
“O nível atual da Selic, que implica taxas de juros reais de 8,5% aa, já tem impactado fortemente a economia, que apresenta desaceleração mais aguda do que a previsão, tanto pela CNI, como por diversos analistas econômicos”, alerta a CNI
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) divulgou nesta quarta-feira (19) que decidiu, por unanimidade, elevar a Selic (taxa básica de juros da economia) em mais 1 ponto percentual de 13,25% para 14,25%, aumentando o arrocho monetário sobre os investimentos e o consumo das famílias, com os lunáticos juros reais, entre os mais altos do mundo. Esse é o quinto aumento consecutivo da Selic desde setembro de 2024.
No comunicado, o BC sinalizou também que vai realizar um novo aumento na Selic em maio deste ano.
Ao criticar a decisão do Copom, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que “o nível atual da Selic, que implica taxas de juros reais de 8,5% aa, já tem impactado fortemente a economia, que apresenta desaceleração mais aguda do que a previsão, tanto pela CNI, como por diversos analistas econômicos”.
O BC quer derrubar o crescimento econômico, os investimentos privados e públicos e a geração de empregos no país a pretexto de conter a inflação no Brasil, que vem sendo causada principalmente por fatores externos, como o aumento pontual de algumas commodities alimentícias no mercado internacional, como café e carnes, por exemplo, além da especulação do próprio dólar – que são elementos que não podem ser afetados pelo aumento dos juros.
Mas ignorando este fato, o Copom demonstra obsessão em derrubar a “resiliência” da atividade econômica e as “pressões no mercado de trabalho” (geração de emprego). Baseado nesses objetivos, o Copom conclui que o momento “exige uma política monetária mais contracionista”.
Desde janeiro deste ano, o Copom conta com a maioria da diretoria e com o presidente do BC indicado pelo presidente Lula. Sem mudança na rota da política monetária do BC, o mercado financeiro espera que a Selic atinja os 15% em dezembro deste ano.
PIB DESACELERA
No último trimestre de 2024, o Produto Interno Bruto (PIB) desacelerou para 0,2% frente ao terceiro trimestre (0,7%), segundo o IBGE. No primeiro e no segundo trimestre de 2024, o PIB variou em alta de 1% e de 1,4%, respectivamente, ajudado pela redução da Selic, que caiu de 13,75% para 10,5%, entre agosto de 2023 e maio de 2024. Ao todo, em 2024, o PIB cresceu 3,4% frente a 2023 (alta de 3,2%). Os PIBs da indústria e de serviços apresentaram variações positivas próximas de zero, 0,3% e 0,1%, na ordem, no período.
Pelo lado da demanda, os juros altos ajudaram no recuo de 1% no consumo das famílias. Além disso, os investimentos (medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo) cresceram apenas 0,4% e o consumo do governo variou em alta de 0,6%.
Segundo o Boletim Macrofiscal do Ministério da Fazenda, divulgado nesta quarta-feira (19), a previsão de crescimento da economia em 2025 é de apenas 2,3%.
De acordo com a pesquisa mensal do IBGE, a produção industrial em janeiro completou quatro meses consecutivos sem crescimento (out/24. -0,2%, nov/24. -0,7%, dez/2024. -0,3% e jan/25. 0,0%). O volume de serviços no país marcou o terceiro mês seguido sem crescimento (nov. -0,9%, dez. 0,0% e jan. -0,2%), Já as vendas do comércio varejista marcou três meses de queda consecutiva (nov. -0,2%, dez. -0,3% e jan. -0,1%).
Para a CNI, “os primeiros dados de 2025 não são animadores”. “Esses dados do PIB, indústria, comércio e serviços evidenciam a forte desaceleração que está em curso na economia brasileira”, ressalta a entidade, “A desaceleração da atividade econômica tende a ser potencializada pelo menor ritmo de expansão da política fiscal e pela desaceleração do mercado de trabalho em 2025”.
GASTOS PÚBLICOS COM JUROS
A cada 1 ponto percentual acrescido no nível da Selic, gera-se um aumento de R$ 50 bilhões na dívida bruta do governo geral ou de R$ 55 bilhões na dívida líquida do setor público, em números arredondados.
No acumulado nos 12 meses até janeiro, o gasto do setor público (União, Estados/município e estatais) com os juros da dívida foi de R$ 910,9 bilhões. Isso significa que a transferência de renda de toda a sociedade – via juros – para bancos, rentistas e demais especuladores da dívida pública foi elevada em R$ 165 bilhões, em relação ao mesmo intervalo de tempo do ano anterior (R$ 745,9 bilhões).