Eleva juros a 9,25%, maior nível em 4 anos. Para Guedes, BC “age certo” arrochando o consumidor e os investimentos
O Banco Central ignorou que o Brasil está em recessão e fez “a coisa certa”, de acordo com o ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, tratando o descontrole inflacionário causado pela política de seu governo aumentando os juros – política absolutamente incompatível com crescimento à medida que arrocha o consumo e elimina a possibilidade de investimentos.
Nesta quarta-feira (8). o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) deu mais uma paulada na economia e elevou a taxa básica de juros da economia (Selic) em 1,5 ponto percentual, de 7,75% para 9,25% ao ano — maior patamar desde julho de 2017.
Desde março deste ano, o Copom já aumentou por sete vezes seguidas a Selic, a pretexto de combater a inflação, tática essa que não tem servido para frear a atual explosão inflacionária brasileira, que está sendo causada, principalmente, por pressão dos aumentos seguidos dos preços dos combustíveis, do tarifaço da bandeira da conta de luz, assim como, da desvalorização do real frente às demais moedas estrangeiras.
Mais da metade da inflação é puxada pela disparada nos preços dos combustíveis, energia e carne, segundo o Instituto Superior de Administração e Economia da Fundação Getúlio Vargas (ISAE/FGV), itens que tem pesado muito no orçamento das famílias, que enfrentam o desemprego, o subemprego e com a renda desabando.
Quando o Copom decidiu aumentar a taxa Selic em 17 de março deste ano, a inflação oficial do país acumulava alta de 5,2%, em 12 meses (até fevereiro). Passados seis aumentos da Selic, a inflação ultrapassou a casa dos dois dígitos, 10,67%, em 12 meses (até outubro), e as expectativas é que ela continue crescendo nos próximos meses.
A atividade econômica brasileira já abatida pelos desatinos de Bolsonaro na pandemia arrefeceu ainda mais com o estrangulamento monetário adotado. A elevação da taxa de juros influencia negativamente no consumo da população e os investimentos do setor produtivo já afetado pela inflação de custo. Ou seja, o aumento dos juros ajudou que o Brasil entrasse oficialmente em recessão, resultado de dois trimestres consecutivos de queda do Produto Interno Bruto (PIB). E o último trimestre do ano já começou com a produção industrial e as vendas do comércio varejista no vermelho em outubro.
Ao comentar o resultado do PIB, Guedes disse que o Brasil estava levantando voo, mas um voo de galinha. Os números do IBGE mostravam uma retração de 0,1% do PIB no terceiro trimestre, depois de cair 0,4% no segundo trimestre, colocando o Brasil em recessão técnica. Ou seja, “o avião do Guedes” está embicando para baixo.
Para a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, “a atividade econômica tem de entrar no radar (do Banco Central). O Brasil ainda tem 13,5 milhões de desempregados e precisa voltar a crescer. O PIB está no mesmo patamar do último trimestre de 2019. Estamos há quase dois anos sem nenhum crescimento, e a população cresce”, afirmou Vitória.
Agora, o sonegador de impostos e dono de uma offshore com R$ 50 milhões nas Ilhas Virgens Britânicas, diz que o BC “agiu mais rápido”. “Vamos controlar (a inflação) antes do que a maioria dos países avançados”, disse hoje em inglês durante um evento.
Para o economista José Luis Oreiro, de fato, a aceleração da inflação é um fenômeno mundial. “Agora, quando falamos do nosso movimento de inflação, temos fatores domésticos que estão por trás dessa maior elevação dos preços no Brasil. Isso vem dos efeitos das medidas do atual governo na política ambiental, nas relações comerciais e no combate à pandemia – que elevaram a percepção de incertezas junto aos investidores internacionais e, com isso, provocaram uma fuga de capitais do Brasil. Tal cenário nos levou a ter uma desvalorização muito forte da taxa de câmbio, o que acabou acelerando a inflação. Outros fatores foram a crise hídrica em 2020, que pressionou a oferta de alimentos negativamente, e o desmonte dos estoques reguladores da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)”.
“No acumulado dos 12 meses, a inflação nos EUA passa dos 6%. Já na área do Euro ela está em torno de 4% – tudo em 2021. Isso se deve, basicamente, à retomada rápida do nível de atividade econômica na China, nos EUA e na Europa, somada com problemas temporários do lado da oferta que foram produzidos pela pandemia da covid-19. Houve também a redução da produção de petróleo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que fez com que o preço do petróleo aumentasse. Tudo isso está causando uma inflação baseada em um fenômeno de choque de oferta, mas cuja expectativa é que seja um problema temporário. Tanto é assim que, ao contrário do que foi feito pelo Banco Central do Brasil, essas instituições simplesmente não moveram suas taxas de juros”, diz o economista em entrevista ao site novovarejo.