O economista Márcio Pochmann fez duras críticas ao Banco Central (BC), no último sábado (29), e classificou o órgão como uma “caixa-preta”.
Na avaliação do futuro presidente do IBGE, “não há justificativa teórica”, mas sim motivação “política”, para a decisão da gestão do BC de permanecer com a Selic inalterada com a inflação em desaceleração.
Na última quarta-feira (26), o ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, divulgou que Pochmann será o novo presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cargo que hoje é ocupado interinamente pelo diretor de pesquisa Cimar Azeredo.
Pochmann é Doutor em Ciências Econômicas e professor titular da Universidade Estadual de Campinas desde 1989.
Citando um estudo feito pelo Banco Mundial, Pochmann afirmou que o levantamento identificou que “os países que têm Banco Central autônomo ou tem independência, eles atuam contra os interesses da maior parte da população”, disse o economista, em entrevista ao Grupo Prerrogativas, o Prerrô.
“Isso fica muito claro, porque países com autonomia do Banco Central têm maior desigualdade do ponto de vista do que ocorre na atividade econômica. Porque o Banco Central autônomo, ele mantém a taxa de juro independente da vontade nacional, diante de um pressuposto teórico que vai alimentar decisões, que de certa maneira são muito contrárias ao senso comum”, afirmou.
“No caso brasileiro”, seguiu Pochmann, “não há justificativa teórica, a não ser uma espécie de postura até mesmo política que faz questionar até que ponto a direção do Banco Central, especialmente o seu presidente… Tudo bem, o Banco Central não é uma expressão eleitoral. Mas a forma com que ele vem atuando no Brasil me parece muito constrangedora, porque não há razão para justificar uma taxa de juros de 13,75%. Nós estamos com a inflação ao redor de 3%, por exemplo. É um absurdo a taxa de juros nesse patamar”, criticou.
Pochmann explicou que os juros altos estão provocando uma “valorização da nossa moeda”, que pode ser até bom para aqueles que vão viajar e importam produtos, mas para atividade econômica do país é prejudicial, já que “quando a nossa moeda se valoriza é mais fácil importar do que produzir internamente, torna mais difícil a produção interna”, disse o economista. “Então, a taxa de juros hoje praticada neste nível, ela é contra o país”.
O economista avalia ainda que o Congresso deveria debater a atuação do BC e rediscutir a autonomia que foi conferida a instituição.
“É uma direção que não consegue entregar as metas pelas quais a inflação deveria estar operando, por exemplo. Tem problema sério, inclusive na contabilidade, recentemente foi divulgado isso. Tem um problema da compra de ouro, ou seja, tem várias questões. “O Banco Central é uma ‘caixa-preta’”, disse. “Não há transparência, não há informações… Isso não é atentar contra o Banco Central, que é uma instituição necessária, é fundamental, eu diria. Mas ela precisa num país democrático ter na verdade transparência, se não é para o público, pelo menos para o Senado, para as autoridades”, defendeu Pochmann.
Além disso, ressaltou Pochmann, “é constrangedor, porque o Banco Central vem praticando já de muito tempo, aquilo que ele chama das ideias ou do pensamento do mercado, que é basicamente gente que trabalha no mercado financeiro, que representa uma parte muito pequena da atividade econômica do país. Então, obviamente, tem problemas estruturais e conjunturais, que o Congresso Nacional deveria ter uma postura adequada”.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, deve ir ao Senado no próximo dia 10 de agosto prestar esclarecimentos aos congressistas sobre os juros altos e a atuação da instituição.
A ida de Campos Neto ao Senado se dará após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, que ocorre nesta terça e quarta-feira (2), para rediscutir (Selic).