Com inflação sob controle, por unanimidade, Selic continua em 10,50% ao ano, 3ª maior taxa de juro real do mundo
O Comitê de Política do Banco Central (Copom) do Banco Central (BC) decidiu manter a taxa básica de juros da economia (Selic) em 10,50% ao ano, nesta quarta-feira (31).
A decisão unânime não só apenas firma o Brasil entre os países com as maiores taxas de juros reais (descontada a inflação) do planeta, mas também sustenta a continuidade do assalto despudorado ao patrimônio público, que se dá via a transferência de recursos públicos para o pagamento dos juros da dívida.
De um ano para o outro, o gasto do setor público com os juros aumentou em R$ 197,6 bilhões, totalizando a marca de R$ 835,7 bilhões, no acumulado de 12 meses até julho de 2024.
Com a decisão do Copom, a taxa de juros reais (descontada a inflação para os próximos doze meses de 3,67%) ficou em 7,36%, segundo levantamento feito pelo MoneYou. Em 19 de junho, última reunião do Copom, a taxa de juro real brasileira estava em 6,79%.
A manutenção da Selic em 10,50% coloca o Brasil no terceiro lugar de maior pagador de juros reais entre as 40 maiores economias pesquisadas pela MoneYou. A média global de juro real ficou em 0,63%.
O Copom interrompeu a redução da taxa Selic na reunião anterior, em junho, o que vinha fazendo a conta-gotas há cerca de uma ano.
Trechos do comunicado sobre a reunião de hoje do Copom deixam claro a decisão de manter o arrocho monetário, em meio à inflação controlada, com o objetivo de impedir o desenvolvimento do país, a geração de emprego e renda, para garantir mais recursos para o sistema financeiro.
“O Comitê, unanimemente, optou por manter a taxa de juros inalterada, destacando o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam acompanhamento diligente e ainda maior cautela“, diz o comunicado do BC.
“A política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno da meta“, diz outro trecho da nota.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria, na véspera da reunião do Copom defendeu a retomada do ciclo de redução dos juros pelo Banco Central. “A indústria é uma das maiores prejudicadas pelo nível das taxas de juros, que dificulta investimentos e a ampliação de capacidade produtiva. No fim, os brasileiros perdem em oportunidades de emprego e aumento de renda, comprometendo o bem-estar da população. Sem reduzir os juros, ficaremos presos nessa armadilha”, afirmou Ricardo Alban.
De acordo com a CNI, além da Selic, o Brasil tem o terceiro maior spread bancário do mundo, de 27,4%, perdendo apenas para o Zimbábue e Madagascar, segundo dados do Banco Mundial. “A discrepância fica ainda mais evidente quando comparamos com o Peru, próximo país economicamente relevante da lista do Banco Mundial, com spread de 7,8%, ou seja, 3,5 vezes menor que o brasileiro”, observa a entidade da indústria em nota.
Não há economia que consiga sustentar crescimento com juros em níveis astronômicos e com essa transferência brutal de R$ 835,7 bilhões via pagamento de juros, de riquezas da população e empresas produtivas nacionais para os bolsos dos banqueiros, rentistas e demais especuladores financeiros nacionais e estrangeiros.
A taxa de investimento do Brasil deve encerrar este ano em 15,9% do PIB (Produto Interno Bruto), segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Essa é 20ª pior taxa entre 170 nações analisadas pela instituição financeira. Em 2023, a taxa de investimento brasileira foi de 16,1% do PIB, a 24º pior taxa do mundo.
A situação do investimento público, principal vetor de atração dos investimentos privados, piora ainda mais com o novo “arcabouço fiscal” e a meta de déficit zero, criadas pela equipe econômica do governo Lula para atender a agenda do sistema financeiro de cortes orçamentários, restrições de melhoria de salários, corte de benefícios sociais e aposentadoria, etc.
Neste mês, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cortou R$ 15 bilhões de 30 dos 31 ministérios, além de emendas parlamentares. Só do PAC – que é o principal programa de obras do governo – foram subtraídos R$ 4,5 bilhões. Haddad ainda propôs um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias no projeto de lei orçamentária de 2025, que será enviado pelo governo em agosto.
Os anúncios destes cortes vieram após forte desvalorização do real frente ao dólar, provocado pela ação de espectadores como forma de pressionar o governo a cortar despesas. Cabe ressaltar que na época do acontecimento deste fato, Gabriel Galípolo, que substituía o presidente do BC, Roberto Campos Neto (em férias no exterior), decidiu por não intervir no mercado de câmbio para barrar os ataques contra a moeda brasileira.
Gabriel Galípolo chegou ao BC por indicação do governo Lula e está cotado como favorito para ocupar a cadeira de presidente do BC, após o encerramento do mandato de Campos Neto, em 31 de dezembro deste ano.
A equipe econômica do governo precisa se afastar dos ideais neoliberais que levaram o Brasil para a estagnação econômica que vivencia nos últimos 10 anos e retomar os olhos para o programa que elegeu o presidente Lula.
Outro passo importante, será colocar na presidência do BC alguém que represente os interesses do povo, do setor produtivo, e não do setor financeiro, como afirma o próprio presidente Lula.
“Eu vou escolher um presidente do Banco Central que seja uma pessoa que tenha compromisso com o desenvolvimento desse País”, disse Lula há algumas semanas, em entrevista à rádio CBN (18/6)”. “Nós temos que pensar também no crescimento. Porque é o crescimento econômico e o crescimento da massa salarial que vão permitir que a gente possa controlar a inflação com tranquilidade”, declarou.