A moeda norte-americana iniciou ontem, terça-feira (2), com um leve recuo na primeira hora da abertura dos negócios a R$ 5,03, subiu a R$ 5,06 durante a tarde, e fechou estável em R$ 5,058 após a primeira intervenção do Banco Central (BC) no mercado de câmbio em 16 meses, ou desde dezembro de 2022.
Com o fechamento desta quarta-feira (3) com o dólar a R$ 5,040 ou menos 0,35% e a estabilidade de ontem, a intervenção do BC indica conter preços da demanda aquecida na compra de dólares.
O BC interveio leiloando US$ 1 bilhão em swap cambial (venda de dólares no mercado futuro). Swap (do inglês, “troca”). A operação de hoje não é a mesma dos leilões diários que vêm sendo realizados pelo BC para renegociação dos vencimentos de junho.
O objetivo apresentado pelo banco de leiloar as swaps foi o de atender parte da demanda de dólares gerada pelo resgate de cerca de US$ 3,6 bilhões em títulos públicos NTN-A3, indexados ao dólar, previsto para 15 de abril. O NTN-A3 não é negociado há anos pelo Tesouro Nacional, mas ainda há no mercado algumas instituições que detêm os papeis a serem resgatados se suas carteiras.
A valorização da moeda estadunidense, que aos R$ 5,05 de segunda-feira atingiu a maior marca dos últimos seis meses, no entanto, seria por si só fator que poderia levar o banco a realizar a operação. Apenas nos dois primeiros dias de abril, a moeda norte-americana subiu 0,86%. De janeiro a março deste ano a divisa teve valorização de 4,22%.
Em uma situação de aumento da procura de dólares como a que ocorre, a moeda norte-americana tem um aumento, ou seja, são necessários mais reais para comprar um dólar. Quando o BC faz a swap é o mesmo que injetar dólares na economia, impede que a moeda estrangeira aumente o preço em reais, facilitando quem quer tirar seu dinheiro em dólares do país.
É um “conforto” que, às custas, em última análise, do Tesouro Nacional, o BC dá aos especuladores, que têm a garantia, sem riscos, de sair com lucros para o exterior, independentemente das variações cambiais, assim como com a agilidade que as ações especulativas querem ter.
Parte importante da valorização do dólar no período ocorreu quando o governo federal, como acionista majoritário da Petrobrás, bloqueou a distribuição dos dividendos extraordinários do exercício de 2023, diante da lesiva abundância de dividendos distribuídos nos últimos três anos.
Como retaliação, especuladores internacionais de toda sorte (ou azar) venderam ações da companhia transferindo dólares para outras aplicações no exterior. Ainda que, como parte desse movimento especulativo, houveram vendas em um dia e recompras nos dias seguintes.
Mas a exportação de dólares vem ocorrendo também pelas expectativas, dos capitais que cirandam pelo mundo no Brasil, de manutenção da taxa de juros dos títulos da dívida pública norte-americana. Os juros em patamar mais elevado nos Estados Unidos redirecionam recursos da especulação internacional para o seu mercado de renda fixa, considerado muito seguro.
Com as projeções do corte das taxas do governo norte americano apenas para, talvez, em junho, essas condições se fazem presentes e a busca por dólares no mercado interno deve continuar pressionando.
J.AMARO