Para ele, Alckmin é cínico e dissimulado
Líder de impopularidade mandou ex-governador parar de enrolar eleitor
Provavelmente o leitor já ouviu – ou até já disse – que, nessas eleições, “acontece de tudo”.
Porque, realmente, acontece. Não de tudo, mas quase.
O candidato Bolsonaro, do PSL, foi esfaqueado em Juiz de Fora por um elemento que disse ter recebido a ordem diretamente de Deus – algo inédito na História da República.
O candidato Alckmin, do PSDB, que deflagrara a mais virulenta campanha contra Bolsonaro, de repente virou “pacificador”, lamentando uma violência para a qual contribuíra, e orando pela paz, pela concórdia… e por Bolsonaro (v., nesta página, “Alckmin jura que está rezando pela saúde de Bolsonaro”).
O PT descobriu que qualquer papel assinado por dois funcionários ociosos da ONU vale mais que a Constituição da República, o Código Penal, a Lei da Ficha Limpa – e o Legislativo, o Judiciário e o Executivo do país.
Não estamos brincando, leitor. A pedido dos advogados de Lula, os dois “peritos” – que não representam nada, além de si próprios – emitiram uma declaração em que dizem que têm de se submeter a eles “todos os ramos do governo (executivo, legislativo e judiciário), e outras autoridades públicas ou governamentais de qualquer nível – nacional, regional ou local” [“all branches of government (executive, legislative and judicial), and other public or governmental authorities, at whatever level – national, regional or local”], assim como estão acima da “lei interna” [“internal law”].
A última frase dessa declaração é “esta correspondência não implica que tenha sido tomada qualquer decisão sobre o mérito da matéria sob consideração” (“This correspondence does not imply that any decision has been reached on the substance of the matter under consideration”).
Então, se eles nem examinaram o mérito da condenação de um corrupto de acordo com as leis brasileiras, mas querem que ele seja candidato a presidente contra a as leis brasileiras, conclui-se que o Brasil deve se submeter a esses picaretas porque eles querem – ou porque Lula e o PT querem.
Não há outra razão, nem autoridade – como demonstrou a ministra Rosa Weber, em seu voto ao negar o registro da candidatura de Lula, nem ao menos esses funcionários podem tomar decisões; no máximo, podem fazer recomendações.
Mas os lulistas apresentaram esse deboche como uma “nova decisão” do Comitê de Direitos Humanos da ONU. O que obrigou a assessoria de imprensa da ONU a esclarecer que “é importante observar que o Comitê não emitiu, entretanto, nenhuma nova decisão substantiva [ou de mérito] sobre o caso Lula da Silva” [“It is important to note that the Committee did not issue, however, any new substantive decision in the Lula Da Silva case”].
Quando a única defesa de Lula é um atentado contra a soberania nacional, uma tentativa canhestra de passar por cima das leis e das instituições a partir de uma falsa imposição exterior, isso equivale a uma confissão de culpa.
A BASE
Não há, nessa eleição, doente mais contagioso que Temer, colocado no poder pela dupla Lula e Dilma, ao escolhê-lo, duas vezes, para vice-presidente.
Até Meirelles quer se afastar dele – e não consegue; depois de gastar R$ 45 milhões (declarados) em duas semanas de campanha, obteve o sensacional resultado de chegar a 1% de preferência nas pesquisas. É verdade que Meirelles se apresenta como o homem de Lula na área financeira, o que não deixa de ser verdade. Mas não adianta. A lepra de Temer pegou nele.
No entanto, Alckmin resolveu se apresentar como o redentor que vai livrar o Brasil do desastre que é o governo Temer quanto à educação, à saúde, ao desemprego, às falências de empresas e à corrupção (tal como ele livrou da corrupção o Rodoanel e a merenda escolar em São Paulo).
Que ele tenha apoiado Temer, inclusive impedindo que os “cabeças pretas” do seu partido fossem para a oposição, é coisa de somenos. Isso não existiu. Vale mais a marketagem, isto é, a total falta de vergonha.
