ano anterior, essa soma representa um aumento de 20,14% – o que resultou em uma transferência de R$ 165,1 bilhões para bancos e rentistas, de um ano para o outro.
Em contraste, um levantamento feito pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), com base em dados recentes da United Nations Industrial Development Organization (UNIDO), com 79 países avaliados, revela que o Brasil caiu da 38ª colocação – que ocupava nos primeiros três meses deste ano – para 59ª posição do ranking de evolução da produção industrial no segundo trimestre de 2025.
De acordo com a sondagem, a produção da indústria de transformação global cresceu +1,1% no segundo trimestre deste ano ante o trimestre anterior, enquanto a do Brasil desacelerou para -0,6%, na mesma base. O Iedi responsabiliza o aperto monetário pela queda de desempenho do setor. “A indústria brasileira vem perdendo dinamismo sob o peso dos juros elevados”, critica.
Também defensor do urgente corte no nível da Selic, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, afirma que “os juros praticados no Brasil são uma barreira intransponível ao desenvolvimento”.
“Por que correr riscos investindo em produção no Brasil quando é possível obter, sem esforço, rendimento real de 10% ao ano aplicando no mercado financeiro?”, questionou Alban em seu artigo, que foi reproduzido no jornal “O Globo” no dia 6 de outubro de 2025. “Esse modelo condena o país a andar de lado – ou de marcha à ré – sob a miopia de uma única e cruel ferramenta de política monetária. Quantas economias, mesmo com inflação incômoda e quadro fiscal delicado, impõem a seus cidadãos uma taxa real de juros de 10%?”, indagou o empresário.
“Os juros podem parecer invisíveis, mas seus efeitos são palpáveis e devastadores: encarecem o alimento na mesa, o crédito no banco, o investimento na fábrica e diminuem a esperança de um emprego digno”, alertou Alban.
No terceiro trimestre deste ano, os lucros dos maiores bancos privados voltaram a crescer, após um primeiro semestre vigoroso, graças à política contracionista monetária do BC, que se dá via o aumento dos juros, com a justificativa de combate à inflação (que está controlada e baixa. No acumulado do ano até setembro – dado mais recente, o IPCA acumula alta de 3,64%.
No terceiro trimestre de 2025, o Bradesco atingiu um lucro líquido de R$ 6,2 bilhões, sendo um ganho de 18,8% sobre lucro obtido no mesmo trimestre de 2024. O Santander teve um lucro de R$ 4,01 bilhões no mesmo período, avanço de 9,4% em relação ao mesmo período do ano passado.
O Itaú deve divulgar o seu balanço financeiro nesta terça-feira (4), mas os agentes de mercado estimam que o banco obteve um lucro líquido de R$ 11,8 bilhões no trimestre passado.
Caso se confirme a projeção, os três principais bancos privados do Brasil somaram juntos um lucro de RS 22 bilhões entre julho e setembro deste ano. No primeiro semestre deste ano, os três, juntos, somaram um lucro de R$ 42 bilhões, alta de 19,8% em relação ao mesmo período de 2024, quando somaram R$ 35,1 bilhões.
											
								
								








