Juros continuarão elevados “por período bastante prolongado” e “não hesitará em retomar o ciclo de alta”, diz o Copom
O Banco Central (BC) divulgou nesta terça-feira (16) a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que decidiu pela manutenção da taxa básica de juros (Selic) nos escorchantes 15%, afirmando que os juros vão continuar nas alturas “por período bastante prolongado” e que não hesitará em aumentar o arrocho monetário.
“O cenário prescreve uma política monetária significativamente contracionista por período bastante prolongado” e que “não hesitará em retomar o ciclo de alta se julgar apropriado”, diz a ata do Copom.
O BC, presidido por Gabriel Galípolo, comemora que a economia está em desaceleração “conforme esperado”, mas reclama da inflação, que está sob controle, e do mercado de trabalho que “mostra resiliência”. Por isso, dá-lhes juros e mais juros, os maiores do mundo para conter os investimentos, a geração de emprego e o consumo das famílias.
O nível da taxa de desemprego recuou para 5,4% no trimestre encerrado em outubro, conforme o IBGE. Porém, o baixo nível da chamada “taxa de desocupação” se dá com a precarização dos empregos no país, promovidas pelas plataformas digitais, como Uber, iFood, 99, Mercado Livre, Amazon, Shopee e etc., que propõem “flexibilidade”, em troca da desproteção das leis trabalhistas (CLT) – isto é: longas jornadas exaustivas de trabalho por baixas remunerações, sem férias, garantia de aposentadoria ou 13º salário, além da perda de segurança no trabalho e da autonomia real.
Esses brasileiros são reféns dos algoritmos, que atuam minuto a minuto para elevar os lucros de suas empresas – que na sua maioria já atuam como instituições financeiras no país, beneficiando-se dos juros altos.
Já o mercado de trabalho qualificado desacelera no Brasil impactado pelos juros altos do BC. Os dados mais recentes do NovoCaged do Ministério do Trabalho revelam que a geração de emprego com carteira assinada no Brasil desabou 35% em outubro em relação a outubro do ano passado. Mas o BC acha pouco, tem que
Dados divulgados hoje (16) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram nova queda no número de empregados no setor em novembro deste ano, que caiu 1,2 ponto, chegando aos 47,6 pontos no mês. O indicador está há nove meses abaixo da linha de corte de 50 pontos, indicando redução no número de empregos industriais.
Em novembro, o indicador da CNI que mede a evolução da produção caiu 7,1 pontos, atingindo 44,4 pontos. Em outubro deste ano, a produção industrial brasileira subiu 0,1% ante setembro (-0,4%), com a produção pela indústria de transformação recuando -06% no mês, após ter crescido em setembro (0%).
A CNI culpa os juros altos pelo enfraquecimento da economia e do mercado de trabalho. A entidade projeta que o PIB brasileiro deve crescer 2,5%, percentual que corresponde a uma desaceleração frente a 2024, quando o PIB cresceu 3,4%. Com a decisão do BC de manter o juro em 15%, a entidade projeta que o juro real deve encerrar o ano acima dos 10,5%.
O PIB é a soma do conjunto de bens e serviços finais produzidos no país, calculado oficialmente pelo IBGE. Para 2026, a entidade estima um crescimento de 1,8%.
O presidente da CNI, Ricardo Alban, afirma que “caso as projeções se confirmem, este seria o menor crescimento do PIB em seis anos. Não há como fugir da realidade: com juros nesse patamar, a economia vai desacelerar ainda mais, prejudicando todos os setores produtivos, em especial a indústria. O impacto recai sobre a população, pois isso se reflete em menos emprego e renda. É necessário que o Banco Central não apenas inicie o ciclo de cortes na taxa Selic o quanto antes, mas que, ao final de 2026, tenhamos juros reais menores do que as projeções indicam no momento”.
No terceiro trimestre deste ano, a economia ficou estagnada, ao variar apenas 0,1% em comparação com o segundo trimestre do mesmo ano, época de 0,3% de crescimento. Nos primeiros três meses de 2025, o PIB cresceu 1,5%, puxado pela agropecuária.
Ontem, o BC divulgou que a atividade econômica (IBC-Br) recuou -0,2% em outubro deste ano, na comparação com o mês anterior, com quedas no desempenho da indústria (-0,7%) e serviços (-0,2%). Em 12 meses até outubro, o indicador, considerado uma prévia do PIB, acumula alta de 2,5%, uma desaceleração quando comparado com o período até setembro (3%).











