É o maior juro real do mundo, asfixiando a economia: a produção, os investimentos, o crédito, o emprego, os salários e o consumo das famílias
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (7) manter a taxa de juros da economia em 13,75% ao ano, percentual em vigor desde agosto deste ano e que mantém os brasileiros como os maiores pagadores de juros reais do mundo. É o maior patamar em seis anos, quando a taxa Selic atingiu 14% ao ano em novembro de 2016.
Segundo um levantamento feito pela Infinity Asset Management, com 156 países, o Brasil ostenta a amarga posição de primeiro colocado no ranking global de maior pagador de juros reais do mundo. Descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses, o Brasil paga 8,16% em juros reais, abrindo uma larga margem do segundo colocado, o México, com juro real de 5,39%, seguido pelo Chile (4,66%).
Os juros neste patamar travam os investimentos produtivos afastando a geração de novos empregos, derrubam o consumo da população, aumentam o endividamento das empresas e das famílias, provocando a desaceleração da economia, que passa a marchar no caminho da recessão.
Já sob o efeito dos juros altos, a economia brasileira encerrou o terceiro trimestre de 2022 com um crescimento de 0,4% na comparação com o trimestre anterior. Nos dois primeiros trimestres, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,3% e 1,0%, respectivamente, ancorados na normalização das atividades econômicas afetadas pelas medidas de contenção da pandemia da Covid-19 e no pacote pró-reeleição de Bolsonaro de estímulos econômicos de curto prazo, como, por exemplo, a liberação de saques do FGTS, antecipação do 13º dos beneficiários do INSS e servidores, a turbinagem no valor do Auxílio Brasil, que passou de R$ 400 para R$ 600 até o final deste ano, o auxílio temporário para taxistas e caminhoneiros, cortes de impostos, entre outras medidas.
Ao passo que essas ações se esvaíram ao seu tempo, os efeitos maléficos dos juros elevados avançaram sobre o setor produtivo. No terceiro trimestre de 2022, a Indústria cresceu 0,8%, o Comércio ficou negativo em -0,1%, a Agropecuária recuou 0,9%, e o setor de Serviços avançou 1,1% nas comparações do terceiro trimestre contra o segundo trimestre deste ano.
A Despesa de Consumo das Famílias caiu do +2,1% vistos no segundo trimestre para +1,0% no terceiro trimestre. Já a Formação Bruta de Capital Fixo, que mede o que investe o país em bens de capital, máquinas, equipamentos e material de construção e outros, teve alta de 2,8% em relação ao trimestre anterior (alta de 3,8%).
O Banco Central (BC), com o aval do governo, aumentou a taxa básica de juros da economia (Selic) de 2% ao ano em março de 2021 para os atuais 13,75% ao ano, sob o pretexto de conter a inflação no Brasil – que não tem relação com excesso de demanda, mais sim pelos aumentos nos custos dos preços internos de energia e de algumas commodities produzidas no país que são atrelados ao mercado internacional. Ou seja, situação que a elevação de juro não pode resolver, mas sim agravar ao encarecer o crédito.
A redução na inflação que foi vista nos meses de julho a setembro foi resultado da redução artificial nos preços dos combustíveis por meio de cortes de impostos federais e do ICMS, além da queda dos preços do petróleo nas bolsas internacionais. Mesmo assim, a deflação só chegou para as classes sociais mais abastadas deste país. Os trabalhadores continuaram sofrendo com a carestia dos alimentos, que acumula em 12 meses até outubro uma alta de 11,21%.
Esgotados os efeitos dos cortes de impostos federais e do ICMS sobre os combustíveis e com a nova alta no preço do barril do petróleo, a inflação voltou em outubro, alta de 0,59% no mês, e em novembro a inflação deve continuar avançando, como apontou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA 15) do IBGE, que subiu 0,53%, puxado pelos preços dos alimentos e dos combustíveis.
O combate à inflação pelo aumento dos juros, assim como é agora a tal “incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país” propalada pelos representantes do “mercado”, no comunicado do Copom desta terça-feira (6), são engodos encontrados para manter alta a transferência do dinheiro da sociedade para o setor financeiro. No acumulado dos 12 meses até outubro, o setor público transferiu R$ 573,2 bilhões – via pagamento de juros – aos bancos, rentistas e outros especuladores da dívida pública, segundo dados do Banco Central (BC). O montante representa um aumento de 51,51% em relação ao que foi pago de juros pelo governo no mesmo período de 2021, cerca de R$ 378,3 bilhões.