
Galípolo acenou com a possibilidade de parar de subir o juros, mas promete manter a segunda maior taxa de juros reais do mundo por um período “bastante prolongado”. Ou seja, para o BC, a asfixia ao país continua
A ata do Conselho de Política Monetária do Banco Central (Copom), divulgada nesta nesta terça-feira (24), confirmou que permanecerá com a Selic em 15% – a maior taxa em 20 anos – por um período “bastante prolongado” e que “não hesitará” em subir os juros novamente, em caso de o governo não ceder à agenda de cortes de investimentos públicos e reformas que reduzam ainda mais os direitos da população.
Na semana passada, contrariando praticamente todas as avaliações, o Copom decidiu elevar o nível da Selic em 0,25 ponto percentual, de 14,75% para 15% ao ano, maior taxa desde julho de 2006. Assim, os juros reais no Brasil chegam a quase 10%. Esses níveis são considerados incompatíveis com investimentos produtivos e só servem para sufocar ainda mais a demanda por bens e serviços no país.
Na ata, o presidente da instituição, Gabriel Galípolo, afirma que o ciclo de aumento do juro base foi “rápido e bastante firme” e espera uma deterioração mais acentuada da atividade econômica nos próximos trimestres como efeito das “defasagens inerentes aos mecanismos de transmissão da política monetária”. Traduzindo para o bom português: o que Galípolo pretende é que a economia se retraia e o desemprego aumente.
“Em se confirmando o cenário esperado (retração da economia), o Comitê antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados”, diz Galípolo, no documento em que enfatiza que “os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado”. Mais uma vez, o BC chantageia o governo e o país para que sejam feitos mais cortes sociais e nos investimentos.
Na ata, o chefe do BC voltou a reclamar que a economia segue apresentando sinais de resistência ao aperto monetário, devido a pressões do mercado de trabalho e ações do governo que atenuam os efeitos negativos dos juros altos sobre a demanda. A desfaçatez é tamanha que a direção do BC não esconde que trabalha pela recessão
“No consumo, a resiliência pode estar relacionada ao próprio dinamismo do mercado de trabalho, que mantém a renda em ritmo de crescimento elevado, e o mercado de crédito, que tem apresentado inflexão, mas ainda está dinâmico. Para os dados mais recentes de atividade econômica, o processo de moderação de crescimento segue ocorrendo, embora de forma bastante gradual”, afirma o Galípolo. Ou seja, não pode haver nada de positivo para os investimentos ou para os trabalhadores, senão os bancos reclamam.
Por fim, o BC segue na contramão do mundo pressionando por “reformas” que visam enfraquecer o papel do Estado, os programas sociais e os investimentos produtivos. O presidente do BC avalia que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal e o aumento de crédito direcionado vem contribuindo para a desconfiança do mercado e defende que o governo Lula deve se ater a “construção da confiança necessária para definir o patamar apropriado de restrição monetária ao longo do tempo”. Como se vê na ata, para Galípolo, o governo deve “recuperar a confiança”, abandonando o povo e defendendo os banqueiros.
O presidente do BC não esconde que seu objetivo é asfixiar ainda mais o país. Ele afirma na ata que a confiança do mercado no governo “passa por assegurar que os canais de política monetária estejam desobstruídos e sem elementos mitigadores para sua ação”. Não pode mitigar o sofrimento do povo. Tem que garantir as centenas de bilhões do Orçamento para os bancos. Para ser mais preciso, este ano os gastos com juros devem atingir R$ 1 trilhão.