Amigo de Gilmar Mendes confessou que esquema de propinas já durava 20 anos. Segundo ele, 1% do arrecadado com a bilhetagem eletrônica ia para a quadrilha
Durante depoimento realizado ao juiz federal Marcelo Bretas na última sexta-feira (24), o empresário conhecido como “Rei do Ônibus”, Jacob Barata Filho, e o ex-presidente da Federação das Empresas Transportadoras de Passageiros (Fetranspor), Lélis Teixeira, admitiram o pagamento de propinas de até R$ 6 milhões mensais a políticos do Rio de Janeiro por ao menos 20 anos. Segundo eles, o objetivo da propina era garantir o apoio a projetos de interesse da máfia dos transportes no estado.
Barata garantiu no depoimento que o dinheiro sujo era entregue diretamente aos então presidentes da Alerj, deputados Jorge Picciani e Paulo Mello, ambos do PMDB.
“Havia um acordo de pagamento. Mas realmente o Jorge Picciani, como presidente da Alerj, teria que ter essa contribuição porque os projetos todos passam pela Assembleia”, justificou Barata, ainda segundo ele, Picciani recebeu os pagamentos por mais de cinco anos.
Lélis Teixeira também confirmou o pagamento de propinas de altos valores, chamada de caixinha da Fetranspor. O ex-presidente da Fetranspor também garantiu que outro parlamentar do PMDB preso na Operação Cadeia Velha. O deputado Edson Albertassi recebeu vantagens através de rádios de sua família no interior, inclusive por ser presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Alerj. Segundo Lélis, tanto essa comissão quanto a de transportes, eram importantes para a Fetranspor ter “boas relações”.
A Operação Cadeia Velha – um dos braços da Lava Jato no Rio de Janeiro, apura o uso da presidência da Alerj para a formação de cartel, prática de corrupção, associação criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Nela, foram presos os dois últimos presidentes da Casa: Jorge Picciani e Paulo Melo, além de Felipe Picciani, de Jorge.
O ‘Rei dos Ônibus do Rio’ afirmou durante o depoimento que o fluxo de caixa dois se aprofundou na última década com a bilhetagem eletrônica. Isso porque a empresa que administra o maquinário cobrava 3,5% dos valores das passagens para a manutenção do sistema, mas 1% deles era trocado por dinheiro em espécie e redistribuído para políticos.
NOVIS
Na última quinta-feira (23), durante a delação premiada do doleiro Álvaro Novis com o Ministério Público Federal (MPF), ele garantiu ao juiz Marcelo Bretas que fez pagamentos ilícitos a deputados do PMDB em nome da Fetranspor e da construtora Odebrecht. No depoimento, ele afirmou que o dinheiro vivo saía das garagens de ônibus e era distribuído por empresas transportadoras de valores. A ordem era trocar as notas baixas usadas pelos passageiros por cédulas de maior valor exigidas pelos deputados.
Segundo Novis, os pagamentos se davam conforme orientação do empresário José Carlos Lavouras, ex-presidente do conselho de administração da Fetranspor. A partir das indicações do empresário, Novis pedia que os funcionários de sua corretora, a Hoya, disponibilizassem os pagamentos, que podiam ser feitos por eles mesmos ou pela transportadora de valores.
O doleiro afirmou em seu depoimento que não tinha conhecimento do motivo dos pagamentos e que os parlamentares recebiam o dinheiro através de representantes, em endereços no centro do Rio de Janeiro e na zona sul. “Se o motivo (dos pagamentos) fosse legal, não precisariam de mim”, disse o doleiro.
A operação do esquema da Fetranspor permitiu que o doleiro identificasse os pagamentos feitos aos parlamentares no esquema da Odebrecht, em que, segundo Novis, eram usados codinomes e senhas para impedir a identificação dos beneficiados. Esse sistema, alega ele, fez com que desconhecesse 95% das pessoas que recebiam o dinheiro da construtora no Rio de Janeiro e em São Paulo. As planilhas com os pagamentos, chamadas de Carioquinha e Paulistinha, foram entregues à Justiça.
Outra pessoa ouvida por Bretas foi Edimar Dantas, que trabalhava na corretora de Novis. Dantas disse que Paulo Mello chegou a solicitar mais de R$ 1 milhão em um mês, e que o pagamento de valores desse patamar se dava em parcelas. Edimar Dantas detalhou parte das informações prestadas por Novis e disse que os pagamentos eram sempre efetuados em espécie, e que foi preciso estabelecer um limite de R$ 500 mil para cada pagamento por motivo de segurança.
MENDES
Jacob Barata Filho possui uma relação íntima com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, que além de ser padrinho de casamento da filha de Barata, já o favoreceu e o soltou da cadeia quatro vezes.
É o procedimento padrão, veja a relação de uma delegacia de polícia com os despachantes