Afirma o economista Nelson Marconi
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentou na quarta-feira (5), a taxa básica da economia (Selic) de 2,75% para 3,50% ao ano. Foi a segunda alta consecutiva de 0,75 ponto porcentual este ano.
Ao anunciar a decisão, o BC sinalizou que que vai continuar aumentando os juros e na próxima reunião promover “outro ajuste da mesma magnitude” para 4,25% ao ano.
Para o professor de economia e professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (Eaesp-FGV), Nelson Marconi, “o nível de atividade no Brasil está baixo e vai continuar baixo e elevar a taxa de juros nesse ambiente é dar um tiro de misericórdia na economia”.
A decisão do Banco Central veio no mesmo dia em que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o resultado da produção industrial física nacional, uma queda de 2,4% no mês de março. No dia 30 de abril, na véspera do 1º de Maio, Dia do Trabalhador, o instituto registrava um aumento na taxa de desocupação, com o maior contingente de desempregados desde 2012: 14,4 milhões de brasileiros no desemprego entre cerca de 33 milhões que procuram trabalho e não encontram.
O aumento dos juros ocorre ainda no momento mais crítico da pandemia, com mais de 400 mil vidas ceifadas e a economia capengando em meio às medidas de isolamento social necessárias para conter a expansão ainda maior da Covid.
No comunicado, o BC diz que “com exceção do petróleo, os preços internacionais das commodities continuaram em elevação, com impacto sobre as projeções de preços de alimentos e bens industriais. Além disso, a transição para patamares mais elevados de bandeira tarifária deve manter a inflação pressionada no curto prazo. O Comitê mantém o diagnóstico de que os choques atuais são temporários, mas segue atento à sua evolução”.
“O BC mesmo fala que os choques [de preços] são temporários. Nossos indicadores de retomada não são positivos, olha o desemprego. O faturamento do comércio até subiu um pouco em fevereiro, mas pode ser algo sazonal. Por outro, a produção industrial está caindo”, ressaltou Nelson Marconi, em entrevista ao Valor Econômico.
Apesar de dizer que reconhece os impactos do agravamento da crise sanitária sobre a economia, o Banco Central cita como “risco fiscal” os gastos necessários para o combate à pandemia, assim como a não realização das “reformas” do ministro Paulo Guedes que visam arrochar ainda mais os Estados e Municípios e os servidores públicos, que poderiam, segundo o BC, gerar mais inflação no futuro.
Para Marconi, a decisão no BC está na contramão do mundo. “Os BCs sabem que a economia precisa se recuperar após a pandemia, estão mais cautelosos com taxa de juros”.
Segundo o professor, “a inflação não está disparando, pelo contrário, o próprio IPCA-15 mostrou [o setor de] serviços caindo”. Além disso, a retomada da atividade econômica depende da vacinação. “Então, antes de começar aumentar os juros vamos ver o que vai acontecer com o desemprego e olhar para o comportamento real da inflação”, disse.