Ao contrário de Lula, que já descartou a absurda meta de déficit zero em 2024, o BC segue pressionando para que o governo corte gastos e estrangule o país para agradar os bancos
O Banco Central (BC) se meteu novamente onde não deve. Disse que o governo Lula tem que manter a meta de déficit fiscal zero para 2024. Além de não ser assunto do banco, Lula já tinha descartado essa meta que, se mantida, levaria a cortes nos investimentos públicos.
Para o presidente da República, dinheiro bom é aquele que é investido em obras e não o que fica no Tesouro para o pagamento de juros.
Em sua ata, divulgada nesta terça-feira (7), o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC defendeu o contrário do que disse Lula e afirmou que dinheiro bom é aquele que é usado para pagar banqueiros. No documento, o Comitê se chocou diretamente mais uma vez com o governo.
Segundo o Copom, “a incerteza fiscal” sobre a execução das metas que haviam sido apresentadas pela pasta da Fazenda no período mais recente cresceu, “em torno da própria meta estabelecida para o resultado fiscal”, disse. Já sobre os juros, item responsável pelo maior gasto do governo, o BC continua com uma redução em conta-gotas.
E aí voltou a se meter na área fiscal, que não é sua praia: “Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas”, diz a ata.
Em outro trecho, o Comitê “avalia que a redução das expectativas requer uma atuação firme da autoridade monetária, bem como o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como do arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira”.
Ou seja, para o Copom, pouco importa o crescimento da economia e a geração de novos empregos de qualidade. Os recursos públicos, dinheiro arrecadado de toda a sociedade, devem seguir sendo transferidos massivamente para os bancos, rentistas e demais especuladores da dívida pública.
Enquanto os juros altos seguem asfixiando a indústria, o comércio, o setor de serviços, as famílias brasileiras afogadas em dívidas e inadimplentes, os gastos do setor público (União, estados/municípios e estatais) com os juros da dívida pública já bateu na cifra dos R$ 689,4 bilhões em agosto de 2023. São 113,8 bilhões a mais do que foi pago nos doze meses até agosto do ano passado (R$ 575,6 bilhões).
ARROCHO NO CRÉDITO
Com a economia brasileira correndo risco em entrar em recessão, com dois trimestres seguidos de queda do Produto Interno Bruto (PIB) no final deste ano, segundo previsões de economistas e instituições de pesquisas, o Copom sinalizou em sua ata uma satisfação com a “desaceleração na concessão de crédito” no país, que “está em linha com a postura de política monetária” do BC.
“Observa-se uma maior desaceleração na concessão de crédito à pessoa jurídica, aliada a uma recomposição envolvendo relativamente menos crédito via setor bancário e mais via mercado de capitais. Prossegue uma heterogeneidade marcada entre os setores produtivos tanto nas taxas de juros de concessão quanto nos próprios volumes concedidos”, prossegue a nota. É o BC comemorando a estagnação da economia.
E continua: “Por sua vez, a concessão à pessoa física exibe menor desaceleração e uma recomposição favorecendo as modalidades de baixo custo. Em que pesem as condições monetárias restritivas, enfatizou-se que já se observa a transmissão do ciclo de política monetária esperada pelo mercado para as taxas correntes de novas concessões”.