O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, afirmou que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que foi indicado por Jair Bolsonaro, “não ouve ninguém” para tomar a decisão de manter os juros no Brasil como os maiores do mundo. “Parece conclave de papa”, disse.
“Eles têm visão ortodoxa da economia. Não ouvem ninguém. Parece conclave de papa. Quem são eles para fazer isso com a sociedade brasileira? Ali ninguém é santo. O Banco Central é o conclave do Brasil”, afirmou o ministro da Previdência Social.
Em entrevista à revista Veja, Lupi, que é presidente licenciado do PDT, disse que a “autonomia” do Banco Central e o mandato de seu presidente não coincidir com o de presidente da República “cria uma política econômica dissociada da voz das urnas”.
Enquanto o governo eleito aponta que os juros altos impedem investimentos e geram recessão, Roberto Campos Neto não dá ouvidos e decide mantê-los em 13,75%. Na quinta-feira (30), o indicado de Bolsonaro chegou a dizer que “se a gente quisesse atingir a meta em 2023, a última informação que tive é que a taxa teria que ser 26,5%”.
Com 13,75%, o Brasil já tem o maior juro real (quando é descontada a inflação) do mundo.
Carlos Lupi disse que o mandato do presidente do Banco Central “teria que coincidir com mandato do presidente [da República] eleito”.
“No fim do ano o Bolsonaro fez a mudança para esse camarada [Roberto Campos Neto] até o fim de 2024. É como se tivesse ministros de Estado com mandato também”, comentou.
Roberto Campos Neto até fazia parte do grupo de Whatsapp de ex-ministros do governo Bolsonaro, desrespeitando sua posição de “autonomia”.
Ainda na entrevista, o ministro de Lula comentou que os juros altos já fazem com que o gasto com transferência para bancos, através da dívida pública, tenha sido igual ao pagamento da Previdência em 2022.
“Sei que no ano passado foram em média R$ 300 bilhões em gastos anuais com a Previdência e R$ 300 bilhões em juros da dívida interna e externa. Cada um escolhe seu público-alvo, a quem atender”, pontuou.
Outro ministro do governo Lula, Márcio França, de Portos e Aeroportos, também criticou os juros altos durante a semana, denunciando que eles impedem o investimento público e a geração de empregos.
“Cada vez que você reduz 1% do juro, você coloca R$ 60 bilhões a mais em possibilidades de gasto para o governo. Isso significa mais obra, mais emprego”, afirmou o ex-governador de São Paulo.
A ata da decisão do Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central, órgão que delibera sobre a taxa básica de juros, diz que a inflação no Brasil é “movida por excessos de demanda”, o que justificaria os juros altos, que reprimem a demanda. Essa tese é rechaçada por especialistas.
O economista André Lara Resende disse que a inflação no Brasil “não tem nada de demanda, é de desorganização da oferta”.
“É inequívoco que taxa de juros alta comprime, espreme a economia, provocando desemprego e recessão, mas isso não significa necessariamente capacidade de reduzir a inflação. Muito pelo contrário, pode, inclusive se a inflação for de oferta, você pode agravar o problema de insuficiência de oferta e agravar a inflação”, acrescentou o economista.
“A taxa de juros [brasileira] é uma excrescência no mundo, é a mais alta do mundo, a taxa real é o dobro da segunda mais alta, que é a do México e do Chile, e não faz o menor sentido, é completamente estapafúrdia”, completou.