Por exemplo, no dia 28 de novembro do ano passado, às vésperas de assumir a presidência do PSDB, perguntado se, sob o seu comando, o partido iria abandonar o governo Temer, Alckmin declarou que “abandonar no sentido de não ter compromisso, não. Porque temos compromisso, responsabilidade e temos que dar sustentação na Câmara e votar projetos de interesse do País”.
Se fosse pelo “interesse do país”, Alckmin e o PSDB teriam que não “dar sustentação” a Temer – mas escolheram “ter compromisso” com ele. Foi isso o que fizeram, apesar de uma ou outra declaração contra a participação no governo.
Bem entendido, após a revelação pública da gravação em que Temer combinava uma propina com Joesley Batista, da JBS, o PSDB, no Congresso, era o fiel da balança, que poderia livrar o país desse resíduo do governo Dilma.
Pelo contrário, preferiram, naquele momento, sustentar Temer.
Da mesma forma que Alckmin, depois de assumir a presidência do seu partido, não tomou qualquer providência para expulsar Aécio Neves, apesar do escândalo, até maior que o de Temer, da gravação em que o então presidente nacional do PSDB pede R$ 2 milhões de propina a Joesley Batista.
Mais: o PSDB impediu que Aécio fosse afastado do Senado e optou por abafar o caso no Conselho de Ética da casa parlamentar.
Alckmin não protestou contra nada disso. Como presidente do partido, apoiou esse esgoto, ao não tomar nenhuma providência contra Aécio e outros notórios corruptos.
Se existe algo que Alckmin não pode dizer é que seja muito diferente de Temer.
Pelo contrário, a proximidade de Alckmin e Temer é longínqua. Em 2001, Temer indicou sua filha mais velha para a Secretaria de Juventude, Esporte e Lazer do governo Alckmin – a mesma filha que, depois, foi secretária de Assistência e Desenvolvimento Social da Prefeitura de Fernando Haddad, atual estepe de Lula.
Portanto, quando Temer lembrou sua velha relação com Alckmin estava, pela primeira vez em muito tempo, falando a verdade.
Temer lembrou que os apoiadores atuais de Alckmin são, exatamente, os políticos e partidos que compuseram – e ainda compõem – o seu governo.
Depois, lembrou que José Serra, Bruno Araújo e Antonio Imbassahy, todos tucanos, correligionários de Alckmin, fizeram parte de seu governo.
Poderia ter acrescentado que Luislinda Valois e Alexandre de Moraes também eram tucanos – o último, uma indicação de Alckmin para o Ministério da Justiça, hoje no STF por nomeação de Temer.
Também poderia dizer que seu atual ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, é um dos principais dirigentes do partido de Alckmin.
Mas, o que tudo isso mostra?
Mostra que a diferença, do ponto de vista político, entre Alckmin e Temer, é aquela que os matemáticos chamam de infinitesimal.
Esta é a razão pela qual PSD, DEM, PRB, PTB e PR, que estão no governo Temer, estão também na coligação eleitoral de Alckmin.
Além do próprio PSDB – e do MDB, que apoia mais Alckmin do que o candidato do partido, Meirelles, cuja popularidade entre os emedebistas limita-se ao seu dinheiro.
Certamente, pode-se argumentar que esses partidos estão no governo Temer e na campanha de Alckmin, não por alguma proximidade política, mas porque querem roubar.
É verdade, leitor, mas essa é a política deles. Não conhecem outra.
Só esta e nenhuma outra. Roubar em troca de entregar o país à canalha rentista, interna e, sobretudo, estrangeira.
Nisso não se diferenciam do PT.
Tanto assim que, antes do governo Temer, todos eles – com apenas duas exceções – apoiavam o governo Dilma, e, antes, o governo Lula.
Agora, todos estão com Alckmin.
CARLOS LOPES
Beto Richa, ( psdb) , ex-governador do Paraná, é preso.
Lava Jato mira aliados.